Rodízios são inimigos da dieta ou dá para incluir?
Atire a primeira pedra quem nunca foi a um rodízio de comida e exagerou nas quantidades. Seja pizza, churrasco ou culinária japonesa, quando o assunto é comida “à vontade” fica difícil saber a hora de parar, certo? Por isso, as idas aos rodízios não costumam fazer parte da rotina de quem deseja emagrecer ou prioriza uma alimentação saudável.
Sabe aquela permissividade que damos a nós mesmos em certos momentos? Por exemplo, quando acontece alguma coisa triste ou quem sabe legal com você e, assim, a comida serve como uma recompensa ou uma gratificação. Nesses momentos, é comum surgirem pensamentos, como: “É só hoje, vou me permitir”. Além disso, essa concessão passa a ganhar força, dificultando ainda mais o autocontrole de saber quando parar.
De acordo com a nutricionista comportamental Gabriela Ortiz, esse tipo de conduta é conhecido como “Mentalidade de rodízio”. E o nome não se trata de uma coincidência. Na verdade, ele reforça justamente essa ideia de que em ambientes como aqueles proporcionados por rodízio, é bem provável que se perca o controle inibitório, isto é, a capacidade de saber parar de comer quando não está mais com fome.
“A cultura do rodízio reforça essa ideia de ir e comer tudo o que quiser. Isso não é legal de se fazer com frequência, porque associa a comida a um prazer único, ou seja, só se eu tiver comido muito que eu vou aproveitar a comida. Mas aproveitar a comida é estar com pessoas em um lugar legal, ter memória afetiva, sentir o sabor do alimento e não apenas ficar cheia e estufada”, destaca a profissional.
Dá para incluir os rodízios de forma equilibrada?
Mesmo não sendo um hábito muito funcional, nem todos estão dispostos a abrir mãos dos rodízios. De forma geral, Gabriela não recomenda o consumo de rodízios com frequência. Segundo ela, é possível encaixar no cardápio desde que seja esporadicamente – em aniversários, eventos especiais, etc. Além disso, a inclusão ou não de rodízios na dieta vai depender do comportamento e da mentalidade do indivíduo. Isso porque algumas pessoas conseguem ter um controle maior mesmo em circunstâncias “tentadoras”, enquanto outras acabam extrapolando nas quantidades.
Tais ambientes despertam outros estímulos, como o visual e o olfativo, que podem atrapalhar essa relação equilibrada com a comida. Em alguns rodízios há, ainda, a oferta de alimentos hiper palatáveis, que liberam hormônios que ativam o sistema de recompensa do cérebro. Geralmente, tais itens são feitos a partir de gordura e açúcar, combinação que não é encontrada em alimentos naturais. Assim, esse conjunto de fatores dificulta a atuação do controle inibitório.
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Malefícios dos rodízios
Em primeiro lugar, há o excesso de calorias. Dificilmente, um indivíduo consegue manter a ingestão de calorias em um nível adequado durante um rodízio – até porque nem é uma tarefa tão difícil. Veja um exemplo:
- Uma fatia de pizza de mussarela tem, em média, 250/300 kcal (a depender da quantidade de queijo, massa, etc). Se um indivíduo comer dez pedaços de pizza em um rodízio, ele terá consumido cerca de 3.000 kcal. Suponha que ele tenha um gasto calórico de 2.000 kcal diárias. Isso significa que somente em uma refeição, ele consumiu 1.000 kcal a mais do que gastou – sem contar outros alimentos que ingeriu ao longo do dia.
Deu para sentir o drama, né? Mas, calma, não é um dia de rodízio que vai fazer com que você ganhe peso. Quando isso se torna frequente, é provável que haja um aumento de gordura a longo prazo. Sem contar, claro, que muitas vezes, os alimentos não são saudáveis e, assim, não devem ser consumidos em grandes porções e nem com regularidade.
Para quem deseja perder peso, a questão fica ainda mais delicada. “Estar em um ambiente com uma oferta muito grande de alimentos é muito difícil para quem está em processo de emagrecimento”, explica. Assim, é mais proveitoso controlar a vontade e deixar para frequentar somente em momentos especiais.
Dicas para minimizar os efeitos
Se houver uma ida ao rodízio, não é preciso “chutar o balde”. Na verdade, existem algumas estratégias que podem ajudar a minimizar os efeitos da comilança.
“Primeiramente, não ir ao rodízio com fome, porque quando estamos com fome é muito mais difícil ter um controle inibitório, porque tudo fica mais gostoso. O nosso olfato fica mais aguçado, a gente quer comer rápido, mastiga rápido e isso faz com que a gente consuma mais alimentos, mais calorias”, afirma.
Além disso, antes mesmo de chegar no restaurante, lembre-se de deixar de lado a mentalidade de que você precisa se sentir estufada para, então, parar de comer.
“A ideia é realmente apreciar o alimento com calma. Uma estratégia que eu uso muito com meus pacientes é a de deixar o garfo no prato enquanto come. Isso porque quando comemos com o garfo na mão, há uma tendência de exagerar mais”, relata.
Existe rodízio menos ruim?
Entre os diversos tipos de rodízio, Gabriela considera o de comida japonesa como o “menos pior”. Mas claro que isso varia de acordo com o comportamento de cada um. No caso da culinária oriental, é mais fácil consumir menos calorias em comparação com as pizzas e hambúrgueres.
“Tem o salmão que é um peixe mais gorduroso e algumas frituras, mas é possível escolher as opções sem frituras, pegar peças com menos cream cheese e com arroz, que é menos calórico que o salmão”, orienta.
Além disso, ela explica que normalmente em rodízios de comida japonesa, os alimentos demoram mais para chegar, enquanto em rodízios de pizza ou em churrascarias, o movimento é mais rápido, facilitando um consumo maior de calorias.
Fonte: Gabriela Ortiz, nutricionista comportamental