Corrida em excesso pode causar diversas lesões graves; veja quais
A corrida é uma atividade democrática, que melhora o condicionamento físico, ajuda a emagrecer e, de quebra, traz benefícios para a saúde mental. Não à toa, a modalidade cresce a cada ano, com novos adeptos que buscam uma vida mais saudável. Entretanto, assim como tudo em excesso, a corrida pode causar prejuízos para o corpo se não soubermos usá-la ao nosso favor.
Veja também: Como correr sem parar? Expert dá dicas para evoluir com segurança
Por que corrida em excesso é capaz de prejudicar o corpo?
A maioria dos iniciantes começa a correr sem orientação profissional, fator que pesa bastante no desenvolvimento de lesões crônicas. Por ser um exercício de alto impacto, a corrida pode favorecer inflamações nos músculos e articulações.
Contudo, ela não é a única responsável por provocar problemas, mas precisa de “aliados” para tornar isso possível.
São eles:
- Falta de flexibilidade e mobilidade.
- Musculatura enfraquecida.
- Aumento rápido da quilometragem.
- Falta de descanso adequada.
- Sobrepeso.
- Histórico de lesões.
- Postura incorreta ao correr.
- Ausência de exercícios de aquecimento antes da corrida.
Problemas de saúde que você pode ter ao correr demais
Canelite
Também conhecida como síndrome de estresse do medial tibial, a canelite é uma das “ites” mais comuns entre os corredores. Consiste em uma inflamação que atinge as imediações da tíbia, osso que compõe a nossa canela.
O excesso de treino e a falta de fortalecimento muscular são as razões mais frequentes para esse tipo de inflamação. Afinal, o corpo precisa de um período de adaptação para suportar a carga da corrida.
Condromalácia patelar
Outra lesão que incomoda muitos corredores, a condromalácia patelar é o desgaste da articulação da patela — ou seja, aquele ossinho arredondado localizado na frente do joelho.
Seu principal sinal é a dor na região, que pode ficar mais intensa dependendo do nível de degradação da cartilagem.
A condição pode ocorrer devido a diversos fatores. Por exemplo, movimentos repetitivos do joelho (caso da corrida), excesso de peso, sedentarismo ou traumas prévios no local.
Fascite plantar
Se você corre, provavelmente conhece alguém ou até mesmo já sofreu com esse transtorno. A fascite plantar é nada mais que a inflamação da fáscia dos pés, tecido que recobre os músculos.
Com o impacto da corrida e o movimento em excesso dos pés, a fáscia, que é naturalmente rígida, tende a ficar ainda mais tensa. Na prática, a pessoa tem dores que incomodam ao pisar no chão e até ao fazer uma simples caminhada.
Síndrome do piriforme
O quadro recebe esse nome justamente porque atinge o músculo piriforme, localizado na região do glúteo. Como resultado, o corredor sente uma dor intensa na região dos glúteos e do quadril.
Geralmente, o problema surge quando ocorre um espasmo ou uma contratura na região, podendo ou não comprimir o nervo ciático, que passa bem próximo do músculo piriforme.
Quando ocorre a irritação do nervo, gera dor que irradia para a parte posterior da coxa, causando formigamento e dormência. Além da corrida em excesso, outro gatilho para a síndrome é a musculatura fraca do glúteo.
Pubalgia
Apelidada de “hérnia do esporte”, a pubalgia não é um inconveniente exclusivo de quem pratica corrida de rua. Ela é bem conhecida entre jogadores de futebol e rúgbi, pois causa a inflamação da sínfise púbica, situada na parte frontal da bacia, dos tendões da musculatura reto abdominal e dos adutores (parte interna das coxas).
A princípio, o motivo é a sobrecarga dos tendões e da musculatura afetada, devido à falta de fortalecimento, movimento inadequado e desequilíbrios musculares.
Isso pode ocorrer quando a pessoa tem uma rotina intensa de treinos que não permitem o descanso do corpo e, consequentemente, a recuperação eficaz.
Assim, o indivíduo sente fortes dores na virilha, na parte interna das coxas e no abdômen. Sem falar na dificuldade para fazer o movimento de elevação (um chute, por exemplo). A dor ainda pode irradiar para os testículos e causar imenso desconforto, que costuma cessar com o corpo parado.
Outro exercício bastante doloroso para quem está com pubalgia é o abdominal, sobretudo aquele que força a parte inferior do abdômen. Em casos agudos, até a caminhada pode ser um desafio.
O que acontece quando ignoramos ou não tratamos as lesões corretamente?
Só quem corre sabe como é frustrante se afastar dos treinos por causa de uma lesão ou outro problema de saúde. Contudo, muita gente insiste em continuar correndo na esperança de que as dores desaparecerão com o tempo. “Eis o grande perigo, pois uma inflamação que poderia durar algumas semanas com o repouso à risca acaba demorando meses para melhorar”, comenta Helio Castillo, profissional de educação física e fisioterapeuta.
De acordo com o especialista, lesões causadas por impacto repetitivo têm a probabilidade de evoluir para fraturas por estresse. “Por exemplo, a canelite. Começa com uma dorzinha chata na canela que a pessoa não dá atenção e continua treinando. Com o tempo, o quadro progride para um edema até atingir o osso, levando à fratura”, alerta.
A negligência dos cuidados também pode transformar lesões simples em crônicas, que perduram por anos. “Se a pessoa parasse os treinos por apenas algumas semanas, poderia evitar o desfecho de conviver com episódios de dores que nunca cessam. Mas o corredor costuma ser teimoso”, brinca.
Afinal, dá para prevenir as lesões pela corrida em excesso?
Na avaliação do especialista, a maioria das condições é evitável se houver envolvimento de um treinador de corrida, médicos e fisioterapeutas no processo. “Toda atividade física precisa de aval médico. É fundamental descobrir se há algum quadro que impeça ou limite o exercício. Se estiver apto, o profissional de educação física poderá elaborar um planejamento personalizado”, explica Castillo.
O planejamento precisa considerar diversas variáveis: o nível de condicionamento, se há limitações físicas, sobrepeso e disponibilidade semanal de treinos. “Na prática, uma boa periodização precisa contemplar treinos que viabilizem um progresso saudável, fortalecimento, repouso e alimentação”, afirma.
Por fim, o que muita gente não sabe é a importância da fisioterapia preventiva, com técnicas de liberação miofascial, analgesia e massagens que ajudam a acelerar a recuperação. “Normalmente, procuramos a fisioterapia só quando nos machucamos. Todavia, esse recurso é um aliado de quem corre, principalmente nas fases de aumento do volume para provas maiores. O corpo fica inevitavelmente desgastado, e ter a fisioterapia nesses casos faz toda a diferença”, finaliza.