Gravidez na adolescência: veja os riscos à saúde da mãe e do bebê
Desde 2019, o número de mães com gravidez na adolescência entre 10 e 19 anos diminuiu cerca de 18%, segundo levantamento do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Os registros em 2018 foram de 456,1 mil, enquanto em 2020 foram 380,7 mil gestações nesta fase da vida. Em comparação a 2010, a redução foi de 31% (552,6 mil registros).
Mesmo assim, nosso índice é 50% maior do que a média mundial. Enquanto a taxa mundial é estimada em 46 nascimentos por cada mil meninas, o Brasil possui, em média, 68,4 gestações neste período de vida. Mas o cenário é mais preocupante quando analisamos o recorte de crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos. Em 2020, foram registradas 17,5 mil mães nesta idade. Já na última década, a região Nordeste foi a que teve mais casos de gravidez na adolescência — foram 61,2 mil, seguido pelo Sudeste, com 42,8 mil.
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Gravidez na adolescência é um perigo para mãe e bebê
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mortalidade materna é uma das principais causas de óbito entre adolescentes e jovens de 15 a 24 anos na região das Américas. Pelo mundo, o risco de morte materna se duplica entre mães com menos de 15 anos em países de baixa e média renda. Por sua vez, as mortes perinatais são 50% mais altas entre recém-nascidos de mães com menos de 20 anos na comparação com recém-nascidos de mães entre 20 e 29 anos.
“A adolescente está em plena fase de formação fisiológica. Logo, uma gestação nesse período gera uma série de riscos para mãe e bebê. A começar pelo duplo anabolismo, quando há uma competição biológica entre mãe e o feto pelos mesmos nutrientes”, afirma Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP e membro da FEBRASGO.
Segundo o especialista, o perigo é maior para menores de 16 anos ou quando a ocorrência da primeira menstruação foi há menos de dois anos. A seguir, veja as possíveis complicações:
Fatores de risco para a mãe
- A bacia não estar desenvolvida o suficiente para o parto (desproporção pélvica-fetal).
- Pré-eclâmpsia e infecção urinária.
- Doenças hipertensivas e síndromes hemorrágicas.
- Depressão pós-parto.
Riscos para o bebê
- Prematuridade e BPN (baixo peso ao nascimento).
- Crescimento intrauterino comprometido.
- Malformação de órgãos.
A princípio, essas complicações estão associadas ao ingresso tardio do pré-natal, que possui razões variadas. “Os ciclos menstruais irregulares nos dois anos pós-menarca, a falta de conhecimento do próprio corpo e a não aceitação da gravidez são alguns dos motivos que atrasam o início do pré-natal”, pontua o ginecologista.
Ainda há a frequente exposição materna a medicamentos, álcool, tabaco e a outras drogas no início de uma gestação ainda desconhecida ou reconhecida pela adolescente. “O binômio informação e acesso aos centros de saúde são os que ditam as regras da contracepção. Afinal, a maioria não sabe se prevenir de forma adequada, não compreende o funcionamento de cada método, utilizando-o de maneira errônea ou, simplesmente, abandona o uso por questões pessoais”, alerta Moraes.
Dessa forma, a educação sexual é importante para prevenir uma gravidez precoce, além de evitar infecções sexualmente transmissíveis.
Gravidez na adolescência: como fica a saúde mental?
“Se uma gravidez para uma mulher madura já envolve uma série de sentimentos conflitantes, imagine para uma menina?”, reflete Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da infância e adolescência, preceptora na residência da Escola Paulista de Medicina UNIFESP.
Segundo ela, a adolescência é o período de formação da personalidade, da identidade, da criação de vínculos sociais. Ou seja, é uma fase de descobertas e de preparação para a vida adulta. Contudo, o ciclo natural se rompe quando envolve uma gestação.
“A gravidez precoce exigirá que a adolescente deixe de ser apenas filha e passe a assumir o papel de mãe. Com os hormônios da adolescência a mil, mais os hormônios gerados pela gestação, a menina estará mais suscetível a desenvolver transtornos mentais, principalmente depressão pós-parto e até psicose puerperal. Portanto, nestes casos, o acompanhamento psiquiátrico será fundamental”, avalia.
Impactos na vida social
De acordo com o Ministério da Saúde, 66% das gestações entre adolescentes são indesejadas. Além disso, segundo o Ministério da Educação, 18% dos motivos de evasão escolar estão relacionados à gravidez na adolescência. Dados do IBGE mostram que a proporção de adolescentes e jovens brasileiras de 15 a 19 anos que não trabalham ou não estão na escola são maiores do que aquelas que nunca tiveram filhos.
De fato, uma gravidez tem impacto na vida toda, desde a rotina com os amigos e os momentos de lazer, até os estudos e as escolhas profissionais. Como resultado, as prioridades mudam radicalmente, fazendo com que a adolescente tenha que se desdobrar para cuidar do bebê e, ao mesmo tempo, não deixar outras responsabilidades de lado.
“Por isso, a efetivação dos direitos das meninas, adolescentes e mulheres jovens como mães deve levar em consideração a importância de frequentar a escola e ter oportunidades de participar de atividades sociais e espaços para mães na mesma situação. Tudo isso incentiva as adolescentes a não pararem no tempo e planejarem seu futuro profissional. Por fim, pais e escola devem ser parceiros nesta jornada, juntos com os adolescentes e jovens. Geralmente, são os dois referenciais mais fortes que os indivíduos têm nessa fase da vida”, conclui Admoni.
Fontes: Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da infância e adolescência, preceptora na residência da Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); e Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO e Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.