Intolerância à lactose: o que é e como ter uma rotina saudável

Alimentação Bem-estar Saúde
11 de Julho, 2023
Livia Yume Tanizaki
Revisado por
Nutricionista • CRN-3 45492
Intolerância à lactose: o que é e como ter uma rotina saudável

Durante muito tempo, a intolerância à lactose foi um dilema para quem convive com os desconfortos da condição. Felizmente, hoje há muitas soluções que auxiliam as pessoas a ter uma alimentação prazerosa sem abrir mão de suas preferências. 

De acordo com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, estima que 75% da população global tenha algum grau do problema. Por outro lado, no Brasil, segundo o Instituto Datafolha, esse percentual é de, ao menos, 35%. Por isso, nada melhor do que buscar conhecer mais sobre o assunto. 

Mas o que é a intolerância à lactose?

A intolerância à lactose ocorre quando há pouca ou nenhuma produção de lactase. Para entender como ela se manifesta, é importante considerar uma informação. A lactose é um açúcar presente no leite, que quando quebrada pelas enzimas do corpo, gera galactose e glicose. 

“Na vigência de intolerância alimentar, a presença da lactose no aparelho digestivo  causa um aumento de líquido na luz intestinal em consequência de efeito osmótico, que pode causar diarreia”, explica a nutróloga Marcella Garcez. 

Ou seja, desconfortos intestinais são um sinal típico de intolerância à lactose, sejam diarreias, sejam gases. Isso acontece porque, sem ser degradada no intestino delgado, a lactose se move para o cólon, onde as bactérias da microbiota a digerem. Assim, podendo causar flatulência, dor abdominal e alterações na evacuação.  

Curiosamente, mesmo gerando todos esses desconfortos, a Dra. Marcella explica que o principal erro que as pessoas cometem ao descobrirem a intolerância é continuar consumindo laticínios, principalmente os não fermentados. 

Sintomas 

De forma geral, os sintomas podem variar de acordo com o nível de intolerância e com a quantidade ingerida de leite ou derivados do leite. Embora não sejam perigosos para a saúde, os sintomas afetam o bem-estar. Confira quais são: 

  • Náusea após tomar leite ou comer derivados;
  • Borborigmos, ruídos intestinais; 
  • Diarréia ácida e abundante;
  • Desconforto abdominal e inchaço;
  • Gases.

Tipos de intolerância à lactose

De acordo com a nutricionista Tatiane Schallitz, há três tipos de intolerância à lactose. São elas:

Intolerância congênita

Muito rara, este tipo de intolerância é genética e impede o bebê de se alimentar do leite materno. “Esse recém-nascido, então, precisa ser nutrido com uma fórmula para lactentes sem lactose”, acrescenta a especialista.

Primária

Também de origem genética, é a mais comum — aproximadamente 40% da população mundial adulta possui intolerância primária. Vale dizer que pessoas com esse tipo de intolerância à lactose sentem os sintomas de forma diferente. Assim, cada indivíduo possui níveis distintos de produção de lactase, que pode amenizar ou intensificar os inconvenientes típicos da intolerância alimentar.

Secundária

A princípio, está associada a lesões no intestino delgado, que tem como um dos sintomas a deficiência da produção da lactase. Ao contrário dos demais tipos, a intolerância secundária pode diminuir ou desaparecer. Afinal, está relacionada a doenças e inflamações que podem ser tratadas e controladas, como doença de Crohn, giardíase e doença celíaca.

Além disso, existe outro fator responsável pela intolerância secundária: o estresse. Por isso, é importante manter a saúde emocional para evitar desconfortos, mesmo que sejam passageiros.

Como descobrir se tenho intolerância à lactose?

Primeiro os sintomas aparecem ao consumir um alimento com lactose. Logo, a maioria das pessoas se incomoda e procura ajuda médica, como um clínico geral ou gastroenterologista. Ambas as especialidades podem diagnosticar o quadro, que envolve:

Avaliação clínica

O profissional fará uma análise detalhada do seu estilo de vida. Por exemplo, alimentação, uso de medicamentos, se sofreu algum episódio recente de estresse, histórico de doenças, sintomas, entre outros.

Exames

Segundo Tatiana, há quatro testes específicos. “No teste de intolerância à lactose, o paciente recebe uma dose de lactose em jejum. Após algumas horas, o sangue é colhido para medir os níveis de glicose. Como resultado, a glicose permanece inalterada se houver intolerância”, relata. Por sua vez, o teste de hidrogênio na respiração mede o hidrogênio eliminado na expiração após ingerir doses altas de lactose. Já o teste de acidez nas fezes identifica ácidos que o corpo produz quando não existe lactase no organismo.

“Por fim, o teste genético de intolerância à lactose, que é muito mais simples e analisa o gene MCM6, responsável pela produção da lactase. Para o procedimento, basta a coleta de amostra de sangue ou de raspado de mucosa bucal”, conclui.

Dicas para uma vida saudável com intolerância à lactose

Uma das principais dúvidas sobre a intolerância à lactose é a alimentação. Realmente é preciso evitar alimentos que me deixam desconfortável? Antes de mais nada, é importante rever a alimentação do dia a dia e reduzir a ingestão de produtos com lactose.

Contudo, isso não significa que a mudança traga privações. Atualmente, há alternativas que ajudam a pessoa com intolerância à lactose a ter prazer em sua dieta. Por exemplo:

Cápsulas de lactase

Às vezes, alguns restaurantes e eventos não possuem um menu livre de lactose. Por isso, as cápsulas de lactase tornam-se ótimas aliadas nessas situações inesperadas. Disponíveis em farmácias e lojas especializadas, essas cápsulas contêm a enzima lactase, que quebram as moléculas de lactose durante a digestão e evitam os desconfortos.

Por ser um suplemento alimentar e não um medicamento, não há contraindicação ou restrição de uso. Então, não há problema para o consumo diário ou sempre que houver produtos lácteos no cardápio. Como recomendação, as cápsulas de lactase devem ser ingeridas com a refeição que terá lactose, para que possam agir na digestão.

Produtos livres de lactose

As prateleiras dos supermercados estão repletas de opções sem lactose. Além dos produtos destinados a esse público, é possível preparar receitas e consumir leites de origem vegetal, naturalmente livres da substância. Por isso, sempre observe os rótulos e visite lojas do segmento para ter mais novidades.

Ajuda profissional

Contar com o apoio de um nutricionista pode ajudar a ampliar as possibilidades de alimentação. Dessa forma, procure o suporte desse tipo de profissional para elaborar um plano alimentar com variedades e substituições saudáveis.

Intolerância à lactose x deficiência de cálcio

Uma dúvida que também é comum a respeito dessa condição é se evitar o consumo de leite e seus derivados pode gerar uma deficiência de cálcio, especialmente em crianças. 

“A intolerância à lactose pode levar a uma menor absorção de cálcio, seja por evitar os produtos contendo lactose, fontes de cálcio, ou por ter sua absorção comprometida”, conta a médica. 

Por isso, é parte da adaptação da pessoa intolerante (ou de sua família) buscar outras fontes para não sofrer de deficiência de cálcio. Muitas vezes, produtos “lacfree”, isto é, sem lactose, são fortificados com cálcio. Mas, a substância, tão essencial para o bom crescimento e fortalecimento dos ossos, pode ser encontrada em alimentos de origem animal (como ovos e sardinhas) e vegetais (como brócolis, alfafa e amêndoas). 

“O uso de suplementos de cálcio pode ser necessário. Mas, deve ser orientado por prescrição médica, a fim de evitar ingestão excessiva e descartar contraindicações”, explica a Dra. Marcella. “Ressalta-se também, no contexto, a importância da correta suplementação prévia de vitamina D, quando necessária, por conta de sua influência direta sobre o metabolismo do cálcio.”

Mitos e verdades sobre a intolerância à lactose

A lactose é uma proteína

Mito. Ela é a porção de carboidrato do açúcar do leite.

A lactose causa alergia

Mito. Existe uma diferença entre alergia e intolerância. A alergia alimentar é uma reação adversa imunológica gerada por alimentos específicos que podem causar manifestações intestinais, cutâneas (na pele), respiratórias e até sistêmicas, isto é, no corpo como um todo.

Normalmente, temos alergia alimentar à fração proteica dos alimentos como: leite, trigo, amendoim, peixes, crustáceos, soja, ovo, nozes, entre outros. 

Já as intolerâncias alimentares não são mediadas pelo sistema imunológico diretamente, ou seja, são reações adversas causadas por certos alimentos/nutrientes, tendo como principais sintomas os relacionados ao trato gastrointestinal.

Diferentemente das alergias, o que costuma causar uma intolerância alimentar é uma sensibilidade à fração de carboidrato do alimento, por exemplo, a lactose (que é o açúcar do leite). Em outras palavras, quem é alérgico ao leite de vaca tem alergia a alguma proteína desse alimento (como caseína, alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina), diferentemente de quem é intolerante, que tem intolerância à lactose.

Tenho intolerância à lactose, nunca mais poderei consumir laticínios

Mito. Hoje, existe uma gama de produtos sem lactose no mercado que podem ser inseridos de forma equilibrada na alimentação do dia a dia. Você não precisa necessariamente excluir esses alimentos da sua rotina.

Mitos e verdade sobre intolerância à lactose: são todas iguais

Mito. Existem três tipos de intolerância à lactose. O primeiro é a deficiência congênita da enzima, quando você já nasce sem a enzima. É um caso mais raro, e uma deficiência genética.

O segundo tipo é a diminuição enzimática secundária a doenças intestinais (quando você tem uma redução na produção da enzima devido a alguma doença que cause uma lesão no seu intestino). E, por fim, a deficiência primária, o tipo mais comum, que é a redução da produção da enzima lactase com o avançar da idade.

Fonte:

  • Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e professora da Associação Brasileira de Nutrologia
  • Tatiane Schallitz, nutricionista pela UERJ e pós-graduanda em fitoterapia pela UNIFATEC.
  • Liz Galvão, nutricionista parceira da Verde Campo.

 

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