Número mundial de espermatozoides pode estar em queda
Recentemente, um estudo global constatou que o número de espermatozoides ao redor do mundo parece estar em queda. A conclusão ainda é alvo de debates entre especialistas e não resulta, necessariamente, em casos de infertilidade — mas levanta algumas questões. Entenda melhor:
Como funciona a contagem do número de espermatozoides ao redor do mundo?
Uma revisão sistemática feita pelos mesmos cientistas em 2017 já havia constatado a diminuição. Ela foi feita com homens da América do Norte, Europa e Oceania. Agora, a pesquisa atual, publicada na revista Human Reproduction, incluiu também informações da América Central e do Sul, da África e da Ásia, além de dados das outras regiões.
Ao todo, foram utilizados 223 levantamentos com mais de 57 mil amostras de sêmen. Eles foram divididos em dois grupos: estudos que selecionaram homens sem levar em conta seus status de fertilidade; e pesquisas feitas somente com indivíduos comprovadamente férteis.
De acordo com o médico Dr Matheus Roque, especialista em reprodução humana, a avaliação geralmente é feita por meio do espermograma, um exame que analisa a concentração (por ml) e o número total de espermatozoides no sêmen humano.
“Estudos desde a década de 70 vêm observando um declínio anual nessa concentração e na quantidade total de espermatozoides ejaculados, que tornou-se ainda mais importante a partir dos anos 2000. As pesquisas mostram uma queda anual de até 2,5% ao redor do mundo”, diz o especialista.
Desse modo, quando os cientistas investigaram os dois grupos de estudos, perceberam uma redução de cerca de 26 milhões de espermatozoides a cada ml de sêmen — e de 92 milhões na contagem total.
Contudo, quando consideraram apenas as primeiras pesquisas (que não levaram em conta o status de fertilidade), a queda observada foi de 52 milhões para cada ml na concentração. E quando consideraram somente os estudos com homens férteis, a diminuição foi menos expressiva, de apenas 5 milhões para cada ml.
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O que esse resultado significa?
O Dr Matheus Roque afirma que os resultados ainda devem ser motivos de muitos outros estudos — e que, portanto, não é possível afirmar que o declínio signifique, necessariamente, uma infertilidade maior nos homens.
“Até porque, na média, os indivíduos ainda continuam com uma concentração boa de espermatozoides”, complementa.
Mesmo assim, ele enfatiza que 15 a 20% dos casais em idade reprodutiva apresentam infertilidade, e que em até metade dos casos, a questão está somente no homem ou nele em associação a algum fator feminino.
“Então, os dados da pesquisa são importantes, pois mostram essa diminuição significativa ao longo do tempo. Mas a repercussão exata que isso gera na fertilidade somente o tempo vai nos dizer, e mais estudos provavelmente irão trazer novas informações sobre a causa exata desse declínio.”
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Quais as possíveis causas para a diminuição do número de espermatozoides?
Esse é outro ponto que ainda merece muitas investigações, pois os autores não deram uma resposta exata que explique a queda. No entanto, o médico diz que as principais teorias estão relacionadas a questões envolvendo mudanças no estilo de vida. Por exemplo, aumento da obesidade e do sedentarismo e exposição a toxinas.
“Questiona-se também a vida intrauterina: o período que aquela mãe está gestando, a alimentação dessa mulher e todos os fatores aos quais ela se expõe. Como tudo isso poderia afetar não só a fertilidade masculina, mas a fertilidade feminina também.”
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Poréns
Outros especialistas que não participaram da revisão apontaram um gargalo na mesma. De acordo com eles, o levantamento compilou dados de estudos heterogêneos e que não tinham o objetivo de observar a concentração ou a contagem de espermatozoides.
Além disso, as tecnologias de contagem de espermatozoides evoluíram ao decorrer do tempo. É por isso que mais estudos acerca do tema deverão ser realizados daqui para frente.
Fonte: Dr Matheus Roque, médico especialista em reprodução humana e membro da ESHRE, da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e também da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida.