Apneia do sono em crianças: saiba o que é e como identificar

Bem-estar Sono
26 de Setembro, 2023
Apneia do sono em crianças: saiba o que é e como identificar

Se o seu filho ronca, tem o sono agitado, dificuldade de concentração e mau desempenho escolar, alterações de humor e passa o dia agitado? Fique atento, ele pode estar com apneia obstrutiva do sono, um distúrbio bem menos prevalente nas crianças do que nos adultos, mas que se não for diagnosticado e tratado adequadamente, pode causar problemas de saúde, como elevação da pressão arterial e riscos de doenças cardiovasculares, e até afetar o crescimento da criança. Por isso é importante que os pais estejam atentos, para que o diagnóstico seja feito o quanto antes.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), estima-se que cerca de 10% das crianças roncam e, dessas, de 1% a 3% têm apneia e um sono de baixa qualidade. Em adultos, esse número ultrapassa os 30%. 

Mas o que é a apneia obstrutiva do sono?

 “São pausas respiratórias recorrentes que ocorrem enquanto a pessoa dorme, bloqueando a passagem do ar para os pulmões. A pessoa para de respirar um pouquinho e volta. Para e volta”, explicou Leonardo Goulart, neurologista especialista em medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein.

Veja também: Apneia do sono: o que é, sintomas, causas e tratamento

Fatores de risco e sintomas

A obesidade não é o único quadro que predispõe a distúrbios respiratórios durante o sono, como a apneia obstrutiva. O aumento das amígdalas e até a estrutura facial da criança podem promover a doença. Ademais, a AHA inclui rinite alérgica, baixo tônus muscular, distúrbios neuromusculares e doença falciforme.

A entidade ressalta que o risco de distúrbios do sono cresce em crianças que nasceram prematuras. Isso se deve ao atraso no desenvolvimento do controle respiratório e ao menor tamanho das vias aéreas superiores. No entanto, a probabilidade diminui à medida que os meses passam.

Apneia do sono em crianças: Consequências

Goulart explica que a interrupção recorrente da respiração durante o sono tem duas consequências básicas: a primeira é que a oxigenação do sangue fica oscilando, o que coloca o cérebro em alerta. Ao entrar em alerta, o cérebro provoca micro despertares, interrompendo o sono. Uma das várias consequências sistêmicas desse fenômeno pode ser a redução da produção do hormônio do crescimento – o que pode afetar o crescimento adequado da criança. 

“Essa é uma das questões importantes porque a apneia do sono reduz os níveis do hormônio do crescimento. Tem muitos estudos sobre isso em adolescentes, mas ao tratar a apneia os níveis voltam ao normal”, afirmou o neurologista.

A segunda consequência das constantes pausas na respiração é que o sono se torna insuficiente por ficar muito fragmentado, causando os impactos no dia seguinte, como as alterações de comportamento, irritabilidade e déficit de aprendizado. 

“Além disso, um outro impacto importante da apneia do sono, que é mais estudado em adultos, mas pode ter impacto em crianças, é a alteração metabólica, com disfunção de hormônios que coordenam o nosso metabolismo, regulam a fome e o armazenamento de gordura. Isso pode levar ao sobrepeso, obesidade e outras alterações”, alertou o médico.

Pressão alta

De acordo com uma declaração científica da Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês), a apneia em crianças e adolescentes tem o potencial de aumentar a pressão arterial e está associada a alterações na estrutura do coração, o que afetaria a saúde cardiovascular com o passar do anos.

De acordo com a associação, o nível de pressão arterial fica cerca de 10% mais baixo enquanto dormimos. Contudo, jovens com apneia obstrutiva do sono exibem uma menor redução, o que abre as portas para a hipertensão no futuro. Além disso, o distúrbio favoreceria a elevação de triglicerídeos e pressão arterial, além de reduzir as taxas de HDL, conhecido como colesterol bom.

O excesso de peso está entre os principais fatores de risco para a apneia obstrutiva do sono. Isso porque cerca de 60% dos adolescentes com obesidade apresentam o quadro, aponta a AHA.

“A gravidade da apneia pode ser reduzida com o emagrecimento. Precisamos reconhecer os distúrbios respiratórios do sono como algo que pode contribuir para a hipertensão e doenças cardiovasculares”, alerta, em um comunicado à imprensa, Carissa Baker-Smith, cardiologista que liderou a criação da declaração.

Diagnóstico

O diagnóstico da apneia é geralmente clínico, mas em alguns casos específicos ele pode ser corroborado pela polissonografia (exame que avalia a qualidade do sono). “[O diagnóstico] Costuma demorar mais tempo do que deveria, mas, cada vez mais, o conhecimento em medicina do sono está se tornando comum na prática médica. Hoje em dia, os pediatras costumam perguntar sobre a qualidade do sono da criança na consulta. O diagnóstico está mais evoluído, mas ainda precisa ficar mais rápido”, pondera Goulart.

Leia também: Ronco em crianças: 9 sinais de que seu filho respira pela boca

Mudanças estruturais para tratamento

O tratamento da apneia na criança é basicamente estrutural. Num primeiro momento, se a criança estiver obesa, perder peso pode ser efetivo. Mudar a posição de dormir também pode ajudar (colocar o filho para dormir de lado e não de costas). Se essas ações não funcionarem, pode ser preciso intervir com cirurgia de remoção das amigdalas e da adenoide (quando for o caso) ou o uso de CPAP (equipamento que empurra o ar para os pulmões por meio de uma máscara ajustada no nariz durante a noite, evitando que ocorram as pausas de respiração no sono).

“Na criança o desenvolvimento facial e o crescimento por si só podem ajudar a diminuir a apneia. Então, o uso do CPAP costuma ser por pouco tempo e logo a criança melhora. A diferença é que o adulto não consegue usar o equipamento por um curto período porque ainda não existe uma outra solução”, ressaltou o neurologista.

Gibi Dona Ciência, dedicado ao sono, pode ajudar na conscientização

Para ajudar os pais e as crianças a identificarem o problema, o Instituto do Sono, com apoio da AFIP (Associação Fundo de Assistência à Pesquisa), lançou uma edição no gibi Dona Ciência dedicado ao assunto. A revista tem como objetivo fornecer material de divulgação científica com linguagem simplificada de forma lúdica, com foco especial nas crianças, mas não apenas para elas.

“No Dona Ciência falamos de vários temas da atualidade: vacina de covid, higiene bucal, amamentação. E também falamos da importância do sono, que ocupa um terço das nossas vidas”, afirmou Monica Levy Andersen, diretora de Ensino e Pesquisa do Instituto do Sono e idealizadora da coleção.

A SBPT listou alguns sinais para que os pais observem nos filhos:

  • Ronco, que pode ou não ser alto, mas que ocorre todas as noites
  • Respiração barulhenta, que piora quando a criança está deitada de costas
  • Pausas respiratórias e quando a respiração se reinicia, muitas vezes é com um ronco alto
  • Dificuldade de respirar pelo nariz
  • Dormir de boca aberta (pode ocorrer de ficar de boca aberta durante o dia)
  • Agitação durante a noite, com mudanças na posição de dormir
  • Urinar na cama, principalmente se a criança já tinha prévio controle.

“Sempre que o sono da criança for agitado e com barulho, ele precisa ser avaliado por um profissional. Nenhum ronco é normal. Todo barulho, se for recorrente e ocorrer de três a quatro vezes por semana, deve servir de sinal de alerta para que os pais procurem ajuda especializada”, finalizou a otorrinolaringologista Sandra Dória, especialista em medicina do sono e pesquisadora do Instituto do Sono.

Fonte: Agência Einstein

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