Trimetilaminúria: conheça os sinais da “síndrome do odor de peixe”

Saúde
09 de Setembro, 2022
Trimetilaminúria: conheça os sinais da “síndrome do odor de peixe”

Provavelmente você não conseguiu pronunciar o termo na primeira leitura, que é atribuído a uma doença genética rara e silenciosa. A trimetilaminúria causa o cheiro característico do peixe nas pessoas que possuem a condição. Por essa razão, o problema também é conhecido por “síndrome do odor de peixe”.

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O que é e quais as causas da trimetilaminúria?

Dissemos acima que a doença possui origem genética, mas o que é a trimetilaminúria? De acordo com Natálya Pereira, geneticista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, o distúrbio afeta o metabolismo, que não produz a enzima FMO3 que “quebra” as moléculas de trimetilamina, uma substância presente em alguns alimentos. Este elemento confere o mau cheiro de alguns alimentos, como o peixe e o ovo.

Em condições normais, o organismo processa a trimetilamina e neutraliza o odor. No entanto, a trimetilaminúria impede esse tipo de filtro. “Como resultado, a pessoa libera excessivamente a trimetilamina nos fluidos corporais: urina, suor e gotículas de respiração, por exemplo. Esses fluidos possuem o odor desagradável, similar ao do peixe podre”, explica.

Alimentação é o principal gatilho para o odor

Embora a síndrome seja assintomática — a pessoa é aparentemente saudável, sem outros sinais físicos que indiquem o problema — ela pode causar transtornos psicológicos e sociais ao indivíduo, segundo Natálya. E o principal inimigo que ativa o odor de peixe da trimetilaminúria pode estar no prato. “Alimentos com alto teor de precursores de trimetilamina ou inibidores da atividade da enzima FMO3 frutos do mar estão entre os principais responsáveis por ativar o mau cheiro”, afirma a geneticista. Veja alguns exemplos de alimentos que agravam o quadro:

  • Peixes e crustáceos (incluindo suplementos de óleo de peixe)
  • Ovos e miúdos.
  • Soja e produtos com derivados do grau.
  • Leguminosas.
  • Brássicas (couve de Bruxelas, brócolis, repolho, couve-flor…)
  • Suplementos alimentares e alimentos “saudáveis” que contêm altas doses de colina e lecitina.

Além da alimentação, outros fatores podem favorecer o problema, como o uso de drogas, estresse, exercício físico e distúrbios emocionais. Com essas restrições, você deve estar pensando nos desafios de se conviver com a doença, já que quase todas as situações podem colaborar para os episódios do mau odor. Afinal, como não se exercitar de alguma forma ou bloquear o estresse e outros possíveis transtornos que envolvem a saúde emocional?

Tratamento da trimetilaminúria

Felizmente, Nataly explica que é possível controlar o sintoma da trimetilaminúria e ter mais qualidade de vida e autoconfiança. “Contudo, isso exige a restrição dos alimentos que desencadeiam o odor fétido. Além disso, alguns medicamentos podem inibir produção da trimetilamina, reduzindo as bactérias no intestino. Por exemplo, metronidazol, amoxicilina e neomicina, que são antibióticos que necessitam de uso contínuo e orientação médica”, pontua a especialista.

Para a higiene pessoal, o tratamento inclui o uso de sabonetes ácidos e loções corporais que ajudam a remover a trimetilamina. “Outros aliados são o carvão ativado e a clorofilina de cobre, que ‘sequestra’ a trimetilamina do intestino; e, por fim, o médico pode indicar suplementos para aumentar a atividade residual da enzima FMO3”, acrescenta.

Perguntas frequentes

A doença tem cura?

Não há uma cura definitiva para a condição, apenas o controle da rotina, da alimentação e o uso de medicamentos para evitar o mau cheiro. Por isso, também é importante que a pessoa busque apoio psicológico, já que poderá lidar com situações constrangedoras e preconceituosas em público.

O cheiro ruim é liberado o tempo todo?

Não. A pessoa não exala o mau odor a todo momento, apenas se comer algum ingrediente que estimula o processo ou se expor às demais situações que provocam o metabolismo. Além disso, boa parte dos pacientes manifestam a trimetilaminúria de forma sutil, percebida apenas pelo contato próximo ou ao cheirar a própria pele ou hálito, por exemplo.

Quais médicos diagnosticam a trimetilaminúria?

O melhor especialista para identificar o quadro é um médico geneticista. Caso haja suspeita de trimetilaminúria, o profissional pode pedir uma amostra de urina para analisar os níveis de trimetilamina e N-óxido de trimetilamina no corpo. Vale dizer que a síndrome é rara: costuma afetar uma a cada 200 mil pessoas. O teste genético também pode ser uma opção para confirmar o diagnóstico, mas é pouco utilizada, pois não consegue mapear mutações mais raras.

Existe algum grupo de risco?

A princípio, qualquer pessoa pode carregar a deficiência no metabolismo. Mas uma pesquisa de 2014 feita em Portugal apontou que a prevalência da trimetilaminúria é maior em mulheres. Entretanto, a amostragem é baixa e serve apenas de referência local, mas pode indicar um caminho para estudos mais complexos sobre o tema.

Fonte: Natálya Pereira, geneticista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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