Bactéria da gastrite é resistente aos três antibióticos mais usados

Saúde
15 de Fevereiro, 2022
Bactéria da gastrite é resistente aos três antibióticos mais usados

A bactéria da gastrite, também causadora de doenças como a úlcera péptica e o câncer de estômago, se mostrou resistente aos três principais antibióticos usados no tratamento da infecção, segundo estudo realizado pela Universidade do País Basco, na Espanha. Chamada de Helicobacter pylori, ou apenas H. pylori, a bactéria é conhecida por se fixar na mucosa gástrica. Além disso, ela sobrevive no estômago humano indefinidamente, a menos que seja tratada.

No estudo, os pesquisadores analisaram, primeiramente, os três principais medicamentos usados contra a H. pylori. Eles perceberam uma resistência contra todos – de 20% a 30% em média, índice considerado muito alto e que preocupa os especialistas. Desse modo, essa alta resistência, segundo a pesquisa, estaria associada ao uso indiscriminado e, muitas vezes indevido, dos antibióticos. São eles: metronidazol, levofloxacina e claritromicina.

Para chegar a esses resultados, foram analisadas mais de 4 mil amostras de tecido estomacal dos pacientes que tinham a bactéria da gastrite, retiradas a partir de biópsia. Neles, foram identificadas resistência de 20% contra a levofloxacina, 25% contra a claritromicina e 30% contra o metronidazol. Além da Espanha, o estudo envolveu outros países da Europa, como Itália, França e Noruega, e os resultados foram publicados no periódico científico Antibiotics.

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Realidade brasileira

O Brasil segue o padrão internacional de tratamento com o uso desses três antibióticos, mas não atingiu os níveis de resistência observados no estudo, de acordo com Décio Chinzon, presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) e professor assistente da disciplina de gastroenterologia clínica da Faculdade de Medicina da USP.

“Ainda não chegamos ao ponto de o uso desses remédios se tornar proibitivo, como aponta esse estudo. Esses níveis de resistência são extremamente preocupantes. Pelo nosso consenso, se houver resistência acima de 15%, já é recomendado trocar o antibiótico”, afirma.

De acordo com o especialista, o maior risco será quando não houver mais alternativas de classes de antibióticos que sejam eficazes. “Se chegarmos a 30% de resistência, o medicamento fica queimado, não dá para ser usado. Além disso, existem outras classes de antibióticos, algumas nem disponíveis ainda no Brasil. Contudo, o preço costuma ser mais alto e o tratamento se torna muito caro”, explica.

O professor alerta também para os efeitos colaterais do uso prolongado de antibióticos e a interrupção do tratamento, o que aumenta o risco da resistência bacteriana. “Antes, o tratamento era de sete dias. Em razão da resistência, alteramos para 14 dias. Mas isso aumenta os efeitos colaterais, como náuseas e vômito. O paciente interrompe o tratamento e isso se torna um grande problema”, destaca.

Chinzon ressalta a importância da conscientização das pessoas sobre o uso correto dos antibióticos. “A média de sucesso hoje em dia no tratamento é de 80%, mas já chegou a ser de 95%. Esse índice caiu por causa da resistência bacteriana. Precisamos voltar aos 95%.”

Leia também: Gastrite por H pylori: sintomas, tratamentos e causas

Bactéria da gastrite

Transmitida por via oral, o contato com a bactéria H. pylori costuma ocorrer, sobretudo, nos primeiros anos de vida. “Ela é uma bactéria que habita o nosso organismo há muito tempo. O diagnóstico normalmente acontece por meio da endoscopia, após surgimento de sintomas gástricos, como dor, queimação, sensação de estufamento”, explica Chinzon.

Estima-se que a bactéria da gastrite afete ao menos 40% da população mundial. Ela é a responsável por diversos problemas digestivos, desde os desconfortos gástricos mais comuns (gastrite) até mesmo úlceras gástricas e duodenais, câncer do estômago e um tipo de linfoma (Malt) – por isso ela é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um agente carcinogênico. Mas, segundo Chinzon, a maioria das pessoas convive sem apresentar sintomas.

“Uma vez instalada no estômago, a H. pylori provoca um processo inflamatório. Nem todo mundo vai desenvolver os sintomas. O problema é que a relação dessa bactéria com o surgimento de um câncer é muito forte, por isso é importante diagnosticar e tratar”, diz o especialista. Ainda segundo Chinzon, um estudo feito pelo Hospital das Clínicas com uma população sem nenhum sintoma gástrico apontou que 67% delas tinham a presença da H. pylori no estômago.

(Fonte: Agência Einstein)

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