Qual a diferença entre baby blues e depressão pós-parto?
Em uma conversa entre duas mães, facilmente ouviremos que a maternidade é bonita e feita de sutilezas difíceis de serem explicadas para quem não está passando pela mesma fase. No entanto, a sinceridade deste diálogo pode levar as duas figuras maternas a também relatarem circunstâncias desafiadoras vividas logo após o parto, que podem resultar em quadros como baby blues e depressão pós-parto. Mas você sabe qual é a diferença entre eles?
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Baby blues: o que é, causas, sintomas e tratamento
O que é
De acordo com a psicóloga Daniela de Oliveira, integrante do Programa de Mudança de Hábito e Medicina do Estilo de Vida (Pro-MEV-IPQHC-HCFMUSP), o baby blues afeta pelo menos 80% das puérperas após o parto.
Normalmente, o quadro começa a se desenhar conforme os primeiros dias depois do nascimento do bebê se iniciam. Todavia, alcança seu pico por volta da primeira semana pós-parto, e começa a amenizar entre a segunda e a terceira.
Causas
Segundo a especialista, o baby blues acontece porque há uma mudança hormonal abrupta neste período juntamente com as adaptações que a mãe precisa passar com a chegada de um novo membro à família. “Logo, o estresse, isolamento social, privação de sono e a fadiga vão deixando as puérperas mais frágeis”, completa Daniela.
Sintomas
Para saber se a mãe está vivendo este quadro, é preciso atenção aos sintomas que o identificam. Veja quais são os principais deles:
- Mudanças abruptas de humor;
- Melancolia;
- Irritabilidade;
- Tristeza;
- Choro sem motivo aparente;
- Cansaço;
- Estresse;
- Sensação de estar emocionalmente fragilizada.
Tratamentos
Por ser um quadro que tende a evoluir positivamente conforme a mãe vai vivendo dia a dia com seu bebê, entendendo o que ele precisa assim como ela, o tratamento não costuma ser medicamentoso. “O que podemos oferecer às mães neste lugar é acolhimento e suporte”, reforça Daniela.
Isso pode ser feito por meio de palavras e ações de afirmação, mostrando que a puérpera não está sozinha neste momento. Do mesmo modo, é importante oferecer possíveis serviços à mãe, fazendo com que ela não esqueça de cuidar de si.
Nesse sentido, vale buscar uma água durante a amamentação, preparar uma alimentação balanceada e até mesmo perguntar se ela gostaria de um abraço. Em outras palavras, é necessário a presença da sua rede de apoio ainda mais neste momento.
O psiquiatra Luiz Scocca, membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA), também orienta que o momento é propício para buscar medidas de prevenção contra a depressão e tratamentos não-medicamentosos. “Como yoga, meditação, psicoterapia, dança e entre outros”, orienta o especialista.
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Depressão pós-parto: o que é, causas, sintomas e tratamentos
O que é
Já a depressão pós-parto é um quadro psicológico mais complexo. Segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ela acomete 25% das mães brasileiras, o que resulta em uma proporção de que uma a cada quatro figuras maternas apresentarão o transtorno psiquiátrico.
De acordo com Luiz, ele é um quadro multifatorial e que, a princípio, manuais e códigos internacionais de saúde mental tendem a determiná-lo quando os sintomas se estendem desde a quarta semana depois do nascimento do bebê até o sexto mês. “Mas isso não quer dizer que haja consenso entre os especialistas. Pode durar mais dependendo da pessoa”, completa.
Causas
Primordialmente, os motivos que ocasionam a depressão pós-parto é a combinação entre a parte genética da puérpera – inclusive, a mãe pode ter sido diagnosticada com o transtorno psicológico em fases anteriores da vida – com fatores ambientes e acontecimentos vitais.
“Dessa forma, a própria gestação e o parto, com a interrupção abrupta da produção de hormônios da placenta, a mudança de vida que um bebê traz e a força psicológica do evento são fatores adicionais”, completa o psiquiatra.
Além disso, a depressão pós-parto pode ser desencadeada ou ter uma piora em decorrência de fatores secundários relacionados à maternidade. A psicóloga Ligia Dantas cita problemas com o(a) companheiro(a), ausência de suporte da família, além de tribulações financeiras.
“O quadro está mais relacionado com a rejeição do que é a maternidade em si do que com o bebê. Em outras palavras, está mais ligada com uma decepção as expectativas consigo mesma ou com o parceiro”, explica Ligia.
Sintomas
Como no caso do baby blues, é preciso estar atento aos sinais que indicam o quadro psiquiátrico. Veja quais são os principais:
- Sentimentos de desesperança;
- Sente-se sem valor;
- Choro com tristeza profunda;
- Desconexão com o bebê;
- Acredita-se que não é uma boa mãe;
- Desejo de se ferir;
- Dificuldade em tomar decisões;
- Perda de interesse no que gostava;
- Alterações do apetite (comendo demais ou de menos).
Tratamentos
De acordo com Luiz, a intervenção diante da depressão pós-parto vai depender do seu subtipo. Se ela for leve ou moderada, por exemplo, psicoterapia ou terapia cognitivo-comportamental podem ser suficiente para tratá-la. Do contrário, o transtorno psicológico pode demandar medicamentos, o que tende a ser um processo mais desafiador em decorrência do aleitamento materno.
Embora os sais de lítio não sejam recomendados neste período, “outros medicamentos revelam-se seguros, como antidepressivos inibidores da recaptura de serotonina, de noradrenalina, ansiolíticos não-benzodiazepínicos e neurolépticos atípicos”, exemplifica o psiquiatra. Todavia, nenhum destes remédios devem ser administradas sem acompanhamento médico!
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Afinal, as diferenças entre baby blues e depressão pós-parto
Dessa forma, com os dois casos detalhados acima, Daniela resume os principais pontos que diferenciam o baby blues e a depressão pós-parto. Em síntese, o primeiro é o tempo que os sintomas de cada quadro perduram.
O segundo é voltado ao vínculo da mãe com o bebê. Diante do baby blues, o tempo torna-se amigo da puérpera, a ajudando a estabelecer o laço com o seu filho conforme as semanas vão passando e descobrindo o que funciona ou não para ela construir a sua maternidade.
Já com a depressão pós-parto, a psicóloga cita que a autoestima da mãe passa por uma fragilidade profunda. Desse modo, ela acredita que não é boa para o papel de mãe que está exercendo e nunca será.
“Além disso, a figura materna tem uma dificuldade de se relacionar com seu bebê, começando a ficar desesperada bem como não conseguindo pegá-lo no colo ou amamentá-lo”, exemplifica Daniela. Isso pode levá-la até mesmo a desenvolver crises de pânico!
Fontes: Daniela de Oliveira, psicóloga e integrante do Programa de Mudança de Hábito e Medicina do Estilo de Vida (Pro-MEV-IPQHC-HCFMUSP), Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA) e Ligia Dantas, psicóloga idealizadora da plataforma “Entra na Roda”.