Exercício depois da bariátrica pode diminuir fome, aponta estudo

Saúde
15 de Fevereiro, 2023
Exercício depois da bariátrica pode diminuir fome, aponta estudo

O atividade física é um pilar importante para o tratamento contra a obesidade. Contudo, sua função pode ir além do aumento do gasto calórico: o exercício depois de uma cirurgia bariátrica é capaz de reduzir a fome ou acelerar a saciedade.

É o que sugere uma pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

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Como o exercício atua no organismo depois da bariátrica?

Pacientes que realizaram cirurgia bariátrica e fazem exercícios são beneficiados porque ocorre o estímulo de certas áreas do cérebro. Essas partes estão envolvidas no consumo alimentar, contribuindo, por exemplo, para a redução da fome ou acelerando a sensação de saciedade.

Para chegar à conclusão, o estudo mostrou que o programa de exercício iniciado três meses depois da cirurgia bariátrica produz alterações funcionais em redes cerebrais ligadas ao consumo alimentar, mas que são modificadas pela obesidade.

De acordo com o trabalho, o exercício aumentou a interação entre o hipotálamo (região cerebral responsável pela regulação do apetite e do metabolismo energético) e as áreas sensoriais. Além disso, reduziu a ligação entre as estruturas cerebrais DMN (Default Mode Hypoconnectivity ou  “rede de modo padrão”) e a região do cérebro envolvida em processos de tomada de decisão, cuja conectividade é aumentada em pessoas com obesidade.

Os pesquisadores também detectaram no grupo exercitado um aumento de ativação do núcleo hipotalâmico medial, que se relaciona com a supressão do apetite e o aumento do gasto energético.

“Múltiplos sinais internos e externos governam a regulação do consumo energético. Todavia, pessoas com obesidade apresentam desregulações na ativação e comunicação de regiões cerebrais associadas com fome e saciedade. Neste estudo, verificamos que o exercício contribuiu com a cirurgia bariátrica na ‘normalização’ dessas redes por melhorar o controle do consumo de alimentos”, explica o professor da FM-USP Bruno Gualano, autor correspondente do artigo.

“Quando o indivíduo está exposto a um alimento gorduroso ou açucarado, por exemplo, algumas dessas áreas se ativam e se conectam com mais intensidade em pessoas com obesidade, aumentando a vontade de comer. Vimos que os exercícios contrapõem, pelo menos em parte, esse efeito”, completa.

Outros benefícios da atividade física

Para Gualano, do ponto de vista clínico, os dados da pesquisa sugerem que o exercício físico pode ser uma importante terapia complementar.

Além disso, o movimento é capaz de reduzir fatores de risco cardiometabólicos, a preservação da massa muscular e da saúde óssea.

Desde 2018, o grupo de cientistas do qual o professor faz parte vem pesquisando o tema e já publicou outros artigos. Um deles mostrou que o exercício físico reverte a perda de massa muscular. Dessa forma, melhora a força e o funcionamento dos músculos de pessoas submetidas à cirurgia bariátrica. Por meio de análises moleculares, ficou claro que o treino físico modulou mecanismos intramusculares que aumentam a massa muscular.

Outro trabalho apontou que o treinamento minimizou fatores de risco de doenças associadas à obesidade. Por exemplo, diabetes, hipertensão e aterosclerose, por potencializar a sensibilidade à insulina, reduzir a inflamação e melhorar a saúde dos vasos sanguíneos.

Como foi feito o estudo sobre exercício depois da bariátrica?

O experimento reuniu 30 mulheres, com idade entre 18 e 60 anos, que fizeram cirurgia bariátrica por meio da técnica bypass gástrico em Y de Roux. As mulheres são maioria no Ambulatório de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas da FM-USP.

De forma aleatória, metade delas passou pelo treinamento físico e a outra, não. A intervenção de exercício ocorreu sob supervisão durante seis meses, três vezes por semana, e três meses após a cirurgia.

Parâmetros clínicos, laboratoriais e de conectividade funcional cerebral foram avaliados em três etapas – no início do estudo e, depois, no terceiro e nono mês após a cirurgia.

Para analisar o efeito do procedimento cirúrgico com o exercício físico, os pesquisadores usaram ressonância magnética funcional. Ou seja, uma técnica de imagem que mostra a ativação de regiões do cérebro. A coleta de dados ocorreu entre junho de 2018 e agosto de 2021.

“A literatura já mostra que quem faz cirurgia bariátrica apresenta inúmeras alterações cerebrais compatíveis com a melhora do controle de apetite, de saciedade e da fome. São centros cerebrais que comandam o consumo alimentar. Nesta pesquisa vimos que o exercício potencializa essa resposta”, afirma Gualano, destacando que a mudança no estilo de vida é importantíssimo para pessoas com obesidade.

“Quando fazemos exercício físico, sabemos que há uma série de adaptações fisiológicas que se traduzem em benefícios terapêuticos. Em contrapartida, se o indivíduo deixa de se exercitar, os ganhos se revertem. Nosso estudo, no entanto, não verificou a duração das mudanças cerebrais com o exercício físico. É provável que diminuam de intensidade, à medida que o paciente interrompa o exercício”, completa.

Entre os próximos passos, o grupo pretende estudar os efeitos da combinação dos exercícios e da dieta com outras estratégias para emagrecimento em pessoas com obesidade. Entre elas estão as novas classes de medicamentos antiobesidade.

Fonte: AGÊNCIA FAPESP.

 

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