O que é superdotação infantil? Conheça seus principais sinais!
Ao falarmos sobre superdotação infantil, é preciso que o diálogo comece com a explicação de que crianças que se encaixam nesse perfil não são gênias. Afinal, esse estigma faz com que muitas delas e suas famílias fiquem presas no discurso de que os pequenos são praticamente perfeitos e, assim, são submetidos a cobranças sem fim.
Assim, sem essa idealização do que é este quadro, Mariana Casagrande, neuropsicopedagoga, explica o que é a superdotação. “É uma capacidade cognitiva superior que alguns indivíduos têm, apresentando facilidades em algumas áreas e habilidades”, detalha a especialista.
De acordo com Damião Silva, neuropsicólogo, especialista em altas habilidades e superdotação, o avanço da neurociência tem permitido entender melhor o cérebro das crianças superdotadas. Até o momento, sabe-se que o órgão não é maior neste público, como se pensava. Mas as conexões sinápticas nervosas (comunicação entre os neurônios) são mais rápidas.
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Tipos de superdotação infantil
Ainda segundo o especialista, existe uma gama dos diferentes tipos da condição. No entanto, os mais comuns são:
- Habilidades acadêmicas específicas: quando o pequeno tem domínio de alguma área específica, como matemática, linguagem ou escrita;
- Intelectual geral: quando a criança tem elevada competência e habilidades para processar informações e resolver problemas, ligados a memória e raciocínio, por exemplo.
Ainda assim, a superdotação pode estar relacionada a outras áreas que, embora menos conhecidas pela sociedade, são de suma importância. Por exemplo, há o tipo criativo, de liderança, talento artístico e entre outros.
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“Será que meu filho é superdotado?”
Como em qualquer outra condição, a identificação da superdotação tende a exigir o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. De acordo com Mariana, a avaliação começa com uma consulta com um neuropediatra para verificar o desenvolvimento neuropsicológico infantil completo. Em seguida, a criança deve realizar alguns testes que, em suma, são aplicados por uma neuropsicóloga.
“Esses testes podem ser aplicados a partir dos dois anos e meios e são instrumentos técnicos que, através de padronizações, com comprovação científica, quantifica essa inteligência”, detalha a especialista.
Com isso em mente, é importante observar possíveis sinais que indicam a superdotação para, então, os pais recorrerem ao especialista. De acordo com Damião, estes indicativos vão aparecer principalmente na primeira infância. Assim, os principais são:
- Desenvolvimento motor precoce;
- Desenvolvimento de linguagem precoce;
- Interesse por temas incomuns à faixa etária;
Costuma-se ver o último devido a preferência por questões acadêmicas que ganhariam luz mais tarde. Por exemplo, interesse por leitura, escrita, formas geométricas e cores.
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Os direitos das crianças superdotadas
Após a equipe multidisciplinar identificar a superdotação, é importante que os pais comuniquem a escola e, a partir disso, a criança passe a ter os seus direitos garantidos.
“Quando os pais levam o laudo à instituição, ela precisa cadastrar a criança como público de educação especial. Assim, ela deve oferecer atendimento educacional especializado, em sala multifuncional, e um plano educacional individualizado de acordo com as potências e as dificuldades desse aluno”, informa Damião.
Dessa forma, os recursos tendem a garantir que o espaço escolar seja adequado para o pequeno. “Afinal, a superdotação tem fortes componentes genéticos. No entanto, o ambiente vai fortalecê-la ou enfraquecê-la em função do atendimento inadequado ou adequado”, reforça o neuropsicólogo.
Além disso, a criança superdotada também tem direito a aceleração de série (em torno de um a dois anos a mais), devido ao seu desempenho cognitivo.
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Os desafios relacionados à superdotação infantil
Embora o desenho do plano educacional para esse público mostre-se positivo, famílias costumam enfrentar profundos desafios para que a inclusão aconteça de fato. É o que mostra a pesquisa conduzida pelo grupo de apoio “Crescer Feliz”, realizada via WhatsApp, com 150 mães e pais de filhos superdotados e/ou com altas habilidades.
De acordo com o levantamento, oito em cada dez famílias (78,9%) acreditam que as escolas não se esforçam o suficiente para adaptar e enriquecer seu currículo, a fim de que consigam atender as necessidades da educação especial desse público.
“Para que as escolas estejam de fato preparadas a atender crianças com perfil de superdotação é necessário treinamento e capacitação desses profissionais. Porém, a avaliação de 75,2% das famílias de superdotados, consultadas na enquete, é de que, em geral, a direção, a coordenação e o corpo docente das escolas sequer compreendem as características e necessidades de educação especial para esses alunos”, defende a pesquisa.
Assim, sem a proteção escolar, famílias com crianças superdotadas acabam vivendo sofrimento dobrado. Como relembra Damião, este público infantil tende a ser mais intenso emocionalmente e com baixa tolerância à frustração. Logo, os responsáveis acabam sendo exigidos com mais frequência e sofrendo sozinhos.
Fontes: Mariana Casagrande, neuropsicopedagoga e diretora da Clínica Casagrande; Damião Silva, neuropsicólogo, especialista em altas habilidades e superdotação