Teoria do apego: Entenda a relação entre a criança e seus cuidadores
É impossível passar pelo mundo sem criar laços com outras pessoas. Isso porque além de ser saudável ter a experiência da troca, os vínculos são fundamentais para se viver em sociedade. A teoria do apego é um modelo psicológico que tenta descrever essa dinâmica.
O que é a teoria do apego
Criado pelo psiquiatra britânico John Bowlby, o estudo fala que o apego faz parte do ser humano desde o nascimento. Afinal, nos aproximamos de alguém de maneira instintiva para criar uma relação que possa ser útil posteriormente. No caso de bebês e crianças, os vínculos seriam para a sobrevivência.
Os pequenos são dependentes dos pais para conseguir comer, tomar banho, dormir e aprender o mínimo para a caminhada da vida. Eles são incapazes de cuidar de si mesmos e criam uma relação com o cuidador de acordo com as necessidades, podendo ser com apenas um dos pais, com os avós ou com um educador. Ou seja, associam a proteção à outra pessoa.
Resumindo, Bowlby acreditava que os problemas de comportamento são originados das experiências da primeira infância. Para o psicanalista, o apego é um vínculo que transmite sensação de segurança. Os estudos tiveram como base crianças órfãs da Segunda Guerra. De acordo com ele, era preciso entender o relacionamento entre pais e filhos, além da importância disso para o desenvolvimento.
Leia também: Como proteger a saúde mental das crianças durante a quarentena
Características da teoria do apego
A criança expressa comportamentos de apego, como sorriso, choro ou toque, para manter a relação com a figura. A diferença entre apego e comportamentos de apego está na intensidade do vínculo entre eles. Uma afeição duradoura você sente por poucas pessoas, é um sentimento restrito. Mas o comportamento de apego pode ser mostrado a qualquer um e já faz parte da pessoa.
Compreenda melhor as características da teoria do apego de Bowlby:
Construção do laço
A ligação mais importante seria com a mãe. Bowlby sugeriu que a mãe correspondia à ligação na mesma intensidade, sendo igualmente dependente deste vínculo. Caso a relação fosse interrompida, a criança sofreria consequências da privação. Até a 4ª semana, o bebê ainda não reconhece o cuidador e pode ter relações superficiais com educadores apenas para a manutenção da vida.
Primeiros anos de vida
Entre 6 meses e 2 anos, a criança precisa receber cuidados bem definidos de um mesmo cuidador. E a interrupção do vínculo poderia levar a danos cognitivos, sociais e emocionais irreversíveis. Essa parte da teoria foi questionada tempos depois, já que muitas crianças frequentam escolas e creches, e não dependem 100% da mãe. Qualquer separação pode vir a ser um trauma, mas nessa época o vínculo deteriorado pode resultar em agressividade e até depressão.
Leia também: Mães de crianças pequenas sofrem mais estresse na quarentena
Cuidado primário
A criança passa a valorizar as próprias experiências. A habilidade é denominada de modelo interno de funcionamento. Aos três anos, esse modelo interno passa a integrar a personalidade do pequeno.
O cuidador principal vira uma referência. A criança desenvolve expectativas sobre si mesma, sobre as relações sociais e sobre o mundo de forma geral. A ligação entre a criança e o cuidador influencia no modelo interno de funcionamento. Quando é positivo, o indivíduo fica autoconfiante e independente.
Por outro lado, quando é negativo, torna-se inseguro, dependente dos pais e não consegue interagir. Em casos graves, o psiquiatra acredita que a pessoa atua por impulso e não se importa se com as consequências do ato.
Ansiedade na separação
Algumas crianças desenvolvem um comportamento inseguro e ansioso. Quando está longe da figura de apego, fica incomodada e não responde bem aos estímulos sociais de outras pessoas.
O momento do afastamento faz a criança chorar e protestar a ausência da pessoa. Mesmo sozinha, ela se torna desinteressada nas pessoas ou no ambiente em que está inserida.
A criança começa a interagir com quem está ao redor. De acordo com Bowlby, quanto maior o tempo de separação, maior seria o desapego e a dificuldade para retomar o vínculo. Separações difíceis na infância se tornam sensíveis para alguns na vida adulta. Idade, tempo de afastamento e tipo de relacionamento são as principais consequências da separação. O sentimento de abandono pode gerar traumas e afetar relacionamentos futuros.
Leia também: Fome emocional em crianças durante a quarentena
Relacionamentos adultos de acordo com a teoria do apego
A proximidade romântica se assemelha ao vínculo da criança e do cuidador. Porém, a teoria do apego em adultos também tem como base a necessidade biológica. As expectativas abrem espaço para objetivos além da sobrevivência infantil. Isso ocorre porque já existem crenças e personalidade formada.
Apego seguro
São pessoas que possuem opiniões positivas sobre si mesmas e sobre o parceiro, o relacionamento é harmonioso e confortante. A separação é encarada como algo natural.
Apego evitante
Um padrão que não sente necessidade de relações sociais mais íntimas. As pessoas se veem como altamente independentes e recusam qualquer indício de aprofundamento de vínculos.
Apego ambivalente
São pessoas inseguras que questionam o seu próprio valor. É o desejo de altos níveis de intimidade e que pede dependência extrema do parceiro.
Leia também: Crianças autistas e isolamento social: Como lidar com os desafios
Apego desorganizado
Existe uma dificuldade de estabelecer laços profundos, embora tenha o desejo. Pessoas deste padrão não acreditam nas intenções do parceiro, mesmo quando são boas.
Críticas e controvérsias sobre a teoria do apego
A teoria do apego do britânico John Bowlby foi altamente criticada por colocar a responsabilidade emocional da criança inteiramente na mãe. Embora ela seja comumente a cuidadora principal do bebê em muitas culturas, principalmente pelo processo de amamentação, a teoria não se limita apenas a elas. A partir daí, muitos psicanalistas desenvolveram hipóteses próprias para complementar as ideias de Bowlby e dar continuidade aos estudos do comportamento.