Uso prolongado de telas aumenta ocorrência de olho seco em crianças e jovens

Saúde
20 de Abril, 2022
Uso prolongado de telas aumenta ocorrência de olho seco em crianças e jovens

Os olhos não foram projetados para focar e desfocar imagens próximas milhares de vezes, seguidamente. No entanto, o uso prolongado das telas acaba forçando esse comportamento. Como resposta, surge o desconforto visual que atinge entre 70% a 90% da população adulta mundial: a fadiga ocular. 

O problema é que a condição não está mais restrita aos adultos, mas também atinge crianças e adolescentes, de acordo com estudo publicado no jornal da British Contact Lens Association (BCLA), em novembro de 2021. Para chegar aos resultados, os pesquisadores avaliaram as taxas de piscadas espontâneas, sintomas de olho seco e hábitos de uso de tela entre 456 participantes de uma convenção de jogos em Auckland (Nova Zelândia), com idades entre 13 e 75 anos. 

Leia mais: Síndrome do olho seco: saiba o que é, sintomas e como tratá-la

Uso prolongado de telas prejudica a visão

Como resultado, o estudo concluiu foi que o tempo de tela prolongado na população jovem foi associado ao comportamento de piscar e aos sintomas consistentes com pacientes com olho seco. De acordo com a médica oftalmologista pediátrica Christie Michelle Graf, membro da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria (SBOP), a visualização em excesso de vídeos e outras imagens em movimento (como as dos games, por exemplo) é mesmo capaz de prejudicar a visão. 

No estudo neozelandês, o que se concluiu foi que a implementação de triagem clínica de rotina, intervenções educacionais e desenvolvimento de orientações oficiais sobre o uso seguro da tela pode ajudar a prevenir uma degradação acelerada da saúde da superfície ocular e da qualidade de vida em jovens.

As consequências do uso prolongado de telas

A secura é fruto da diminuição no número de piscadas, uma vez que as telas dos celulares “pulsam” em uma frequência que deixa o organismo todo em alerta. Como resultado do uso prolongado de telas, pisca-se menos, o que favorece a secura dos olhos. “Crianças também sofrem com os olhos secos, condição denominada síndrome pediátrica do olho seco, caracterizada pela evaporação do canal lacrimal em função de muito tempo à frente das telas e das piscadas em quantidade insuficiente”, explica Graf.

A especialista destaca que, embora saiba que é praticamente impossível proibir o uso dessas tecnologias, deve haver um controle de tempo rigoroso por parte dos pais ou responsáveis. “As crianças estão passando cada vez mais tempo em ambientes fechados acompanhadas dessas telas, sempre muito próximas ao rosto. Isso faz com que os olhos focalizem apenas para perto, um mecanismo capaz de alterar o formato do globo ocular”, argumenta. 

Essa modificação no formato favorece o desenvolvimento de outra condição, a miopia (que caracteriza a má visão a distância). “O comum era diagnosticar pacientes com idades entre oito e 18 anos. Hoje, crianças em idade pré-escolar já apresentam cada vez mais o problema, que surge mesmo nos indivíduos sem a predisposição genética”, comenta a médica. 

Além disso, ao contrário do que muitos podem pensar, ver vídeos no carro em movimento não agrava ou estimula qualquer condição visual,. Porém, de acordo com Graf, tal comportamento favorece o surgimento de alguns sintomas. Por exemplo: náuseas, enjoo, mal-estar e cefaleia (dor de cabeça), que não se relacionam com a saúde ocular.

Quanto tempo crianças e jovens podem usar as telas?

“Impor limites no uso de eletrônicos é sempre recomendado”, afirma a especialista. Dessa forma, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) preconiza que:

  • Crianças menores de dois anos não usem tela;
  • Aquelas com idades entre dois e cinco anos usem uma hora por dia com supervisão;
  • Idades entre seis e 10 anos usem até duas horas por dia com supervisão;
  • Acima de 11 anos o uso seja de até três horas por dia com supervisão.

Sintomas de olho seco 

Alguns dos sintomas associados ao olho seco são: dor, vermelhidão, sensação de secura ou lacrimejamento, visão dupla ou embaçada, sensibilidade à luz e tremores ou contrações involuntárias das pálpebras. Geralmente, dores de cabeça e estresse acompanham as queixas.

O tratamento da fadiga ocular depende da causa. De qualquer forma, mudanças nos hábitos são obrigatórias. Como prevenção, a recomendação é que a cada hora em frente às telas, os olhos descansem por dez minutos. Também é preciso diminuir a luminosidade dos aparelhos e posicioná-los a uma distância de 60 centímetros, abaixo do nível dos olhos, além de condicionar-se a piscar de 15 a 20 vezes por minuto. 

Usar colírios lubrificantes, óculos, lentes de contato e, eventualmente, dependendo do problema, se submeter a uma cirurgia para correção de grau, também fazem parte do tratamento proposto.

Condutas para a saúde ocular

Segundo um movimento chamado 20-20-20 Rule, da The Canadian Association of Optometrists (CAO), a cada 20 minutos, deve-se fazer uma pausa de 20 segundos. Além disso, recomenda-se focar o olhar em um objeto localizado a 20 pés de distância, algo em torno de seis metros. Outro hábito importante, de acordo com Graf, diz respeito ao aproveitamento da luz natural, especialmente pelos jovens. 

“O fato de as crianças estarem muito dentro de casa também colabora com o surgimento ou piora da miopia. O sol é um importante fator de bloqueio na progressão do problema. Além disso, ambientes externos estimulam o olhar para longe, algo essencial na prevenção e controle”, assinala. A exposição solar deve ser sempre segura e a visita anual ao médico oftalmologista é indicada.

Fonte: Agência Einstein.

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