Quem tem diabetes pode amamentar?
O aleitamento materno é a melhor maneira de alimentar o bebê. Geralmente, recomenda-se que o pequeno receba o leite materno exclusivamente até os seis meses de idade, e que a partir daí, seja iniciada a introdução alimentar. Mas e quem tem diabetes, pode amamentar? A resposta é sim! Além disso, a amamentação pode ajudar tanto a mãe a controlar melhor a glicose, como também diminui o risco do bebê desenvolver diabetes do tipo 1 ou tipo 2.
“Mulheres com diabetes podem e devem amamentar, ou seja não há nenhuma contraindicação pelo diabetes em relação à amamentação. Contudo, se há alguma contra indicação é por outro motivo, nunca pelo diabetes”, explica Patrícia Dualib, endocrinologista e coordenadora do Departamento de Diabetes Gestacional da Sociedade Brasileira de Diabetes.
E a amamentação foi estimulada e recomendada para Sheila Vasconcellos, de 52 anos e que convive há mais de 30 anos com o diabetes tipo 1. O sonho de ser mãe e de amamentar seus dois filhos foram realizados sem maiores dificuldades. “Amamentar não foi um desafio grande, porque sempre tive muito prazer, me sentia próxima dos meus filhos. E não tive nenhum problema para amamentar os dois”, conta a jornalista.
Benefícios da amamentação para mãe e bebê
Além de todos os benefícios já conhecidos da amamentação, como prevenção do câncer de mama na lactante e a diminuição do risco de desenvolvimento de sobrepeso, obesidade e infecções variadas no bebê, este ato pode ajudar a mãe que tem diabetes a controlar a glicemia, mas não só isso. “Existem vários vários estudos que mostram que bebês aleitados têm menor chance de ficarem obesos e menor chance de terem diabetes, seja o tipo 1 ou tipo 2”, destaca a endocrinologista.
Além disso, a especialista destaca que o bebê que se desenvolve dentro de um útero de uma mãe que tem diabetes, a criança tem mais chance de desenvolver a condição ou ter algum certo grau de intolerância à glicose ao longo da vida dela. Por isso, a amamentação é tão importante.
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O diabetes afeta a qualidade do leite?
De acordo com a endocrinologista, o diabetes não impacta na qualidade do leite. “A qualidade do leite de uma mulher que teve diabete gestacional ou que tem diabetes é exatamente a qualidade do leite de uma mulher sem diabetes”, destaca.
Amamentar pode ajudar a evitar o diabetes tipo 2 nas mães
Outro benefício da amamentação para as mães é ajudar na prevenção do diabetes tipo 2, principalmente naquelas que tiveram diabetes gestacional. “Já se sabe que o diabetes durante a gestação é um risco para desenvolver o tipo 2 ao longo da vida: essas mulheres têm até dez vezes maior risco de terem a condição”, explica Patrícia.
E aí, entra a importância da amamentação. “Contudo, estudos apontam que a incidência de diabetes tipo 2 em mulheres que tiveram diabetes gestacional, mas amamentaram é bem menor.”
Quem tem diabetes pode amamentar, mas alguns cuidados são necessários
“Eu lembro de um episódio em casa, que tive uma hipoglicemia que me deixou desorientada. Cheguei a misturar arroz com suco de maracujá na tentativa de subir a glicemia. Recebi ajuda da minha mãe que me ajudou a tomar água com açúcar”, conta Sheila.
Esse episódio de hipoglicemia que Sheila passou é o principal risco das mães que têm diabetes e estão amamentando. É sabido que a amamentação ajuda a eliminar os quilos extras ganhos ao longo da gestação, por conta do gasto calórico e, por isso, podem levar a queda da taxa de açúcar no sangue.
Todavia, não é motivo para desespero: com pequenos ajustes e cuidados é possível evitar esses episódios de hipoglicemia. O ideal é que as mães verifiquem a glicemia na ponta do dedo ou com uso de sensor antes de amamentarem. Se o valor estiver abaixo ou próximo de 70 ou 80 mg/dL, o ideal é ingerir algum carboidrato antes por segurança. O mesmo cuidado vale, também, após a amamentação.
E se a glicemia estiver alta?
De acordo com a representante da SBD, não há nenhuma orientação ou contra indicação caso a mãe esteja com a glicemia elevada durante a amamentação. “Muito pelo contrário, se elas estiverem com a glicemia mais alta, a amamentação vai ajudar a diminuir”, destaca Patrícia.
Uso de medicamentos e insulina durante a amamentação
Outra dúvida muito comum em mamães que possuem diabetes é se os medicamentos que elas usam para tratar a condição podem interferir na qualidade do leite. Os mais seguros são a insulina e a metformina, muito utilizada no tratamento do tipo 2 da condição, que podem ser mantidos durante a amamentação.
Em relação aos demais, é importante redobrar a atenção e conversar com o médico. Entre os principais medicamentos, as sulfonilureias como a glibenclamida, gliclazida, glipizida e a glimepirida ainda carecem de mais estudos. “Temos alguns artigos publicados que mostram alguma segurança, mas ainda temos menos evidências científicas”, faz o alerta.
Em relação aos demais hipoglicemiantes, como os inibidores de DPP-4 (Sitagliptina, Saxagliptina, Linagliptina e Alogliptina), e SGLT2 (Canagliflozina, dapagliflozina, empagliflozina e ertugliflozina), análogos de GLP 1 (semaglutida, liraglutida e dulaglutida) e a pioglitazona ainda não possuem evidência que são seguras para uso durante a amamentação.
Fonte: Patricia Dualib, endocrinologista e coordenadora do Departamento de Diabetes Gestacional da Sociedade Brasileira de Diabetes.