Pandemia de obesidade: os riscos da doença e como prevenir
O acúmulo excessivo de gordura corporal na população mundial causou uma pandemia de obesidade. Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, existem mais de 18 milhões de pessoas com a condição no Brasil. A obesidade é uma doença multifatorial, em que fatores genéticos, metabólicos, sociais, psicológicos e ambientais estão envolvidos. A cada ano, surgem 2 milhões de novos casos. Mas quando saber que o aumento dos números na balança pode ser considerado obesidade? Quais são os tratamentos que ajudam a ter mais saúde e qualidade de vida?
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Porque a obesidade é considerada uma epidemia?
A obesidade é uma epidemia em todo o mundo, até em países que antes lutavam com a desnutrição, como a África. De acordo com a Dra. Paula Pires, endocrinologista e metabologista, uma das principais causas para esse aumento expressivo é o aumento do consumo de alimentos industrializados. “Estudos indicam que esse tipo de comida é viciante, diferente da comida caseira, que sacia mais”, explica.
Em geral, trata-se de uma doença herdada geneticamente, mas também pode surgir em determinadas situações. Por exemplo, em mulheres depois da gestação ou após a menopausa, período em que a mulher pode engordar de 4 a 6kg por conta da falta de estrógeno e queda do metabolismo. Além disso, pode surgir após o uso de medicações, como corticoides ou remédios psiquiátricos que alteram o metabolismo e a fome.
Pandemia de obesidade: quais são as causas da doença?
A Dra. Paula explica que mais de 80% dos casos de obesidade têm um padrão genético por trás. Isto é, a doença pode começar na infância e se perpetuar na vida adulta.
“Mais de 75% dos adolescentes com a doença carregam a obesidade até a fase adulta. Por isso, romper esse ciclo da genética é muito difícil. O tratamento é medicamentoso e com mudanças no estilo de vida como exercícios, controle do estresse, alimentação e manejo do sono. Mas se parar o remédio, na grande maioria das vezes, a obesidade volta”.
Doenças relacionadas à obesidade
Existem mais de 200 doenças que podem estar relacionadas com a obesidade. Por exemplo:
- Diabetes tipo 2
- Doenças cardiovasculares, como infarto e AVC
- problemas articulares, como dores no joelho e artrose
- Infertilidade
- Depressão
- Ansiedade
A boa notícia é que pessoas com obesidade não precisam perder peso ao ponto de ficarem magras, ao menos que elas queiram. De acordo com Paula, perder apenas 10% já diminui o risco de várias comorbidades.
Afinal, como diagnosticar a obesidade?
De acordo com a Dra. Paula Pires, endocrinologista e metabologista, existem várias formas de diagnosticar a obesidade. Por exemplo, por meio do Índice de Massa Corporal, um cálculo feito pelo peso/altura X altura. Então, classifica-se a doença de acordo com o resultado. “De 25 a 30, caracteriza-se o sobrepeso. Acima de 30 é obesidade. De 30 a 35 é obesidade grau 1, de 35 a 40 obesidade grau 2 e acima de 40 é obesidade grau 3”, explica.
No entanto, esse cálculo é controverso e não pode ser considerado o único parâmetro. A médica exemplifica com o caso de uma pessoa muito forte, que faz musculação e tem bastante massa muscular. Nesse caso, o IMC pode indicar obesidade. Por isso, outra forma para diagnosticar a doença é medir a circunferência abdominal com a ajuda de uma fita métrica. “Valores acima de 90 para homens e 80 para mulheres já indicam uma obesidade visceral. O resultado indica que a pessoa possui grande quantidade de gordura corporal, o que eleva o risco de obesidade”, aponta a Dra. Paula.
Melhores tratamentos para a pandemia de obesidade
Muitas pessoas acham que para tratar a obesidade basta fechar a boca e fazer exercícios. No entanto, Paula reforça a importância do uso de medicamentos específicos. “Pessoas com obesidade têm o apetite aumentado e preferência por comidas mais palatáveis. Muitas vezes a gente precisa de remédio para que aquela pessoa tenha uma saciedade normal e assim consiga fazer a dieta”.
A boa notícia é que a ciência da obesidade tem evoluído. Assim, a tendência é que possamos ver, nos próximos anos, uma grande revolução no tratamento da doença. Segundo a Dra. Paula, a expectativa é que seja possível até interromper o ciclo da doença desde a gestação, evitando assim que os genes da obesidade sejam passados de mãe para filhos.
“Antigamente a gente ficava esperando o paciente crescer pra começar. Hoje em dia as crianças já estão tratando a obesidade por meio de atividade física diária, menos tempo de tela e mudanças sutis na alimentação”, explica.
Cirurgia bariátrica
Mas afinal, quando a cirurgia bariátrica é recomendada? De acordo com a Dra. Paula, após 2 anos de tratamento clínico com remédios, equipe multidisciplinar e mudanças no estilo de vida. “Após esse período, caso o paciente não alcance grandes resultados, ele pode fazer a cirurgia bariátrica. É uma cirurgia de baixo risco, mas que exige uma equipe disciplinar. O paciente terá que tomar vitaminas para o resto da vida, não é um milagre. Inclusive, 30% dos pacientes recupera todo o peso perdido após a cirurgia, por isso é importante que as mudanças sejam para o resto da vida”, explica.
Como prevenir a pandemia de obesidade?
“O segredo é nunca engordar muito. Quanto mais exercícios melhor, menos industrializados e mais comida caseira. Começar a cozinhar, aprender sobre nutrição, o que são as proteínas, o que são carboidratos bons. O sono é fundamental para manejar o estresse. Tudo isso desinflama o organismo, melhora o apetite, melhora o sono e previne a obesidade”, explica Paula.
Então, a dica é procurar especialistas em obesidade, como endocrinologistas, metabologistas ou nutrólogos. “Eles vão tratar o paciente sem estigmatizar e sem fórmulas mágicas”, sugere a Dra. Paula. Por fim, a especialista sugere dois pontos fundamentais para prevenir a obesidade:
- Durma bem: O sono é fundamental para prevenir a obesidade. Por isso, saia do celular cerca de 1h30 antes de dormir
- Pratique exercício físico sempre que puder. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 a 300 minutos de atividade física de moderada intensidade por semana (ou atividade física vigorosa equivalente) para todos os adultos, e uma média de 60 minutos de atividade física aeróbica moderada por dia para crianças e adolescentes.
Veja a entrevista completa com a Dra. Paula Pires: