Transferrina: o que é, para que serve e porque está alta ou baixa?
Basicamente, a transferrina é a molécula que carrega o ferro no sangue. De acordo com o Dr. Celso Arrais, hematologista do Hospital Nove de Julho, quando nos referimos à deficiência de ferro ou ao excesso de ferro, não é a dosagem do ferro e nem a dosagem da ferritina que interessa: “o principal exame, mais importante, é a saturação de transferrina”, destaca.
“Se dosarmos o ferro sozinho, não é um bom parâmetro porque ele não garante que o paciente está com falta ou excesso do mesmo”, acrescenta o hematologista.
Dessa forma, para o doutor, o que importa é a transferrina e, principalmente, a relação entre a transferrina e o ferro. “Se você quer saber se tem falta de ferro ou excesso de ferro, o correto é dosar a saturação de transferrina”, orienta.
Para que serve a transferrina?
A transferrina serve para fazer o diagnóstico diferencial das anemias microcíticas, aquelas caracterizadas pela presença de hemácias menores do que o normal.
Sendo assim, para saber a dosagem de transferrina, normalmente, o médico solicita um exame de Capacidade de Ligação do Ferro (TIBC), também conhecido como Capacidade Total de Transporte de Ferro ou Siderofilina.
Entenda o perfil laboratorial das anemias microcíticas:
Ferro sérico | Transferrina | Saturação da transferrina | Ferritina | |
Anemia ferropriva | Baixo | Alta | Baixa | Baixa |
Anemia da Doença Crônica | Baixo | Baixa | Baixa | Normal ou aumentada |
Talassemia | Normal ou aumentado | Normal ou diminuída | Normal ou aumentada | Normal ou aumentada |
Anemia Sideroblástica | Alto | Normal ou diminuída | Alta | Alta |
O que significa transferrina baixa e alta?
Normalmente, a transferrina alta é percebida na anemia por falta de ferro, conhecida por anemia ferropriva, na gravidez e no tratamento com reposição hormonal, principalmente estrogênio.
Por outro lado, a transferrina baixa pode acontecer em algumas situações. Como por exemplo:
- Talassemia;
- Anemia sideroblástica;
- Inflamações;
- Situações em que há a perda de proteínas, como infecções crônicas e queimaduras;
- Doenças hepáticas e renais;
- Neoplasias;
- Nefrose ou desnutrição.
O que é Índice de Saturação da Transferrina?
O Índice de Saturação da Transferrina corresponde ao percentual de transferrina que está ocupado pelo ferro. Assim, em condições normais, 20 a 50% dos locais de ligação da transferrina estão ocupados com o ferro.
No caso da anemia ferropriva, que ocorre pela falta de ferro por deficiência na ingestão, por exemplo, o índice de saturação da transferrina se torna baixo devido à pouca concentração de ferro disponível no sangue.
Dessa forma, o organismo passa a produzir mais transferrina na tentativa de captar o máximo de ferro possível para levar aos tecidos. Mas cada transferrina transporta menos ferro do que deveria.
Para que serve o exame de saturação de transferrina?
De acordo com o especialista consultado, o exame de saturação de transferrina deveria ser um exame de rotina. Contudo, é um exame de triagem.
“Ele é impopular, falta justamente um trabalho educacional tanto para população quanto para os médicos. Ele é o exame mais importante para identificar o excesso ou deficiência de ferro no organismo”, alerta o hematologista do Hospital Nove de Julho.
Infelizmente, alguns laboratórios não fazem o exame de saturação de transferrina: “tem que calcular a ferritina e o ferro, mas é um cálculo que pode ser feito pelo médico solicitante. O exame de saturação de transferrina é solicitado isoladamente ou é feita a conta desses outros dois exames (ferritina e ferro)”, esclarece o Dr. Celso Arrais.
Valor de referência
Os valores normais de referência da transferrina são entre 15% e 45% para as mulheres e algo como 20% para 50% para os homens, dependendo do laboratório, segundo o especialista.
“Se a pessoa tem uma saturação de transferrina abaixo desse valor, ela tem deficiência de ferro. Porém, se ela tem uma saturação de transferrina acima desse valor, ela tem excesso de ferro”, exemplifica o hematologista.
De acordo com o Dr. Celso, esses valores podem causar muita confusão porque muitos médicos pedem o exame de ferritina e se ela vem alta, ele manda o paciente fazer sangria, porque ele está com excesso de ferro, mas isso é errado.
“Porque a ferritina alta pode ser devido à pessoa ter gordura abdominal, por ser sedentária, ingerir álcool ou ter alguma inflamação. Mas sla só tem um excesso, não é doença, é normal ser aumentada em quem tem essas características”, esclarece o Dr. Celso Arrais.
O especialista utiliza um exemplo: “se uma mulher tem um fluxo forte de menstruação e o médico pede o exame de ferritina e ele vem classificado como normal, então está errado. Isso porque a paciente pode ter uma ferritina normal, mas ter uma deficiência de ferro”.
O que significa ferritina alta e baixa?
A ferritina é a mais importante proteína de reserva do ferro sendo encontrada em todas as células. Quando em condições normais, isso representa cerca de 25% de todo o ferro encontrado no corpo humano.
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De acordo com o hematologista do Hospital Nove de Julho, quanto a ferritina está alta significa um excesso de ferro no organismo, já quando está baixa significa a deficiência de ferro.
“Em ambos os casos, é necessário avaliação de um hematologista para identificação da causa. Pode ser por excesso de sangramento, úlcera no estômago, entre outros casos”, aconselha o especialista.
A anemia é causada pela falta de ferro?
O Dr. Celso Arrais comenta que muitas pessoas acreditam que a única causa para a anemia é a falta de ferro, mas, engana-se quem pensa isso porque não é nem metade dos casos.
De acordo com o hematologista, numa fase inicial de anemia, por exemplo, a mulher pode ter uma queda de cabelo, unhas quebradiças e moleza no corpo, antes de ter a anemia em si.
“Sempre que a pessoa tem anemia e as hemácias são pequenas, é suspeito que seja devido à deficiência de ferro. Já quando a anemia vem com hemácias grandes, a causa pode ser uma deficiência de vitamina B12, ácido férrico, entre outros”, finaliza o doutor.
Fonte: Dr. Celso Arrais, hematologista do Hospital Nove de Julho.