Analgesia congênita e o perigo de nunca sentir dor

Saúde
04 de Fevereiro, 2022
Analgesia congênita e o perigo de nunca sentir dor

Você já imaginou se machucar e, mesmo assim, não sentir dor? Pois, apesar de parecer uma espécie de superpoder digna dos filmes de ficção, essa condição é real – e pode também ser bastante perigosa. Conheça agora as características e os riscos da analgesia congênita.

Quando o corpo não reconhece a dor

Há muitos casos que ganharam espaço na mídia porque o protagonista da história não sentia qualquer tipo de dor. Foi assim com uma brasileira, alguns anos atrás, que passou por uma cesariana sem anestesia e, em outro momento, chegou a pegar no sono enquanto dava à luz o segundo filho. 

A médica Keila Galvão, neurologista do Hospital Anchieta de Brasília, explica que a analgesia congênita é “a indiferença ou ausência de dor física”. Assim, na presença de estímulo doloroso, a pessoa pode simplesmente ignorá-lo por completo ou até sentir a dor, mas sem distinguir o limite entre o normal e o nocivo. 

Essa é uma alteração importante, uma vez que a dor é essencial para a proteção do ser humano. Isso porque ela funciona como um aviso de que algo está errado no organismo. Dessa forma, essa insensibilidade pode levar a sérios problemas de saúde. 

A boa notícia é que a analgesia congênita está entre as doenças mais raras do mundo. “É uma condição rara, com poucos casos descritos na literatura médica e confirmados geneticamente”, afirma Keila. Para se ter uma ideia, somente 40 a 50 pessoas apresentam essa condição.

Entretanto, segundo a neurologista, “há quadros ou síndromes mais complexas que podem trazer a analgesia à dor como apenas um sintoma a mais”. Vale então consultar um médico para avaliar a situação, especialmente quando se trata de crianças.

Causas e sintomas da analgesia congênita

De acordo com Keila, a causa mais associada à analgesia congênita é uma mutação do gene SCN9A no cromossoma 2q24.3. Ou seja, é uma variação genética no sistema nervoso central que impede a comunicação da sensação de dor para o cérebro

O principal sintoma é, de fato, a ausência de dor física diante de qualquer machucado, o que acontece desde o nascimento e acompanha o indivíduo pelo resto da vida. Um bebê pode, então, sofrer arranhões ou cortes e não reclamar, por exemplo. “Crianças com mordedura de lábios ou bochechas, trauma por quedas ou fraturas, machucados e perdas de pontas de dedos ou de dentes em crianças, inflamações ou infecções, lesão ocular. Tudo sem dor. A criança chora devido a sintomas emocionais, mas não por dor”, explica a médica, recomendando muita cautela para pais e cuidadores, que devem ficar atentos a sinais que indiquem que a criança não sente dor. Além disso, irritabilidade e hiperatividade podem estar associadas à analgesia congênita.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da analgesia congênita é realizado a partir das queixas dos pais, exames neurológicos e avaliação genética. O especialista solicita gene único quando o quadro clínico é compatível com gene específico ou com painel multigenes, abrangendo todos os principais genes conhecidos.

Com relação ao tratamento, Keila informa que se baseia em atenção multidisciplinar que envolve cuidados de enfermagem, terapia ocupacional, escola, pais e cuidadores. A patologia, infelizmente, não tem cura e pode apresentar altos riscos para o portador, como lesão de córnea, mordedura de língua, infecções localizadas ou disseminadas, deformidades articulares como resultado de múltiplos traumas, queimaduras, perda de dentição e amputações.

As recomendações de segurança englobam checagem frequente de lesões e uso de protetores de pés, tornozelos e cotovelos durante atividades que possam trazer risco. “Monitorar possíveis lesões e infecções de pele e ouvido, regiões vulneráveis como pés, mãos, dedos, observar ocorrência de assaduras, afastar traumas oculares. É orientado checagem noturna, uso de hidratantes (porque a pele pode ficar mais propensa a infecções), imobilizar lesões para facilitar a cicatrização, porque a criança não sente dor e irá se expor novamente ao trauma”, finaliza a médica.

Fonte: Dra. Keila Galvão, neurologista do Hospital Anchieta de Brasília.

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