Tenho transtorno bipolar, e agora?

Bem-estar Equilíbrio
10 de Janeiro, 2023
Tenho transtorno bipolar, e agora?

Receber o diagnóstico de transtorno afetivo bipolar não é fácil. Isso porque a doença atinge diversas áreas da vida do portador (desde o humor até as relações sociais) e ainda é cercada por muitos preconceitos. Contudo, se você está se perguntando “tenho transtorno bipolar, e agora?”, saiba que o tratamento adequado pode ajudar a diminuir os sintomas, e contar com uma rede de apoio sólida faz toda a diferença. Entenda melhor:

O que é o transtorno afetivo bipolar?

De acordo com a psicóloga Cláudia Memória, da Nilo Saúde, trata-se de uma doença crônica caracterizada pela variação intensa e desproporcional do humor (entre polos de mania e depressão), podendo haver (ou não) um fator estressor relacionado.

A fase de mania pode começar com a sensação de aumento da energia, criatividade e sociabilidade, mas segundo a psicóloga, é mais comum o aparecimento de irritação, impaciência e convicção sobre os próprios pontos de vista.

“Nesse estado, a autocrítica costuma estar reduzida, levando a comportamentos impulsivos ou mesmo raivosos. Por outro lado, na fase depressiva, os sintomas mais comuns são tristeza, falta de energia, perda do prazer, alteração do apetite, insônia ou excesso de sono, perda da concentração, redução da libido, isolamento social, lentidão ou agitação motora, pensamento de culpa, falta de esperança e ideação suicida”, afirma.

Leia também: Transtorno bipolar: como lidar com os altos e baixos da condição?

Tenho transtorno bipolar, e agora?

“Usualmente, o transtorno bipolar não devidamente tratado gera impactos ocupacionais, familiares e pessoais. A intensidade, a frequência e o tempo de cada episódio de humor varia muito de uma pessoa para a outra”, explica a psicóloga.

Para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o transtorno bipolar é a sexta causa mais comum de incapacidade entre os adultos jovens, e os momentos depressivos parecem ser os que mais trazem prejuízos¹.

Por isso, muitos indivíduos podem ficar perdidos ou até mesmo abalados após receberem o diagnóstico da doença. “Como ela afetará a minha vida?”, “será que entenderão o que eu passo?” e “o que acontecerá no trabalho?” são, por vezes, questões recorrentes.

“No nosso país, existe uma brecha de cerca de dez anos entre o início dos sintomas e a identificação do transtorno. O autocuidado na fase depressiva encontra-se mais afetado, levando ao adiamento da busca por ajuda. Por outro lado, na fase hipomaníaca, a pessoa sente-se muito bem. Logo, não percebe possíveis prejuízos”, diz Cláudia Memória.

Somam-se a isso os estigmas e os rótulos associados aos transtornos mentais, que dificultam ainda mais a aceitação.

Contudo, a boa notícia é que o tratamento correto pode fazer toda a diferença na qualidade de vida do paciente, uma vez que ajuda a amenizar os sintomas e adiar as crises, fazendo com que elas fiquem cada vez mais espaçadas (os chamados períodos de eutimia).

Importância do tratamento

O manejo do transtorno afetivo bipolar envolve abordagens tanto farmacológicas, com o uso de medicamentos estabilizadores de humor para controlar e prevenir os episódios de mania e depressão; quanto psicoterápicas, nas quais o paciente aprende a lidar com os sintomas e recebe informações sobre o seu quadro.

Além disso, pode haver a necessidade de tratar transtornos psiquiátricos associados e até comorbidades².

A especialista também reforça a importância de manter bons hábitos de vida, já que muitos deles impactam diretamente no transtorno. “Vale tentar manter horários regulares para dormir, visto que uma redução na quantidade de horas de sono pode precipitar ou sinalizar uma alteração no humor.”

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Papel de amigos e familiares

Mesmo seguindo o tratamento à risca, muitos pacientes ainda sentem dificuldade em lidar com o transtorno afetivo bipolar³. Nesses casos, contar com uma boa rede de apoio é essencial — seja para acompanhar o indivíduo nas consultas médicas, auxiliar no bom relacionamento com a equipe de tratamento ou mesmo para estar ao lado¹.

Outra alternativa interessante diz respeito à psicoeducação: encontros (individuais ou em grupos) nos quais são oferecidas informações e é dado o suporte para pacientes e seus familiares. O objetivo é garantir que eles tenham bons recursos para lidar com a doença por meio de trocas de experiências⁴.

De acordo com a ABRATA (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos), a emoção expressa de forma descontrolada muitas vezes estressa o ambiente familiar e causa conflitos constantes. Mas todos, incluindo o paciente, podem trabalhar para que as relações sejam mais empáticas e tranquilas:

  • O foco das conversas deve estar nas melhoras, sem dar ênfase aos problemas⁴;
  • Valorização dos pequenos progressos, mesmo que mínimos;
  • A evolução do quadro depende também de mudanças consistentes e contínuas nas relações familiares;
  • É extremamente necessário que a família também procure ajuda — afinal, a saúde mental dos cuidadores não deve ser negligenciada;
  • O indivíduo com o transtorno pode contribuir evitando o abuso de álcool e outras drogas e seguindo o tratamento correto.

Fonte e referência:

Bibliografia:

  • [¹] – Berk L; et al. Guia para cuidadores de pessoas com transtorno bipolar. Segmento Farma; 2011. Disponível em: https://www.ipqhc.org.br/files/11779GuiaBipolar1808.pdf. Acesso em: 06/12/2022;
  • [²] – American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5. ed. DSM-5. Tradução Maria Inês Corrêa Nascimento, et al. Porto Alegre: Artmed; 2014;
  • [³] – Justo LP, Calil HM. Intervenções psicossociais no transtorno bipolar. Revista de Psiquiatria Clínica 2004;31(2):91-9;
  • [⁴] – Pellegrinelli KB. Impacto da psicoeducação na recuperação sintomática e funcional dos pacientes bipolares. São Paulo. Dissertação [Mestrado] – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2010.

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