Obesidade e doenças cardíacas: o que é mito e o que é verdade?
A obesidade é uma doença complexa, que causa diversas alterações no metabolismo. Aproximadamente 60% dos adultos brasileiros já têm excesso de peso — ou seja, cerca de 96 milhões de pessoas. Além disso, 1 em cada 4 convivem com a obesidade, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde PNS/2020. Além de afetar a mobilidade e a autoestima, a obesidade pode desencadear doenças cardíacas e outras metabólicas, como diabetes e colesterol alto.
Contudo, por mais perigosa que seja, ainda falta entendimento da população sobre as consequências. Sem falar no preconceito e nos mitos sobre o assunto.
Francisco Lopez Jimenez, diretor de Cardiologia Preventiva da Mayo Clinic, esclareceu algumas dúvidas sobre o assunto.
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É mais difícil diagnosticar doenças cardíacas em pessoas com obesidade
Sim, é verdade. Para receber o diagnóstico adequado de uma doença cardiovascular, o paciente com obesidade enfrenta mais dificuldades. Afinal, a obesidade faz com que praticamente todos os exames que temos em cardiologia sejam afetados.
Então, a capacidade dos exames para diagnosticar doenças cardíacas quando o paciente tem obesidade já não é tão exata. Aliás, a presença de obesidade faz com que as provas diagnósticas sejam falsamente negativas, até com resultados dentro da normalidade.
Isso acontece pois há um panículo adiposo entre a superfície da pele e o coração. Contudo, se este panículo é muito grosso, como é o caso de muitos paciente com obesidade, pode impedir a leitura correta de diversos exames.
Por exemplo, eletrocardiograma, ecocardiograma, ressonância magnética ou tomografia. Como resultado, muitos diagnósticos cardiovasculares escapam.
Além disso, pessoas com obesidade vão ter mais probabilidade de ter sintomas que também indicam possíveis doenças cardíacas. Falta de ar, palpitações, sensação de desmaio, dor nas pernas ao caminhar…
Então, o clínico tem que saber, com certa experiência, em que momento esses sintomas já estão além do que seria normal para um paciente com obesidade.
É possível não ter sobrepeso e sofrer as consequências da obesidade
Verdade. Pessoas sem sobrepeso podem apresentar um alto índice de gordura corporal e, dessa forma, prejudicar a saúde cardíaca.
Isso acontece quando o índice de massa corporal é normal (IMC), mas a pessoa tem alto percentual de gordura acumulada. Todavia, a única maneira de constatar o quadro é medindo a gordura corporal.
Se uma mulher tem mais de 35% de gordura corporal, ou homem tem mais de 25% de gordura, mesmo que o IMC seja normal, existe o risco de sofrer as mesmas consequência da obesidade. Essa combinação pode oferecer perigos à saúde cardíaca, pois significa a presença de muita gordura abdominal e pouco músculo.
Pessoas com obesidade e doenças cardíacas não podem fazer cirurgia bariátrica
Mito. É preciso analisar caso a caso. Mas, em geral, a maioria dos pacientes não tem contraindicação absoluta por ter uma enfermidade cardíaca.
No entanto, essa condição precisa apresentar bom controle, longe da fase ativa. Por exemplo, se o paciente tem insuficiência cardíaca sob controle, é possível realizar a cirurgia.
Em contrapartida, se o paciente teve um quadro recente de exacerbação da insuficiência, a cirurgia é contraindicada até que o controle adequado.
De qualquer forma, é fundamental reconhecer todas as doenças e condições crônicas, fazer o tratamento ideal e manter o acompanhamento médico para avaliar a evolução.
Por isso, o envolvimento multidisciplinar, com interação entre os especialistas, pode favorecer a saúde da pessoa com obesidade e outros problemas.