Coccidioidomicose: o que é, sintomas e tratamento
Também chamada de febre de São Joaquim, febre do vale ou doença de posada-Wernicke, a coccidioidomicose é uma infecção pulmonar que tem como causa etiológica o fungo Coccidioides posadasil, no Brasil.
De acordo com o Dr. Marcelo Cordeiro, infectologista e consultor médico do Grupo Sabin, a coccidioidomicose é uma micose sistêmica causada por fungos do gênero Coccidioides posadasil.
“Essa micose tem como principal alvo o pulmão. Por isso, indivíduos imunossuprimidos, incluindo aqueles vivendo com HIV, podem desenvolver formas disseminadas para outros órgãos”, complementa.
Além dos pacientes imunossuprimidos e aqueles que possuem HIV, alguns trabalhadores, como os agricultores, são mais susceptíveis ao desenvolvimento desta doença, por meio da inalação dos esporos.
Como acontece a transmissão?
O infectologista explica que a transmissão da micose ocorre em regiões secas a partir da inalação de poeira contendo o fungo.
“Trabalhadores rurais que manipulam solo seco apresentam maior risco de se contaminar. Esse fungo é encontrado em abundância em sítios arqueológicos e tocas de animais”, comenta.
Mas para acabar com as dúvidas se uma pessoa infectada consegue passar para outra, o Dr. Marcelo Cordeiro é enfático: “não é transmissível de pessoa para pessoa”.
Dessa maneira, a transmissão da infecção é feita pela inalação (entrada) do fungo, decorrente do manuseio do solo contaminado, relacionado às atividades laborais ou caça a tatus.
Quais as causas da coccidioidomicose?
É importante frisar que a coccidioidomicose é causada por duas espécies de fungos filamentosos do gênero Coccidioides. São eles:
- Coccidioides immitis: de ocorrência na Califórnia, nos Estados Unidos da América do Norte.
- Coccidioides posadasii: que ocorre em outras regiões das Américas, incluído o nordeste do Brasil.
Dessa forma, a causa da coccidioidomicose pode estar relacionada à exposição à poeira de sítios contaminados, à atividade do homem ao se envolver com solos contaminados ou ao entrar em tocas de animais que possuem maior probabilidade para isolamento do fungo.
Nesse sentido, os lavradores, militares, arqueólogos, antropólogos, paleontólogos, zoologistas e trabalhadores na construção de estradas e de transporte terrestre, são considerados profissionais com maior risco de exposição ao fungo.
Sintomas
O nosso especialista consultado conta que, normalmente, o quadro clínico se apresenta como uma doença respiratória com sintomas leves, de evolução benigna e de curta duração.
“Pessoas com baixa imunidade podem desenvolver formas pulmonares mais graves e até disseminadas”, alerta.
Entretanto, alguns pacientes podem apresentar ainda um quadro clínico:
- assintomático: sem sintomas em 60% dos casos;
- forma pulmonar aguda: tosse, expectoração, febre, dores torácicas, exantema;
- forma cutânea primária: inoculação acidental, pápulas, pústulas e úlceras.
- forma disseminada: via sanguínea/linfática, acomete vários órgãos como pele, médula óssea, meningites e outros.
Diagnóstico
Conforme o conhecimento do infectologista, o diagnóstico da coccidioidomicose pode ser feito pelo exame direto, histopatologia ou exame de sangue (sorologia).
Além disso, pode ser feito uma radiografia do tórax, cultura e testes de uma amostra de sangue ou de outro tecido.
Normalmente, o médico suspeita de coccidioidomicose se as pessoas desenvolverem os sintomas após terem morado em alguma região onde a infecção é comum ou apenas ter viajado até lá recentemente.
Pacientes com sistema imunológico saudável favorecem as análises de sangue, já que conseguem detectar esses anticorpos se a coccidioidomicose estiver presente.
Tratamento
O Dr. Marcelo Cordeiro lembra que ainda não há vacinas para a doença, mas o tratamento pode ser feito nos casos sintomáticos com antifúngicos por via oral e, nas formas graves, injetável.
“A terapia antirretroviral reduz significativamente o risco de desenvolvimento de formas graves em pessoas vivendo com HIV”, acrescenta.
Ademais, o tratamento pode variar conforme a forma clínica e a gravidade da doença. Desse modo, veja como:
- Assintomáticos: não requerem tratamento antifúngico;
- Formas pulmonares ou disseminadas sem comprometimento do SNC (Sistema Nervoso Central): uso do Itraconazol 400 a 600 mg/dia VO. Na indisponibilidade do itraconazol, o fluconazol está indicado, na dose de 400 mg/dia, VO;
- Formas disseminadas com comprometimento do SNC: uso do fluconazol, 400 mg a 1200 mg/dia, EV.
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Fatores de risco
Em alguns pacientes que já possuem alguma doença ou possuem outros fatores de risco, a ocorrência do coccidioidomicose é provável, se o paciente:
- conviver com o HIV;
- usar medicamentos que suprimem o sistema imunológico (imunossupressores);
- tiver mais idade;
- estiver na segunda metade da gravidez ou acabar de ter um bebê.
Como prevenir a coccidioidomicose?
Por fim, o infectologista recomenda o uso de máscaras N95 ao adentrar em tocas, cavernas e sítios arqueológicos, a fim de reduz o risco de adoecimento pela coccidioidomicose e de outras micoses.
Além disso, existem algumas medidas de prevenção e controle a serem tomadas, a fim de evitar a exposição direta ao fungo. São elas:
- Usar equipamentos de proteção individual (EPI), em especial, máscaras, em atividades em que estejam relacionadas o manuseio de solo e que realizam a dispersão de poeira;
- É necessário educar sobre saúde, principalmente em relação à coccidioidomicose, abordando acerca da forma de transmissão da doença. Sobretudo, em comunidades onde a prática de caça ao tatu ainda muito é comum;
- Os indivíduos com lesões ou quadros suspeitos de coccidioidomicose devem procurar imediatamente o atendimento médico, para realizar um diagnóstico e iniciar o tratamento;
- A quimioprofilaxia primária não está indicada, mesmo em pacientes imunocomprometidos. Portanto, como profilaxia secundária, indica-se o uso de fluconazol em pessoas com AIDS que apresentam formas disseminadas ou meningoencefalite.
Situação epidemiológica do coccidioidomicose
No Brasil, a situação epidemiológica do coccidioidomicose possui alguns registros nos estados do Piauí, Ceará, Maranhão, Bahia e Pernambuco.
Frequentemente, são diagnosticados casos de pequenos surtos da forma pulmonar aguda, que acomete homens e cães, dias após exposição à poeira, nas caçadas a tatus e na escavação de suas tocas.
Geralmente, esses casos apresentam uma infecção respiratória benigna e de resolução espontânea. No entanto, uma parcela dos indivíduos infectados evolui com quadros progressivos em pulmões e outros órgãos, especialmente sistema osteoarticular e SNC (Sistema Nervoso Central).
Por fim, desde 2018, no plano estratégico, o Ministério da Saúde iniciou a estruturação do sistema de vigilância e controle das micoses endêmicas.
Fonte: Dr. Marcelo Cordeiro, infectologista e consultor médico do Grupo Sabin.