Bipolaridade no meio corporativo, como agir?
O transtorno afetivo bipolar (TAB) é um transtorno mental caracterizado pela oscilação do paciente entre fases (ou polos) de euforia e depressão que duram dias ou até meses. Esses sintomas podem gerar algumas dificuldades de convivência no trabalho, por exemplo, principalmente se o ambiente não for empático e o paciente não realizar o tratamento adequadamente. Contudo, a boa notícia é que, com iniciativas vindas tanto do indivíduo com a condição quanto da liderança e dos colegas, é perfeitamente possível conviver com a bipolaridade no meio corporativo — e alcançar o desenvolvimento profissional. Entenda melhor:
Bipolaridade no meio corporativo: dificuldades
Muitas vezes, o ambiente corporativo não é nada acolhedor para pessoas com diagnósticos de transtornos mentais. No caso do TAB, dependendo da intensidade e da gravidade das fases, há prejuízos para a vida profissional de quem possui a condição.
Isso acontece porque, muito deprimida, a pessoa pode ficar dias sem sequer conseguir levantar da cama. Ou, então, pode sofrer com falta de concentração e foco gerada pela euforia excessiva. Infelizmente, nem todas as empresas conseguem compreender os dois estados, e cobram mais produtividade a qualquer custo sem se preocuparem com as individualidades de cada colaborador.
Soma-se a isso o fato de que as doenças mentais ainda são alvo de muitos estigmas e inverdades. “No TAB, é comum o uso de termos como ‘pessoa de temperamento forte, explosiva e imprevisível’. Por isso, os portadores têm medo de serem julgados ou sentem-se envergonhados por suas atitudes mais ‘desinibidas’ (compras, brigas, sexualidade exacerbada) nas fases de hipomania (de euforia)”, explica a psicóloga Cláudia Memória, da Nilo Saúde.
Por fim, ainda há o fato de que frequentemente, o paciente com algum transtorno é resumido somente à doença, e qualquer atitude sua é justificada por ela — desconsiderando sua personalidade, sua história e seu momento de vida.
Leia também: Transtorno bipolar: como lidar com os altos e baixos da condição?
Como lidar com a bipolaridade no meio corporativo?
E aí, entra a questão: como o paciente, a empresa, a liderança e os colegas podem contribuir para que a convivência com a bipolaridade no meio corporativo seja pacífica e acolhedora? Com algumas atitudes, é perfeitamente possível garantir um ambiente saudável e que garanta o desenvolvimento profissional de todos!
Iniciativas do paciente
É essencial que o indivíduo com o transtorno de bipolaridade realize o tratamento adequadamente, comparecendo às consultas com regularidade, utilizando os medicamentos prescritos pelo médico e evitando hábitos que estimulem os polos de humor — como o abuso de álcool e outras drogas e dormir mal.
De acordo com a psicóloga, não é incomum que pacientes na fase hipomaníaca tenham vontade de encerrar os cuidados. “Pelo fato de a pessoa sentir-se muito bem, ela pode suspender o tratamento. Geralmente ouvimos: ‘estou mais produtivo, e mesmo dormindo menos estou disposto, não preciso mais do remédio’. Mas é muito importante que não haja descontinuidade no uso das medicações, visto que as interrupções geram riscos desnecessários.”
Iniciativas dos colegas
Outra peça importante para o bom convívio com a bipolaridade no meio corporativo são os colegas. Contar com um ambiente de trabalho empático e que não reproduz estereótipos com relação aos transtornos mentais faz toda a diferença. Desse modo, o indivíduo sente-se mais acolhido, motivado e até disposto a realizar o tratamento.
Além disso, os colaboradores podem ajudar a identificar os chamados sinais de alerta que antecedem os polos de humor, tomando atitudes e cuidados para que eles não atrapalhem a harmonia da equipe.
Iniciativas da liderança e da empresa
Por fim, o papel da empresa e da liderança é um dos mais importantes. “Cabe à empresa a conscientização, promovendo palestras sobre os transtornos mentais — considerando que a educação reduz os estigmas e assegura um clima de segurança psicológica no ambiente corporativo. Caso a pessoa que sofra da condição enfrente alguma dificuldade, a empresa pode facilitar e estimular o acesso às redes de apoio”, finaliza a especialista.
Fonte:
- Cláudia Memória, psicóloga da Nilo Saúde e neuropsicóloga pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP).
Bibliografia:
- ABRATA. Universo corporativo ainda discrimina a bipolaridade. 2013. Disponível em: https://www.abrata.org.br/universo-corporativo-ainda-discrimina-a-bipolaridade-2/. Acesso em: 13/12/2022.