O novo filme da Disney/Pixar, Divertida Mente 2, estreou há apenas algumas semanas, mas já atingiu o marco de 1 bilhão de dólares em bilheteria ao redor do mundo – feito conquistado por poucas animações, como Frozen 2.
O desenho parece ter agradado crianças e adultos, uma vez que retrata o amadurecimento emocional da personagem Riley ao passar pela transição da infância para a adolescência. Com o cérebro ainda em formação, a menina precisa aprender a estabelecer metas, planejar, compreender as consequências de suas ações e, sobretudo, lidar com as emoções.
Na obra, cada emoção de Riley é representada por uma criatura diferente: alegria, tristeza, medo, tédio, surpresa, raiva, nojo… Todas têm cores características e, juntas, elas tentam “manter a ordem” e responder aos estímulos externos vivenciados pela adolescente com algumas reações.
Mesmo voltado para o público infantil, o filme surpreende por abordar questões complexas e levantar discussões interessantes. Afinal, como as crianças lidam com as suas emoções, e o que os adultos podem fazer para ajudá-las nesse processo?
O cérebro, desde a infância, passa por inúmeras transformações – por exemplo, o aumento de peso e o desenvolvimento de diversas habilidades (sejam elas primárias, como os sentidos, ou corticais, como o raciocínio).
O amadurecimento pleno desse órgão, explica a neuropsicóloga Camila Ferrari, da clínica Neurodesenvolvendo, só acontece na vida adulta (por volta dos 25 anos). Isso porque o córtex pré-frontal, aquele que regula as nossas emoções, controla os nossos impulsos e ajuda na memória, é a área que mais leva tempo para se formar por completo.
E apesar de as crianças ainda não conseguirem controlar as suas emoções, é muito importante que, desde cedo, elas aprendam a nomear o que sentem. Isso promove, segundo Camila, um entendimento de si mais profundo e uma comunicação emocional assertiva.
“Privar a criança de alguma reação ou sentimento pode trazer prejuízos”, alerta Camila. “As emoções são respostas naturais às vivências. Ao criar um ambiente respeitoso para sua manifestação, os pais ensinam os filhos a lidar com elas de maneira saudável.”
Camila destaca que os adultos também precisam servir de exemplo. Por isso, esconder as próprias emoções para não transparecer fraqueza ou tristeza na frente do pequeno não é o mais indicado. “Toda emoção nos compõe enquanto seres humanos. Assim sendo, não existem emoções negativas e positivas, certas e erradas. Existem apenas respostas de natureza emocional, emitidas em consequência das nossas vivências”, acrescenta a especialista.
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O desenvolvimento do cérebro infantil e a gestão das emoções são fundamentais para a formação de adultos emocionalmente saudáveis e conscientes. “As emoções, que variam em intensidade e impacto ao longo da vida, influenciam profundamente nossa racionalidade. Elas funcionam como uma cola que junta corpo e cérebro, regulando suas atividades”, explica Cosete Ramos, doutora em educação com ênfase em neurociência.
Desse modo, criar os pequenos com a expectativa de uma vida perfeita e sem frustrações, sem ensiná-los a lidar com as emoções, pode ser adoecedor e gerar sofrimento psíquico — inclusive no futuro. “Quando polarizamos as emoções e ensinamos que algumas delas não são bem-vindas, em última medida, mostramos que elas devem ser evitadas, distanciadas de nossa vida, o que não é possível”, adverte Camila Ferrari. “Não existe vida sem frustração, nojo e medo, por exemplo, e o lugar mais seguro para aprender a sentir e compreender essas emoções é em casa, na companhia afetuosa e acolhedora dos pais.”
Fontes: Camila Ferrari, neuropsicóloga da clínica Neurodesenvolvendo; e Cosete Ramos, doutora em educação com ênfase em neurociência.