Consumir probióticos reduz compulsão alimentar após cirurgia bariátrica

Consumir regularmente dois suplementos de probióticos após a cirurgia bariátrica pode beneficiar muito os pacientes. Como resultado, o hábito pode ajudar a diminuir os sintomas de compulsão e vício alimentar um ano depois do procedimento.

A constatação é de uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), feita com pacientes operados no Hospital Irmandade Santa Casa de Curitiba.

Veja também: Mitos sobre o câncer que atrapalham o diagnóstico

Por que consumir probióticos pode diminuir a incidência da compulsão?

A pesquisa foi conduzida pela nutricionista Lígia de Oliveira Carlos, doutora em Medicina Clínica Cirúrgica. Ao todo, participaram 101 pacientes que realizaram a bariátrica pelo método bypass gástrico.

Em outras palavras, a técnica é a uma das principais no Brasil e no mundo, em que reduz o estômago a 10% do tamanho original e parte do intestino é desviada, alterando, dessa forma, a absorção de nutrientes.

Quanto aos probióticos, eles facilitam a formação do que se chama barreira probiótica no intestino. Assim, evita-se o desenvolvimento de bactérias nocivas para a microbiota.

Diversos estudos já mostraram os benefícios de se consumir probióticos, pois eles podem prevenir doenças variadas, principalmente as do trato gastrointestinal.

Além disso, segundo Lígia, pesquisas também apontaram que algumas cepas de probióticos (normalmente do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium) têm ação no sistema nervoso.  Consequentemente, possuem efeito antidepressivo e ansiolítico.

Assim, diz a nutricionista, surgiu a ideia de estudar se o uso desses probióticos teria algum efeito na redução dos sintomas de vício, dependência alimentar e transtorno da compulsão em pacientes da bariátrica.

“Já haviam outras pesquisas na universidade avaliando o efeito dos probióticos no aspecto clínico dos pacientes. Por exemplo, na perda de peso, de percentual de gordura corporal, na redução da circunferência abdominal. Mas havia uma lacuna no efeito dessa suplementação no eixo intestino-cérebro. Decidi investigar se também havia algum impacto nas questões psiquiátricas”, explica Lígia.

Como o experimento foi feito?

Os pacientes se dividiram em dois grupos: um recebeu suplementação de probiótico (Lactobacillus acidophilus e Bifidobacterium lactis), enquanto o outro ingeriu placebo. Ambos iniciaram o consumo no sétimo dia de pós-operatório, até completar 90 dias de procedimento.

De acordo com Lígia, todos os participantes receberam acompanhamento no pré-operatório e no pós-operatório aos 90 dias e 1 ano após a cirurgia. Além disso, todos responderam a questionários para avaliação de vício ou compulsão alimentar.

Segundo o estudo, antes da cirurgia, 1/3 dos pacientes se enquadrava nos critérios diagnósticos de dependência ou compulsão alimentar. Ou seja, um número alto, mas esperado entre essa população com obesidade que aguardava a cirurgia bariátrica.

Os pacientes responderam a mesma bateria de perguntas 90 dias depois do início do uso dos suplementos e repetidos após um ano.

“Reaplicamos o questionário e nos primeiros 90 dias observamos uma redução drástica nos sintomas. Mas isso já era esperado, pois no início do pós-operatório o paciente bariátrico não pode nem consegue comer muito. Então, não podemos dizer que foi efeito dos probióticos”, comenta a nutricionista.

Após 90 dias, os pacientes interromperam o consumo dos probióticos e voltaram para avaliação um ano após a cirurgia. “Observamos uma redução nos sintomas de vício e compulsão muito significativa em comparação com o grupo que recebeu placebo. Esses resultados abrem um caminho para outros estudos sobre o tema”, disse.

Apesar dos resultados positivos, a autora ressalta que consumir probióticos não é o mesmo que ingerir alimentos com probióticos – como iogurtes com lactobacilos vivos.

A nutricionista diz ainda que não é qualquer probiótico que produz esse efeito e nem qualquer pessoa que poderá se beneficiar. Por isso, é importante ter a recomendação de um profissional especializado.