Aprenda a dizer não: Sair contra a própria vontade afeta o bem-estar

Bem-estar Equilíbrio
08 de Março, 2022
Aprenda a dizer não: Sair contra a própria vontade afeta o bem-estar

Um happy hour depois do trabalho ou uma ida a um restaurante com as amigas pode recarregar os ânimos após um dia cansativo, além de render boas lembranças. Entretanto, existem dias nos quais o Netflix e a pipoca são os companheiros da vez e, nesses momentos, a melhor saíde é recusar convites para socializar — mesmo que eles venham de entes queridos. Algumas pessoas, por medo de machucarem o outro ao dizer “não”, se colocam em situações indesejadas. Um estudo publicado no Journal of Happiness Studies revelou que tal hábito pode impactar negativamente o bem-estar do indivíduo. Com autoconhecimento e confiança, é possível que você aprenda a dizer não.

A conformidade social, de acordo com a psicologia evolutiva, é o desejo de pertencer a um grupo. A maioria das pessoas tende a não destoar do grupo do qual faz parte a fim de evitar algum tipo de rejeição. Nesse cenário, alguns indivíduos passam a tomar decisões baseadas nessa vontade de estar inserido.

No entanto, determinados comportamentos podem ser prejudiciais quando alguém não ouve e respeita as próprias vontades e, assim, tem dificuldade de impor os próprios limites. 

A pesquisa

Na pesquisa, 155 estudantes foram analisados. Eles relataram as interações que tiveram três vezes por dia durante 10 dias. Além disso, eles apontavam se estavam sozinhos ou acompanhados em cada situação — e se havia sido uma escolha ou não. Depois, eles avaliaram cada momento, registrando se foram agradáveis, se a experiência havia sido positiva ou negativa e se aquela situação os causava uma sensação de controle.

Os participantes estavam acompanhados 60% do tempo e sozinhos 40%. Por fim, 64% das situações haviam sido escolhas deles, enquanto 36% não. Ao final, os pesquisadores perceberam que sentir-se capaz de fazer a escolha sobre socializar ou não tem mais impacto do que decidir ficar sozinho ou com outras pessoas.

Assim, o estudo descobriu que estar em um ambiente social contra a própria vontade tem consequências piores no bem-estar do que estar sozinho contra a vontade. Além disso, uma maior satisfação foi encontrada naqueles que estavam acompanhados por vontade própria.

“Estar com outras pessoas está associado a efeitos desejáveis caso reforce o senso de ação. Mas é prejudicial na ausência de controle”, escrevem os pesquisadores no artigo.

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Aprenda a dizer não

“Não é o dizer ‘não’ que influencia em como você se sente e sim o que você pensa acerca da situação”, explica a psicóloga Giuliana Barros. De acordo com ela, muitas pessoas sentem medo de serem mal educadas, machucar o outro ou de causarem uma má impressão ao recusarem algum convite.

“Pessoas que precisam ou que desejam a aprovação de todo mundo, consequentemente, estão mais propensas a desenvolver ansiedade e depressão, já que essa aprovação não vai ser atingida”, explica a especialista ao pontuar os motivos pelos quais é preciso que o indivíduo aprenda a dizer não.

Impor limites nas relações é extremamente importante para construir um ambiente de socialização saudável. Para isso, algumas crenças devem ser desconstruídas e substituídas por pensamentos mais realistas. Ou seja, usar a sinceridade e negar algum pedido de uma pessoa amada não faz com que você seja mal educado. Na verdade, ao respeitar as próprias necessidades, você cria uma relação de honestidade com o outro e passa a se priorizar, já que ninguém tem a obrigação de estar sempre disponível.

“Qual é o custo e qual é o benefício de dizer sim para tudo? Muitas vezes, a gente acaba se afastando do nosso objetivo. Antes de querer ser mais respeitado, você deve se perguntar: ‘eu estou me respeitando, impondo limites?’”, questiona Giuliana.

Autoconhecimento

Além do medo da rejeição, outro pilar que dificulta o “dizer não” é a falta de autoconhecimento. Quando você não tem muito bem delimitado aquilo que você gosta ou não, o que você aceita ou não, a passividade se torna extrema e atrapalha a forma com a qual você se relaciona.

Nesses momentos, por exemplo, você pode até sentir que algo te incomoda, mas tem muita dificuldade para identificar. Por meio do autoconhecimento, é possível entender as decisões que você deve tomar para se aproximar da pessoa que deseja ser. 

Fazer uma lista de coisas que você gosta de fazer desacompanhado, tirar um tempo para cuidar de si, realizar uma rotina na qual você se priorize e começar sessões de psicoterapia são alguns movimentos importantes rumo a uma vida com mais autoconhecimento. Afinal, ninguém merece dizer sim para o outro e não para si mesmo, certo?

Fonte: Giuliana Barros, psicóloga e especialista em saúde pela UNIFESP

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