Vaginismo afeta o bem-estar e pode ter causas emocionais
Não, sentir dor durante a relação não é normal. O problema, ignorado por muitas pessoas, deve ser investigado e tratado adequadamente para que não prejudique a vida sexual e o bem-estar de quem sofre com ele. E entre as possíveis causas da sensação de incômodo na penetração, está o chamado vaginismo.
A condição não possui uma causa muito bem definida pela literatura científica, mas especialistas apontam que questões emocionais, como traumas e tabus, são fatores que contribuem para o aparecimento do transtorno. Saiba mais sobre ele a seguir:
Afinal, o que é o vaginismo?
A fisioterapeuta pélvica Cristina Nobile, especialista em dor, explica que o vaginismo está descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) como um dos dois tipos de Transtorno de Dor Gênito-Pélvica/Penetração (DGPP) – ao lado da dispareunia.
“O vaginismo é uma disfunção que se caracteriza principalmente por uma contração involuntária da musculatura do assoalho pélvico. Essa musculatura, que envolve o canal vaginal, contrai tanto que acaba estreitando o canal vaginal. Desse modo, faz com que a penetração se torne impossível”, complementa a profissional.
Quais são os sintomas do vaginismo?
Os sinais podem variar de acordo com o grau de disfunção apresentado, mas na maioria das vezes estão presentes desde a primeira relação sexual.
“A pessoa não consegue realizar nenhum tipo de penetração vaginal, nem do próprio dedo, não consegue inserir medicação e não realiza exames ginecológicos”, diz Cristina Nobile. Assim, ao tentar, ela sente dor intensa, ardência e até a sensação de que não há canal vaginal.
“Por mais que deseje a penetração, ela sente medo e ansiedade, fazendo com que todo o seu corpo responda com uma contração exacerbada e de evitação.”
Possíveis causas
Não há consenso entre os especialistas sobre qual seria a causa definitiva do vaginismo. Na verdade, acredita-se que a condição seja a consequência de um conjunto de fatores.
A fisioterapeuta pélvica afirma que é muito recorrente na prática clínica pacientes relatarem educação rígida, fatores religiosos associados, medo de engravidar, traumas relacionados a abusos ou a experiências prévias dolorosas, a própria forma de enxergar o sexo, alterações no hímen e problemas clínicos. “O que se sabe é que, independentemente da causa, o modo como o corpo reage é o mesmo.”
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Vaginismo e dispareunia: diferenças
Como já dito anteriormente, tanto o vaginismo quanto a dispareunia são classificados pelo DSM-V como Transtornos de Dor Gênito-Pélvica/Penetração. No entanto, enquanto no vaginismo a penetração se torna impossível, na dispareunia ela chega a acontecer, mas sempre acompanhada de dor.
Tratamento
É por isso que esses transtornos não devem ser negligenciados, e sim tratados logo após o diagnóstico – que deve ser feito por um fisioterapeuta especializado e geralmente envolve avaliação física e conversa com a paciente.
“Diagnóstico e grau da disfunção fechados, já é possível traçar o protocolo de tratamento mais indicado. Nele, é estipulada a quantidade de sessões e a duração aproximada”, explica Cristina Nobile, que complementa que a fisioterapia pélvica apresenta uma taxa de sucesso de aproximadamente 97%. “Um número bastante expressivo para um problema que parece ‘incurável’.”
Existe relação entre a menopausa e o vaginismo (ou a dispareunia)?
De acordo com a especialista, uma condição mais comum na menopausa é a chamada atrofia vaginal, questão causada por alterações hormonais típicas da fase.
“A atrofia acomete principalmente o tecido vaginal e vulvar, deixando-o muito sensível, o que provoca a sensação de ardência. A lubrificação, por estar diminuída, gera muito atrito. Essa união de fatores acaba sendo a causa para o aparecimento da dispareunia”, conta. Ela ressalta que, se a paciente na menopausa não tratar a dispareunia adequadamente, ela pode evoluir para um quadro de vaginismo.
Fonte: Cristina Nobile, fisioterapeuta pélvica e especialista em dor.
Referência: Febrasgo, Dor na genitália e na relação sexual.