Como ter uma rotina saudável de verdade (e sem pirar)?
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Basta entrar nas redes sociais para se deparar com milhares de pessoas compartilhando um lifestyle saudável – tudo que eu como em um dia, divisão de treinos, calorias, bulking, cutting, e assim por diante. Não existe problema em cultivar esses hábitos, muito pelo contrário… Mas enquanto algumas pessoas usam esse conteúdo como incentivo, outras se sentem pressionadas a seguir o mesmo script e testam estratégias mirabolantes para atingir o “corpo ideal”. Somado à cultura da dieta, essa é a mistura perfeita para distanciar as pessoas de um entendimento seguro de como ter uma rotina saudável.
Muriel Depin, nutricionista especializado em transtornos alimentares e criador do perfil @obarrigapositiva, explica que existem vários comportamentos disfuncionais associados, de maneira equivocada, a uma vida fitness.
Segundo ele, o que justifica esse movimento é a busca pelo corpo magro a qualquer custo.
“As pessoas acreditam que a magreza por si só é o ápice da saúde. Então, vale tudo para chegar lá”.
A boa notícia é que é possível cultivar hábitos saudáveis sem precisar se maltratar. Mas em primeiro lugar, é importante fugir de algumas armadilhas que o mundo ‘fit’ nos fez acreditar serem saudáveis.
Parece saudável, mas não é
Contar calorias
Os alimentos não podem ser vistos como meros amontoados de calorias. Ter mais ou menos calorias não é o que determina se um item é bom ou não para a saúde. Diversos outros elementos precisam ser considerados na hora de fazer essa análise.
Caso contrário, um refrigerante zero, por exemplo, poderia ser considerado mais saudável do que um suco natural, já que possui zero calorias. Mas não é tão simples assim. Nutrientes, vitaminas e minerais também precisam entrar nessa conta.
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“É uma preocupação excessiva que, geralmente, causa muita culpa. Então como é que isso pode ser saudável?”, indaga o profissional.
Além disso, o nutricionista lembra que um dos sintomas mais clássicos de quem possui anorexia nervosa é decorar as calorias de todos os alimentos que ingere.
Excluir totalmente algum alimento ou grupo alimentar
Aqui, Muriel reforça que nenhum alimento isolado tem o poder de fazer uma pessoa engordar ou emagrecer. Assim, não é funcional cortar alimentos de forma indiscriminada do cardápio – a não ser que haja razões médicas para isso.
Os carboidratos, por exemplo, são muito temidos por quem deseja emagrecer. Mas vale lembrar que eles são um dos macronutrientes mais essenciais para o funcionamento do organismo e também dão energia para que a gente consiga realizar todas as tarefas diárias – além de ter uma boa performance nos treinos.
Fazer exercício em excesso
Principalmente depois de momentos de festividade em que, geralmente, há um consumo maior de alimentos palatáveis ou calóricos, existe uma ideia de compensar a ingestão atípica com mais exercícios físicos.
Realizar atividade física com frequência e constância é um hábito importantíssimo para a saúde do corpo e da mente. Só que utilizá-lo, em excesso, como uma forma de reparação não é uma boa ideia.
Muriel lembra de alguns pacientes que começaram a passar horas e horas na academia ou frequentá-la até 3x por dia. “Teve uma que estava com o pé quebrado e foi correr”, conta.
Essa desproporção, segundo ele, acontece justamente pelo medo desmedido de engordar.
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Imitar a alimentação de outras pessoas
Em terra de TikTok e Instagram, é difícil não ser influenciado a seguir um treino, uma receita ou até mesmo toda a dieta de alguma blogueira. Principalmente quando vemos que aquela pessoa atingiu mudanças reais no corpo (as quais queríamos para nós mesmos).
Mas Muriel já adianta: “Cada organismo é único. Não é porque determinada pessoa come de uma forma que se você comer da mesma forma vai atingir aquele corpo. Precisamos lembrar que existe a genética”.
Leia também: TikTok contribui com a perpetuação da cultura da magreza
Como ter uma rotina saudável?
Por existir um grande reforço das pessoas em geral, das redes sociais e até de uma parcela de profissionais da saúde, muita gente realmente acredita estar se aproximando de uma vida saudável ao tomar essas decisões.
Mas em outros casos, mais extremos, há o reconhecimento de uma atitude não saudável, por exemplo fumar para não sentir fome, e a repetição desse comportamento mesmo assim. Nesses casos, o perigo é ainda maior. Por isso, é sempre importante observar e procurar ajuda profissional quando necessário.
E para realmente construir uma rotina saudável, Muriel recomenda mudanças simples. No que diz respeito à alimentação, que é sua especialidade, ele indica trocar a palavra “excluir” por “incluir”.
“Em vez de ficar pensando em tirar o refrigerante e o doce, por exemplo, vamos pensar em incluir mais água, mais verdura, mais vegetal. Incluindo esses alimentos mais caseiros e não industrializados, naturalmente vamos deixar de comer outras coisas”, defende.
Além disso, quanto mais variedade, melhor. Um bom exercício é fazer aquela brincadeira da infância de contar quantas cores têm no prato. Além disso, buscar não comer os mesmos alimentos todos os dias é mais interessante para conseguir um aporte de nutrientes maior.
Em resumo, a melhor forma de ter uma rotina saudável é simplificar mais. Ser equilibrado e ponderado na hora de decidir o que comer, quanto treinar e quem seguir nas redes sociais.
“A gente precisa se aproximar mais dos alimentos. Esse é um caminho possível e realmente saudável”, finaliza.
Fonte: Muriel H. Depin, nutricionista especializado em transtornos alimentares pelo Ambulim (Programa de Transtornos Alimentares) do IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), membro do conselho técnico da ASTRALBR (Associação Brasileira de Transtornos Alimentares) e criador do @obarrigapositiva.
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