Exposição a metais pesados pode elevar o risco de endometriose
Um estudo publicado recentemente na revista científica Science of the Total Environment sugere que a exposição a quatro metais pesados – chumbo, arsênico, cádmio e mercúrio – pode elevar o risco de desenvolver endometriose.
A doença afeta o endométrio, tecido que reveste o útero. Como resultado, o órgão passa a crescer desordenadamente — às vezes, o tecido se multiplica fora dele. É uma condição dolorosa e incapacitante que, em alguns casos, pode causar infertilidade.
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Exposição a metais pesados aumenta em 13 vezes o surgimento da endometriose
Todos os quatro metais possuem relação com a incidência maior de endometriose e os números são alarmantes. Por exemplo, para os níveis sanguíneos de mercúrio, o risco bruto de endometriose aumentou 13 vezes.
O aumento foi cinco vezes maior com o arsênico e três vezes maior com cádmio e chumbo. Esses metais vem de processos industriais e entram no organismo por meio de alimentos, água, absorção pela pele ou inalação.
Entre as consequências dessa absorção estão a inclusão de efeitos adversos nas funções neurológica e reprodutiva. Principalmente porque alguns desses metais afetam a síntese de hormônios reprodutivos femininos e podem desencadear anormalidades metabólicas.
Outros riscos dos metais pesados à saúde
Algumas associações incluem distúrbios menstruais, resultados adversos da gravidez, danos no DNA e disfunção mitocondrial, assim como maior risco de câncer de mama e de endométrio. Eles são, portanto, considerados metais desreguladores endócrinos.
De acordo com o médico Patrick Bellelis, colaborador do setor de endometriose do HCFMUSP, a análise pode melhorar o entendimento sobre o aparecimento da doença, sobretudo para mulheres acima dos 30 anos.
“Segundo o que foi levantado, a exposição e presença dos metais pesados no corpo humano pode causar diferentes danos. Entre eles, contribuir para o desenvolvimento da endometriose, o que gera um alerta ainda maior sobre a qualidade de vida”, afirma o especialista.
A idade média das pacientes participantes da pesquisa era de 31 anos, com IMC médio de aproximadamente 21. Além disso, mais de um terço dos casos tinham histórico de tabagismo passivo.
Como foi feito o estudo
Os pesquisadores exploraram as concentrações de metais pesados no sangue e fluido folicular em mais de 600 mulheres com e sem endometriose. Ao todo, 234 casos apresentaram uma massa endometriótica em um lado, mas não manifestaram distúrbios genéticos, metabólicos, neurológicos ou autoimunes.
Os efeitos dos metais pesados na endometriose podem ser mediados pelo estradiol, atuando via receptores de estrogênio que promovem a proliferação de células endometriais, piorando os sintomas da doença.
Outro mecanismo pode ser via estresse oxidativo que esse metais causam, o que promove a proliferação de células endometriais e invasão em locais fora do útero.
Bellelis ressalta o avanço a respeito do tema, mas destaca a importância do aprofundamento para chegar a uma compreensão mais detalhada. “Estudos maiores, com um período de acompanhamento mais longo, são essenciais para entender como a endometriose ocorre e os benefícios de limitar a exposição a metais pesados”, conclui.