Grávidas com Covid-19 correm mais risco de desenvolver pré-eclâmpsia

Gravidez e maternidade Saúde
12 de Agosto, 2021
Grávidas com Covid-19 correm mais risco de desenvolver pré-eclâmpsia

Uma revisão de estudos publicada por pesquisadoras brasileiras aponta que grávidas com Covid-19 têm mais chance de desenvolver pré-eclâmpsia. A condição é caracterizada pelo aumento da pressão arterial materna durante a gestação (ou, então, no período pós-parto). O trabalho foi publicado na revista Clinical Science.

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Covid-19 e pré-eclâmpsia: Como funcionou o estudo

As pesquisadoras analisaram um conjunto de dados já publicados e concluíram que o coronavírus pode provocar alterações nos níveis de uma enzima presente no organismo. Essa enzima é responsável por converter uma proteína chamada angiotensina 2 (ACE2), que é utilizada por muitos sistemas para regular a pressão arterial. Além disso, a ACE2 tem funções importantes no estabelecimento da circulação sanguínea na placenta e nas adaptações cardiovasculares que ocorrem durante a gestação.

“A partir dos estudos feitos até agora sobre a infecção pelo SARS-CoV-2 em gestantes e sobre o papel da ACE2 na placenta, pode-se afirmar que mulheres grávidas correm mais risco de desenvolver a forma grave da Covid-19 do que as não grávidas. A mortalidade é maior entre as gestantes com a doença. Sendo que o Brasil apresenta uma das maiores taxas de mortalidade por Covid-19 entre grávidas do mundo. Além disso, as gestantes com a doença são mais suscetíveis à pré-eclâmpsia e ao parto prematuro”, afirma Nayara Azinheira Nobrega Cruz, primeira autora do artigo.

“A ACE2 tem um papel adaptativo muito importante no sistema circulatório materno e fetal e na formação da placenta. Porém, por ser também um receptor para o SARS-CoV-2, ela acaba promovendo um risco maior à placenta em quadros de Covid-19, pois o órgão se torna um alvo do vírus, assim como o pulmão, os rins e o coração. Vimos nesse trabalho, contudo, que a resposta varia muito de uma paciente para outra e a manifestação pode se dar de diferentes formas”, diz Mariane Bertagnolli, pesquisadora do CIUSSS-NIM e da Universidade McGill, também no Canadá, que coordena o estudo.

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Transmissão vertical

Com a disseminação mundial do novo coronavírus, surgiram as primeiras evidências de que poderia haver transmissão vertical da mãe para o feto. Isso porque um estudo publicado em fevereiro, realizado por pesquisadores de Taiwan com 105 recém-nascidos, 8,8% testaram positivo para o SARS-CoV-2.

Além disso, um quarto dos bebês nascidos de mães que tiveram Covid-19 confirmada desenvolveram febre, respiração acelerada, falta de ar e vômito. Não foi possível afirmar, entretanto, se os sintomas foram consequência do parto prematuro provocado pela Covid-19 nas mães ou foram causados diretamente pela doença.

Ademais, outras pesquisas encontraram partículas virais em diversas partes da placenta que, em mães contaminadas, apresentaram sinais de inflamação e lesões consistentes com uma má perfusão vascular (fluxo obstruído de sangue nas veias e artérias). Além disso, células imunes que provavelmente indicam contaminação pelo vírus foram encontradas nas placentas.

Fora a presença em si do receptor do SARS-CoV-2 na placenta, as pesquisadoras atribuem o agravamento dos casos em gestantes a uma possível diminuição da ação da ACE2 provocada pela contaminação. Uma vez que utiliza essa enzima como porta de entrada para o organismo, o vírus diminuiria a disponibilidade da molécula. Reduzindo, assim, sua ação protetora na gestação.

“O déficit de ACE2 poderia causar um desbalanço no chamado sistema renina-angiotensina, causando um aumento do peptídeo angiotensina 2, que tem ação vasoconstritora. Desse modo, ocorreria a elevação da pressão arterial das gestantes, que levaria à pré-eclâmpsia”, explica Casarini, coautora do trabalho.

Covid-19 e pré-eclâmpsia

As pesquisadoras ressaltam, porém, a necessidade de novos estudos para determinar com mais precisão as razões da maior suscetibilidade das gestantes à Covid-19 e o papel da doença na pré-eclâmpsia. Para isso, elas estão coletando placentas de gestantes infectadas pelo novo coronavírus para realizar uma série de experimentos e verificar o que realmente ocorre.

Além da pré-eclâmpsia, as cientistas estão interessadas no papel da infecção pelo coronavírus na inflamação e na vascularização da placenta. “Sabemos que as células endoteliais [que formam os vasos sanguíneos] em geral são afetadas pelo SARS-CoV-2. Como na placenta a função delas é promover a vascularização placentária e nutrir esse tecido, existe a possibilidade de a infecção causar má perfusão da placenta e do feto. O impacto disso pode ser uma restrição do crescimento fetal. Mesmo que não ocorra a pré-eclâmpsia, que é uma manifestação mais severa, pode haver essas alterações menos visíveis”, encerra Bertagnolli.

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(Fonte: Agência Fapesp)

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