Transtorno bipolar na maternidade: como conviver com a condição nessa fase?
O transtorno bipolar é uma condição delicada, que causa mudanças profundas de humor. Porém, enfrentar os altos e baixos do distúrbio durante a gravidez e após o parto é especialmente desafiador para as mães. “Elas podem ficar mais propensas a maiores entraves psiquiátricos e educativos em comparação com as mulheres que estão em tratamento para outras doenças psiquiátricas”, explica Sônia Palma, psiquiatra da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. A seguir, saiba como lidar e conviver com o transtorno bipolar na maternidade.
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Primeiro, o que é o transtorno bipolar?
Se você não sabe ou ainda tem dúvidas sobre o que é o transtorno, eis uma breve explicação. O transtorno bipolar é uma condição que provoca oscilações de humor no indivíduo. No entanto, elas são exageradas, pois se alternam entre momentos de euforia, com picos de energia, e fases de extrema depressão. Tais picos ocorrem subitamente, mas a duração é imprecisa.
De acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), cerca de 6 milhões de pessoas apresentam o transtorno. Contudo, o diagnóstico do transtorno bipolar pode demorar anos – até a descoberta, o paciente enfrenta diversas dificuldades para levar uma vida normal. Por esse motivo, o número de indivíduos com TB pode ser maior do que o estimado.
Transtorno bipolar na maternidade: por que o quadro exige atenção e cuidados?
Se a bipolaridade já é complexa, a maternidade pode torná-la ainda mais exaustiva entre as futuras mães. “Quando o bebê nasce, as mães se deparam com diversas mudanças na rotina, incluindo as alterações no sono. Então, os pais de um recém-nascido precisam se levantar várias vezes durante a noite por vários meses. Essa situação colabora para a privação de sono, que pode desencadear novos episódios de humor entre as mulheres com transtorno bipolar”, afirma Sônia Palma.
Afinal, segundo a especialista, muitas mamães interrompem o uso de medicamentos com medo de afetar o bebê durante a amamentação. Além disso, a incidência de depressão pós-parto é maior, o que potencializa as emoções e pensamentos negativos.
O transtorno bipolar na maternidade pode distanciar a mãe do bebê, pois não consegue ver a maternidade como algo positivo. Como resultado, acaba deixando os cuidados com o bebê de lado e manifesta pensamentos autodestrutivos. Assim, é essencial observar o comportamento materno e buscar acolhimento profissional.
“Inclusive, o diagnóstico de transtorno bipolar muitas vezes é feito no período após o parto. Cerca de metade das mulheres podem ter o primeiro episódio de transtorno do humor (depressão ou transtorno bipolar) nesta fase da vida”, acrescenta a psiquiatra da BP.
Como conviver com o transtorno sendo mãe recentemente?
Ao contrário do que se pensa, os medicamentos para o TB não comprometem o aleitamento, tampouco a saúde do bebê. “Portanto, o uso regular da medicação, além de um sono restaurador são importantes para o equilíbrio emocional nestas mulheres, tanto durante quanto após a gravidez”, reforça Sônia Palma.
O acompanhamento médico também se faz necessário e muito útil para fortalecer a saúde mental da mãe.
No caso de mulheres que não possuem o diagnóstico e se deparam com a dificuldade de lidar com as emoções, é igualmente fundamental ter o apoio de um psiquiatra e psicólogo. Assim, é possível avaliar se existe o transtorno bipolar ou outro tipo de distúrbio psiquiátrico.
Com o diagnóstico confirmado, os profissionais envolvidos no tratamento precisam buscar o melhor caminho para o controle do TB. “Cada situação deve ser avaliada individualmente. A gestante e a família precisam ter ciência dos riscos e benefícios dos tratamentos para que possam fazer uma escolha adequada e consciente. Estas mulheres devem receber uma assistência mais próxima do psiquiatra, obstetra e terapeuta”, ressalta.
Gestos que fazem a diferença para a mãe com transtorno bipolar
Se de um lado está a mulher que precisa continuar o tratamento com assiduidade, do outro devem estar a família e pessoas próximas para apoiá-la.
Por isso, se você tem proximidade com uma mãe que possui TB ou há suspeitas sobre a condição, seu papel será fundamental. Algumas atitudes que ajudam a paciente, segundo a psiquiatra Sônia Palma:
- Orientar e incentivar a buscar ajuda profissional.
- Acompanhar nas consultas.
- Estimulá-la a comparecer nas consultas e a seguir as orientações médicas e psicoterápicas.
- Incentivá-la a adotar um estilo de vida saudável.
- Conversar com os profissionais sobre um comportamento de poucos cuidados ou negligente com o bebê.
- Avisar os profissionais se a mãe apresentar alguma ideação ou comportamento suicida.
- Convidá-la para participar de atividades prazerosas. Principalmente junto com o bebê.
- Diminuir, na medida do possível, os impactos de eventos estressores, ajudando a cuidar do bebê à noite ou mesmo com os cuidados diários com a criança.
- Auxiliar a manter boa higiene do sono e desencorajar o uso de drogas e álcool.