Leite materno para Covid: Unicamp testa método em paciente

Saúde
08 de Junho, 2022
Leite materno para Covid: Unicamp testa método em paciente

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recorreram a um método inusitado: utilizaram leite materno para Covid-19 como tratamento de uma paciente com uma doença genética rara. Durante uma semana, ela ingeriu 30 mililitros do leite a cada três horas — o alimento veio de uma doadora vacinada contra o SARS-CoV-2. Logo após esse período, o resultado do teste de RT-PCR, que há mais de 120 dias indicava a presença do RNA, finalmente veio negativo.

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“Acompanho essa paciente desde criança. Então fiquei muito apreensiva quando ela me contou que estava com Covid-19. O erro inato da imunidade desregula todo seu sistema de defesa. Sua resposta inflamatória é deficitária, há poucas células se mobilizando para o local da inflamação e baixa produção de anticorpos. Isso pode levar a dois desfechos nesses casos: infecção crônica ou morte”, conta a pediatra Maria Marluce dos Santos Vilela, professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM-Unicamp) e autora principal do artigo.

Antes do tratamento com leite materno para Covid-19, a equipe aderiu ao isolamento e cuidados da paciente em casa. Afinal, devido à condição delicada de seu sistema imune, existiam riscos de complicações em uma internação hospitalar. Mesmo com as medidas e monitoramento adequados, a paciente permanecia com os sintomas da infecção após dois meses. Felizmente, o pulmão e os demais sistemas não estavam comprometidos.

Dessa forma, em parceria com o Hemocentro da Unicamp, o grupo decidiu testar o tratamento com plasma de convalescente. Ou seja, a transfusão de anticorpos de pessoas que haviam se curado da Covid-19, principalmente os do tipo IgG. Como resultado, o procedimento promoveu melhora dos sintomas e redução de marcadores inflamatórios no sangue. Contudo, depois de 15 dias, o exame de RT-PCR continuava positivo.

A inserção do leite materno para Covid-19

“Nessa mesma época, saíram os resultados de um estudo mostrando que mulheres lactantes imunizadas com a vacina da Pfizer produziam leite com uma quantidade razoável de IgA. Assim, decidimos fazer a experiência assistencial de reposição de IgA via leite materno”, conta Vilela.

“Logo, recomendamos a ela o consumo do leite por via oral, pois o IgA funciona como uma ‘vassoura’. Em outras palavras, vai grudando nos patógenos ao longo de todo o trato gastrointestinal e tudo que é impróprio sai pelas fezes. O intervalo de três horas entre as doses – exceto no período noturno – foi pensado para não dar chance de o vírus continuar se replicando”, conta a pediatra.

O teste negativou após uma semana e outros dois exames, com intervalos de dez dias cada, também não detectaram a presença do SARS-CoV-2. “E ainda seguimos fazendo testes de RT-PCR para SARS-CoV-2. Porém, nossa preocupação é que, com as novas variantes, ela adquira uma infecção assintomática”, diz a médica.

Sempre o mesmo vírus

Segundo dados do artigo, a paciente permaneceu ao menos 124 dias com o vírus ativo em seu organismo. Para ter certeza de que se tratava do mesmo patógeno, os pesquisadores da Unicamp sequenciaram o genoma do SARS-CoV-2 isolado de três amostras coletadas em diferentes momentos. Em duas amostras também foi possível quantificar o número de partículas virais.

“Os resultados de sequenciamento demonstraram que houve infecção pela variante gama (P.1) do SARS-CoV-2, aquela que surgiu em Manaus no final de 2020 e causou um colapso no sistema de saúde por lá no início de 2021. Além disso, os dados mostraram que a paciente foi cronicamente infectada por esse mesmo vírus e não por vírus diferentes. Não encontramos nenhuma mutação no genoma viral nas três reações de sequenciamento”, relatou José Luiz Proença Módena, coordenador do Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes.

Fonte: Agência FAPESP.

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