Varíola símia: conheça a vacina em negociação pelo Ministério da Saúde

Saúde
12 de Agosto, 2022
Varíola símia: conheça a vacina em negociação pelo Ministério da Saúde

Em meio ao surto mundial de casos de varíola símia – com mais de 33 mil casos confirmados até o dia 10 de agosto –, autoridades de saúde tentam adquirir a vacina e imunizar pessoas consideradas de alto risco. Nesta semana, o ministro da saúde Marcelo Queiroga afirmou que está negociando a compra de 50 mil doses do imunizante com a Organização Panamericana da Saúde (Opas). Profissionais da saúde que lidam diretamente com a doença serão os primeiros a receberem as doses. Mas afinal, como é essa vacina? Quem a fabrica? O Brasil pretende produzi-la?

Entenda sobre a vacina contra varíola símia

A vacina que o Ministério da Saúde pretende comprar é a Jynneos/Imvanex (ela recebe nomes diferentes dependendo do país em que ocorre o comércio). Além disso, o laboratório dinamarquês Bavarian Nordic é responsável pela produção do imunizante. Trata-se de uma vacina que contém uma forma atenuada (enfraquecida) não replicante do vírus Vaccínia Ankara modificado (MKA), que está relacionado com o vírus da varíola. Isso significa que o vírus não é capaz de se reproduzir e causar a doença em quem recebe o imunizante.

Ela é um pouco diferente da primeira versão da vacina contra a varíola. Na década de 1970, esta ajudou a erradicar a doença globalmente. Segundo o infectologista pediátrico Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein, o primeiro imunizante era feito com o vírus vivo replicante. Ou seja, poderia causar a doença em alguns pacientes (especialmente naqueles com baixa imunidade) e tinha mais efeitos colaterais.

“A produção dessa vacina não aconteceu de uma hora para a outra, nem especificamente para combater casos de varíola símia. Ao longo do tempo, foram descobrindo outras vacinas contra a varíola até chegarem nessa versão do vírus vivo atenuado, com menos efeitos colaterais. Mas, como a doença estava erradicada, ela não existe em larga escala. Usava-se apenas para situações específicas, por militares, por exemplo”, explica Gilio.

Proteção em animais

Como os vírus da varíola humana e da varíola símia são muito semelhantes, acredita-se que a Jynneos/Imvanex proteja contra as duas doenças. Isso porque historicamente a vacinação contra a varíola comum se mostrou protetora contra a varíola símia. No entanto, essa imunidade cruzada da vacinação está limitada às pessoas mais velhas, já que a varíola foi considerada oficialmente erradicada em 1980 e, desde então, a vacina não foi aplicada de forma massiva em nenhum país. No Brasil, muito provavelmente só quem nasceu antes de 1975 foi imunizado contra a versão humana da doença. Nos últimos anos, não aplicou-se nenhuma dose da vacina.

Segundo dados da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), estudos mostraram que ela é eficaz na produção de anticorpos contra a varíola, mas ainda não se sabe a duração da proteção. Além disso, estudos feitos em animais mostraram proteção contra a varíola símia em primatas não vacinados e expostos ao vírus.

“Teoricamente, essa é uma vacina que causa proteção para a vida toda, como a do sarampo. E o que temos visto no surto de varíola símia é que os infectados são, sobretudo, pessoas jovens, com menos de 40 anos e que não receberam a vacina da varíola”, diz Gilio.

A aplicação deve ser feita subcutânea, de preferência no braço. Assim, o sistema imunológico reconhece os vírus presentes como corpos estranhos e passa a produzir anticorpos contra eles. Assim, se a pessoa entrar em contato com vírus semelhantes (como o da varíola símia), estes anticorpos entrarão em ação. Outros imunizantes usam essa mesma técnica de vírus vivo enfraquecido. Entre elas: a vacina contra o sarampo, rubéola e a forma oral da vacina contra a poliomielite.

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Escassez no mundo

A recomendação do fabricante é que as pessoas recebam duas doses de 0,5 ml, com intervalo de 28 dias entre as aplicações. Mas, por causa da escassez do imunizante no mundo, a FDA (agência americana que regulamenta o uso de fármacos e alimentos) autorizou o uso emergencial da vacina em doses fracionadas – cada frasco será dividido em 5 com o objetivo de ampliar a quantidade de vacinas.

“Ela é produzida por um único laboratório que com certeza absoluta não tem capacidade de produção suficiente para atender toda a demanda. A intenção do fracionamento é otimizar ao máximo as doses e tentar diminuir a velocidade de disseminação da doença”, alerta Gilio.

Os efeitos secundários mais frequentes são dores de cabeça, náuseas, fadiga e reações no local da injeção (dor, vermelhidão, inchaço). Por ser uma vacina de vírus atenuado, o risco de efeitos adversos é menor do que o da vacina tradicional contra a varíola. Por isso, ela é recomendada para pessoas que não podem receber vacinas que contém vírus replicadores, como pessoas com sistema imune enfraquecido – entre eles portadores de HIV.

Segundo a Agência Europeia de Medicamentos, o fabricante vai acompanhar os benefícios e riscos da vacina contra varíola símia a partir de um estudo observacional que será feito a partir do atual surto da doença para confirmar a proteção contra a infecção.

“Acreditamos que a varíola símia não vai se espalhar como a Covid-19, que tem uma transmissão respiratória muito importante, mas a rapidez do avanço dos casos é preocupante”, completou Gilio.

Negociação de vacina contra varíola símia

O Ministério da Saúde confirmou à Agência Einstein, por meio da assessoria de imprensa, que está em negociação a aquisição de 50 mil doses da vacina e que a expectativa é receber uma parte delas em setembro e outra em outubro. O governo ainda não definiu como será o plano de vacinação e nem se pretende fracionar as doses para aumentar a quantidade de vacinas – isso só será definido após a confirmação do recebimento dos lotes. O Instituto Butantan informou que ao menos por enquanto não há nenhuma negociação para produção do imunizante no Brasil.

Em 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de varíola símia uma emergência de saúde pública de importância internacional. O atual surto começou em meados de maio e até agora afetou 89 países ao redor do mundo.

Fonte: Agência Einstein

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