Veganismo popular: é possível tirar a carne sem gastar muito?
Comemora-se em 1 de novembro o Dia Mundial do Veganismo. A data, que nasceu em 1994 na Inglaterra, tem como objetivo celebrar o movimento que incentiva o consumo de produtos que não tenham origem animal. Além disso, também dá maior visibilidade para as pautas defendidas pelo grupo adepto a esse estilo de vida. Apesar de atingir cada vez mais pessoas, o movimento ainda é considerado elitista por alguns. Isso porque alimentos industrializados veganos possuem preços elevados, e existe uma parcela da população com menor poder aquisitivo que não tem a oportunidade de escolher os alimentos que consome. O veganismo popular vem como um contraponto e defende a ideia de que é possível ser adepto ao movimento de forma acessível.
“Para o veganismo popular não existe hierarquia de poder entre as espécies de seres vivos no mundo”, explica a nutricionista ecológica Bruna Crioula, criadora da empresa Crioula – Curadoria Alimentar, financiada por meio do Clube de Assinaturas Crioula.
De acordo com a profissional, o veganismo popular tem como princípio a relação harmônica entre os seres humanos e os demais seres no planeta. Dessa forma, não há espaço para a exploração e o consumo de animais ou de produtos provenientes deles. “O veganismo popular luta contra a exploração contínua e permanente existente entre seres humanos pobres e racializados e outras espécies de animais”, diz.
Como o veganismo popular funciona na prática?
Bruna reforça a importância de olhar para o contexto que se vive antes de defender uma pauta. No Brasil, de acordo com relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 60 milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar. Assim, ela destaca, primeiramente, a importância de se discutir políticas públicas no combate desse cenário para, então, trazer o veganismo popular como um movimento possível.
Assim, ela explica que, em termos nutricionais, é possível tirar a carne e outros produtos de origem animal do prato sem gastar muito e, sobretudo, sem prejudicar a saúde, desde que haja garantia de que haverá acesso às quantidades adequadas de alimentos com qualidade comprovada.
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Alimentos
A nutricionista destaca, principalmente, o consumo de alimentos com base agroecológica, coletados em áreas urbanas ou cultivados em hortas comunitárias.
Os irmãos Eduardo e Leonardo Santos criaram o perfil Vegano Periférico nas redes sociais. Por meio da conta, eles compartilham as suas refeições e defendem um veganismo popular e acessível.
Geralmente, eles apostam na combinação de arroz e feijão, junto com verduras, legumes e frutas, além de alguma proteína, como soja, lentilha ou grão-de-bico.
“Quando nos tornamos veganos, não tínhamos opções industrializadas sofisticadas e nem conseguíamos comer isso, então, a nossa opção foi consumir alimentos da feira, e sem dúvida foi a melhor coisa que fizemos. Com isso passamos a nos alimentar bem melhor, a economizar, aprendemos a fazer bastante coisa, entre elas leites vegetais, hambúrgueres, bolinhos vegetais, pão caseiro, entre outras coisas. Sempre tentamos ao máximo preparar o que a gente come pra economizar, e olha que sempre estamos na correria. É real, ser vegano é a coisa mais barata que tem”, escreveram em uma publicação.
Benefícios do veganismo popular
Acima de tudo, o veganismo está associado a um consumo mais sustentável e uma relação menos exploratória do meio em que se vive. “Reduzir o consumo de animais na alimentação contribui para a mitigação de impactos ambientais importantes como o aumento de desmatamento e perda da biodiversidade dos biomas brasileiros”, exemplifica a especialista.
Além disso, tal alimentação incentiva o contato com produtos sazonais e de produtores locais. “Amplia nossas possibilidades alimentares com variedade, o que é qualitativamente importante para uma alimentação saudável”, reforça.
Por fim, Bruna defende a ideia de que a alimentação saudável não se resume a uma boa combinação quantitativa de nutrientes. “Um alimento é muito mais do que um veículo para transferência de substâncias químicas que nosso corpo precisa. Nesse sentido, considero que existem benefícios ambientais, sociais e culturais em adotarmos uma alimentação alinhada aos valores do veganismo popular”, diz.
Ser vegano sem gastar muito
A nutricionista explica que o veganismo vai muito além de tirar os alimentos de origem animal do prato. Assim, priorizar alimentos naturais e investir no “básico que funciona” na alimentação é ótimo, mas existem outras formas de apoiar a causa. Por exemplo:
- Fazer o próprio sabão;
- Cozinhar mais em casa do que pedir delivery;
- Comprar alimentos vegetais de produtores locais;
- Repensar a quantidade de produtos de limpeza que utiliza em casa.
“Veganismo popular é ter uma visão sistêmica de como você pode promover justiça social e ambiental. Veganismo popular é escolher viver um modo de vida que acolha a natureza e faça bem a todos os seres”, finaliza.
Fonte: Bruna Crioula, nutricionista ecológica e criadora do Crioula – Curadoria Alimentar, empresa financiada pelo Clube de Assinaturas Crioula