Chocolate dá mesmo espinha? O que a ciência diz sobre o assunto controverso
A proximidade da páscoa geralmente traz um tema que costuma ser muito debatido: a relação do chocolate com o aparecimento de espinhas na pele. De um lado, muitas pessoas – e até profissionais da saúde – sacramentam que ‘só de olhar’ um ovo de páscoa, a acne teima em aparecer; de outro, aqueles que enfatizam que não existe relação. Então, a dúvida que fica é: Chocolate dá mesmo espinha? Continue lendo e entenda.
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Chocolate dá mesmo espinha? Entenda o que a ciência diz
De acordo com a dermatologista Cintia Guedes, se alguém perguntar se chocolate dá espinha ou não, a resposta mais correta e cuidadosa seria: depende. A lista de ingredientes do produto, a predisposição individual, o contexto alimentar, tudo isso influencia na formação de espinhas.
“É claro que, se um adolescente com maior predisposição à acne comer um ovo de chocolate ao leite e recheado com creme de avelã inteiro, muito provavelmente verá o surgimento de espinhas ou o agravamento do quadro acneico. No entanto, se o chocolate for amargo, essa probabilidade diminui consideravelmente”, explica a médica.
Contudo, vale reforçar que o contexto alimentar também importa: “Alimentos com índice glicêmico mais alto podem piorar a acne”, acrescenta a médica. Segundo uma revisão publicada no International Journal of Dermatology que analisou estudos científicos sobre o tema, os fatores promotores da acne incluem alimentos com alto índice ou carga glicêmica, como os alimentos ricos em açúcar e gordura, enquanto os fatores protetores da acne incluem ácidos graxos, ingestão de frutas e vegetais.
“O papel desempenhado por componentes dietéticos específicos pertencentes a diferentes alimentos, como leite, produtos lácteos ou chocolate, permanece uma questão não resolvida e objetivo de pesquisas futuras”, concluiu o estudo.
Chocolate dá espinha? Confira a lista de ingredientes
De acordo com a dermatologista, para responder adequadamente à pergunta sobre a relação do chocolate com a acne, é necessário observar atentamente a lista de ingredientes do produto. O cacau em si é um alimento extremamente benéfico e que não está relacionado ao surgimento ou piora da acne, pelo contrário: esse ingrediente é um aliado da saúde e da pele. Como um poderoso antioxidante que ajuda a promover luminosidade e hidratação, o cacau contém flavonoides, fitonutrientes com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que auxiliam na proteção aos danos dos raios UV, prevenindo as rugas e combatendo os radicais livres. Isso ajuda a deixar a pele mais brilhante e saudável, afirma a dermatologista. “No entanto, as versões com maior porcentagem de cacau não agradáveis ao paladar mais doce”, acrescenta.
Como o cacau é de gosto amargo, a indústria adiciona açúcar e gorduras para deixá-lo mais palatável. “E alimentos ricos em gorduras, açúcares e hidratos de carbono, como os chocolates ao leite e branco, têm alto índice glicêmico. Muitos estudos sugerem que a alta carga glicêmica na dieta habitual está envolvida com a ocorrência e gravidade da acne em pacientes predispostos, na medida em que favorece o aumento da secreção sebácea e desenvolvimento de acne. A gordura e o leite presente em chocolates podem colaborar também para o agravamento do quadro”, explica a dermatologista.
Além disso, comer um ovo de páscoa de uma vez pode gerar picos de açúcar no sangue. Portanto, para manter a pele sem complicações com acne é necessário, então, ingerir o chocolate com moderação. “Nenhum alimento é proibido, mas deve ser consumido com bom senso e orientação. Assim, quando a acne está em atividade inflamatória e infecciosa, recomendamos o consumo de pequenas doses”, afirma.
Tipos de chocolate
Abaixo, a médica Cintia Guedes explica as peculiaridades de cada chocolate:
Chocolate amargo, meio-amargo ou Ruby (rosa)
Chocolates com mais de 50% de cacau e o padrão ouro (com mais de 70%) fornecem os benefícios antioxidantes dos flavonoides do cacau e podem ser ricos em vitamina C, vitamina E, cálcio, fósforo, ferro, potássio e sódio, micronutrientes que também são importantes para a pele. “Essa é a realmente a melhor opção, já que traz menos quantidade de carboidratos e açúcar, além de contar com ação antioxidante e anti-inflamatória. As versões deste chocolate com oleaginosas trazem mais benefícios e nutrientes, principalmente para pacientes com pele seca”, diz.
Assim, o chocolate Ruby (rosa), que também tem alta concentração de flavonoides, da mesma forma traz benefícios para a pele. Porém, a dermatologista indica evitar excessos, 30g ao dia é o recomendado – portanto um ovo de 200g de chocolate pode ser consumido, em média, em uma semana.
Chocolate ao leite e branco
Apesar de não serem proibidos, o ideal é evitá-los ou consumi-los com moderação, pois possuem mais gordura e açúcar. “Pacientes de pele oleosa devem evitar também esse tipo de chocolate principalmente se ele ainda tiver amendoim e castanhas, que trazem mais gorduras saturadas (e muitas vezes mais açúcar) para a pele e as glândulas serão as responsáveis por excretar este acúmulo de gordura”, diz a Dra. Cintia.
Ovo de páscoa de colher ou recheados
As opções mais calóricas concentram mais açúcar e gordura ainda, já que os recheios são semelhantes aos de um bolo. “O melhor é ingerir com parcimônia e aos poucos, para evitar picos de glicemia no sangue, piorando o processo inflamatório na pele”, diz a Dra. Cintia.
Chocolate sem cacau (cobertura)
Recentemente, muitas marcas passaram a substituir o chocolate (que precisa ter no mínimo 25% de sólidos de cacau na formulação) por cobertura fracionada (que pode ter menos de 25% de sólidos de cacau) nas preparações de ovos de páscoa e barras de ‘chocolate’. “Esse chocolate que não é chocolate, na verdade, traz em sua composição uma mistura de gorduras, que são hidrogenadas. Assim, o alimento fica com menor valor nutricional, já que perde as propriedades do cacau e fica descompensado, com mais gordura e açúcares, o que favorece a inflamação na pele com acne”, diz a médica.
Chocolate com licor
As opções de ovos de páscoa que contam com licor podem ser ainda mais perigosas para a pele. Além da acne, podem ajudar a inflamar o tecido. “O álcool é um carboidrato de alto nível glicêmico. E como todo carboidrato, quando em excesso, realiza um processo de glicação, o qual impacta diretamente na beleza da pele e dos cabelos. A glicação é um processo químico no qual o açúcar em excesso no organismo se liga às proteínas, como o colágeno e a elastina, fazendo com que se tornem rígidas e percam sua função de maneira irreversível”, diz a dermatologista Dra. Lilian Brasileiro.
“O álcool também promove uma desidratação intensa na pele, deixando ela desvitalizada e, por outra via, ele aumenta a produção de sebo cutâneo de má qualidade, refletindo em uma pele desvitalizada”, acrescenta a Dra. Lilian.
Se o chocolate der espinha, o que fazer?
Por fim, a médica Dra. Cintia enfatiza que, ao notar o surgimento do quadro acneico, o mais importante é visitar um dermatologista que poderá realizar uma avaliação da pele e identificar a causa do problema para indicar o tratamento mais adequado para o seu caso.
“Assim, apenas o profissional especializado poderá indicar substâncias específicas para dar fim à acne, como os retinóides, que desobstruem os poros, aceleram a renovação celular e reduzem a oleosidade, o ácido salicílico, que combate a inflamação, e o peróxido de benzoíla, que tem ação secativa para combater a bactéria P. Acnes. Ou então indicar medicamentos orais como a isotretinoína”, finaliza a dermatologista.
Fontes:
Dra. Cintia Guedes, médica dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
Dra. Lilian Brasileiro, médica especialista em Dermatologia, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.