Mãe de UTI: um relato delicado sobre prematuridade

Gravidez e maternidade
17 de Novembro, 2022
Mãe de UTI: um relato delicado sobre prematuridade

As gêmeas Alice e Helena fazem parte da estatística traçada pela Fiocruz e pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de que 340 mil bebês nascem prematuros todo ano no Brasil. Assim, no Dia Mundial da Prematuridade, celebrado em 17 de novembro, conversamos com Bianca Chioccola Ciboto para que ela pudesse relatar como foi acompanhar a internação de seis meses das filhas que nasceram antes do esperado – com 30 semanas. A mãe de UTI lembra que o período foi o mais difícil que viveu até hoje.

“Por mais que eu já soubesse que podia acontecer, tenha lido muito, conversado com outras mães que passaram pelo mesmo, nenhuma mãe está preparada para a UTI. Então, o que sei hoje é que as meninas me fizeram mãe, mas a UTI me fez forte!”, relatou Bianca.

A descoberta da gestação gemelar e suas complicações

A história da jornalista, de 35 anos, com as gêmeas começou quando ela fez um ultrassom por volta das seis semanas de gestação. Naquele momento, Bianca ouviu apenas um coração pulsando dentro de si e vibrou com a descoberta da gravidez. No entanto, para a surpresa dos pais de primeira viagem, o cenário mudou quando eles realizaram o primeiro ultrassom morfológico. Em torno das 12 semanas, descobriu-se a gemelaridade.

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“Foi um baque, porque foi natural e não tinha casos na família. Dormíamos com o ultrassom do lado da cama para ter certeza”, lembra Bianca. Esse processo para conseguir assimilar a notícia demorou por volta de uma semana. E, então, a família precisou redobrar os cuidados diante da gestação das gêmeas. Isso precisou ser feito principalmente pelas complicações que foram diagnosticadas ao longo da gravidez.

“Logo no início, descobrimos que a Helena tinha um fechamento do duodeno (intestino). Já 15 dias antes delas nascerem, descobrimos que a Alice tinha uma cardiopatia congênita. Além disso, próximo ao fim da gravidez, tive diabetes gestacional por causa da gemelaridade”, relata a jornalista.

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Nasce uma mãe de UTI: a chegada das gêmeas

Quando Bianca alcançou 30 semanas, ou seja, sete meses, a bolsa estourou e ela seguiu para a maternidade. Ao chegar no local, constatou-se que ela estava com nove centímetros de dilatação, o que possibilitaria um parto vaginal. No entanto, a cardiopatia congênita de Alice fez com que os médicos repensassem o desfecho da gestação e submeteram a jornalista a uma cesárea de emergência.

Assim, Helena chegou ao mundo com 1.200 kg e a irmã com 1.100 kg. Ambas foram para a incubadora imediatamente, sem que a mãe pudesse segurá-las pela primeira vez. Em seguida, partiram para a UTI Neonatal. Foi, então, que começou a jornada de Bianca com as gêmeas na internação que duraria seis meses.

Gêmea-Alice

Alice/Acervo pessoal

Gêmea-Helena

Helena/Acervo pessoal

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A rotina dentro da UTI Neonatal

“De segunda a segunda, finais de semana e feriados: nós estávamos lá”, recorda a mãe. Além do cansaço físico de ir todos os dias ao hospital, Bianca lembra que o desgaste emocional também era grande, principalmente porque a família não sabia como seria aquele dia. Ele podia começar com a boa notícia de que as gêmeas estavam estáveis e terminar com um alerta do pediatra de que o cenário havia mudado.

Nesse momento, a jornalista recorria à rede de apoio que construiu com o marido e pai das gêmeas, Rodrigo Ciboto. Ela lembra que ele levava o computador para trabalhar no restaurante do hospital e aguardava ansiosamente pelo instante em que poderia entrar para visitar as filhas. Só que, diferente de Bianca, ele só podia fazer isso uma vez por dia.

“O que eu acho estritamente ruim, porque tanto a mãe quanto a criança precisa do pai. Então, íamos todos os dias, das 09h da manhã até 20h, eu entrava diversas vezes para vê-las e o Rodrigo somente uma vez ao dia e normalmente perto da conversa com o médico”, relembra Bianca.

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Acervo pessoal

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Mãe de UTI: a rede de apoio que se constrói dentro da maternidade

Como as filhas da jornalista nasceram durante a pandemia, em março de 2021, ela não pôde contar com a família para montar sua rede de apoio. Assim, além do marido, o seu conforto veio de outras mães que também estavam na maternidade, lutando junto com os seus filhos na UTI Neonatal.

Inicialmente, Bianca foi orientada a não se envolver com elas. A justificativa era de que a sua situação já era delicada e poderia acabar impressionada com casos piores que a rondavam. Mas não foi assim que a mãe se sentiu. Nessas outras mulheres e nesses outros homens, a jornalista descobriu novos lares.

“Essas mães foram a minha família. É muito importante poder dividir a jornada com alguém que passa pelo que você está vivendo, porque aquela pessoa entende o que você está sentindo e, muitas vezes, está passando pelo mesmo”, recorda Bianca.

Por fim, ao perguntar para a jornalista qual foi o ensinamento que ficou após a internação das filhas na UTI Neonatal, Bianca enfatizou que aprendeu a ser resiliente. “Aprendi a ter paciência, viver um dia de cada vez e valorizar muito a vida”, finaliza a mãe de UTI. Atualmente, Alice e Helena estão com 1 ano e 5 meses corrigidos.

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