Narcisismo materno: entenda os sinais deste transtorno de personalidade

Gravidez e maternidade Saúde
17 de Agosto, 2022
Narcisismo materno: entenda os sinais deste transtorno de personalidade

“Sempre que vou iniciar algo novo, ela tem uma palavra para me jogar para baixo”. Entre as tantas pessoas que poderiam dizer essa frase para A.N.*, de 39 anos, dificilmente pensaríamos que ela viria da sua mãe. No entanto, este é o caso da analista de marketing, que vivencia a dor diária de ser vítima do chamado narcisismo materno.

O nome dado ao transtorno de personalidade origina-se na mitologia grega, na história de Narciso. Herói do território de Téspias, Beócia, ele era conhecido pelo seu orgulho, mas ainda mais pela sua beleza estonteante. Não por acaso, o seu futuro mostrava-se promissor. Só que, em um ímpeto de vaidade, a figura mitológica acabou apaixonando-se pelo próprio reflexo ao olhá-lo em uma fonte d’água. Assim, o encanto foi tanto que ele acabou morrendo de fome e sede ao ficar parado ali, se admirando.

A partir dessa emblemática figura, é possível entender o que é uma pessoa diagnosticada com narcisismo. De acordo com a psicóloga Ediane Ribeiro, especialista em trauma, o indivíduo com esse transtorno de personalidade apresenta alterações da percepção sobre si, em relação aos outros e diante do mundo.

“Logo, há uma superestimação do seu próprio valor, de suas realizações e uma busca constante por admiração. Essa procura obstinada da pessoa para ser vista como especial impacta em como ela gerencia suas emoções e se comporta nas relações, podendo levá-la a subestimar, inferiorizar ou invalidar os outros ao redor. No narcisismo materno, falamos, portanto, de uma mãe que tem o transtorno de personalidade narcisista e que os impactos das percepções e comportamentos distorcidos acontecerão principalmente na relação com seus filhos”, explica a especialista.

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Os principais sinais do narcisismo materno

A.N. conta, por exemplo, que sempre cresceu à sombra de sua figura materna. “Se arrumava uma amiga, tinha que ser colega dela também, porque a conversa tem que girar em torno da minha mãe”, detalha a analista de marketing.

Essa necessidade de controle da vida dos filhos assim como a invasão da sua privacidade são apenas dois dos indicativos do transtorno de personalidade. Assim, a psiquiatra Livia Castelo Branco, da Holiste Psiquiatria, e Ediane citam outros exemplos de sinais que desenham o narcisismo materno. São eles:

  • Desvalorização dos sentimentos, das necessidades e conquistas dos filhos, além de criticá-los severamente tanto para eles quanto para terceiros;
  • Manipulação das pessoas ao seu redor para conseguir o que quer;
  • Cobrança excessiva de reconhecimento pelos seus feitos;
  • Apresenta dificuldade em lidar com rejeições e críticas;
  • Manipulação psicológica, fazendo com que os filhos se sintam responsáveis por elas e culpados quando buscam independência e autonomia.

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Possíveis causas do narcisismo materno

Não por acaso, A.N. tem sentido na pele os diferentes sinais do narcisismo materno após ter entrado na fila da adoção, em busca dessa realização pessoal. Assim, a analista de marketing tem feito o que pôde para que seu primogênito chegue em um lar de acolhimento e estruturado.

Embora o momento devesse ser de união familiar, sua mãe não a deixa esquecer sobre as dificuldades financeiras que viveu ao gerá-la. “Ela fica aborrecida ao ver esse cuidado que eu tenho com meu filho que vai chegar. Observo que ela deseja que eu passe pelas mesmas dificuldades que ela viveu”, lamenta a analista.

Esse desejo que o filho passe pelo mesmo que a mãe, ou chegue até mesmo a viver uma situação pior, não é incomum de acontecer em um caso de narcisismo materno. Como detalha Ediane, acredita-se que, como na maioria dos transtornos psíquicos, este também se dá por conta de uma soma de fatores.

“Desde questões genéticas até experiências de vínculos traumáticos da mãe com seus cuidadores quando ela ainda era criança aparecem frequentemente no quadro”, contextualiza a especialista. Logo, se a figura materna cresceu em um lar abusivo, por exemplo, a tendência é que ela acredite que essa é a forma correta de educar seus filhos ao ter sido criada assim.

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As consequências do narcisismo materno para os filhos

A primeira dificuldade enfrentada na jornada de filhos com mães narcisistas é entender que a figura materna se encaixa dentro desse papel. Afinal, são anos sofrendo manipulação psicológica que se respalda em uma construção social de que mães são fontes inesgotáveis de amor.

“Em geral, eles passam uma vida inteira se sentindo culpados e tentando agradar essas figuras maternas que são impossíveis de serem agradadas. É geralmente na vida adulta, quando o sofrimento psicológico dessa relação já causou muitos prejuízos na autoestima e na personalidade desses filhos que eles se dão conta de que o problema enfrentado durante a vida inteira era de suas mães e não deles”, explica Ediane.

Assim, ao ser criado por uma mãe narcisista, o filho pode ter dificuldade para reconhecer seus valores e estabelecer limites. E, como dito anteriormente, baixa autoestima, ansiedade social, resistência em estabelecer vínculos e de manter relacionamentos são outras duras consequências do narcisismo materno.

Todo esse cenário observado no quadro do transtorno de personalidade, de acordo com a Dra. Lívia, pode ocasionar doenças psiquiátricas nos filhos. Entre elas, citam-se depressão, ansiedade, transtornos alimentares, dependência química e entre outros.

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“Minha mãe é narcisista. O que eu faço?”

Como A.N. decidiu fazer, a jornada de cura das feridas causadas pelo narcisismo materno começa na terapia. “O acompanhamento psicológico é fundamental para separar as demandas exageradas da mãe e a realidade do que é possível corresponder”, explica Lívia. Além disso, o autoconhecimento permite reconstruir a autoestima que é minada nesta relação.

A psiquiatra também cita que, por meio da terapia, o paciente consegue aprender novas estratégias para enfrentar os problemas vividos com a figura materna e como lidar com as manipulações desta mulher narcisista. “Em alguns casos, o afastamento da genitora se faz necessário para a manutenção da saúde mental”, detalha Lívia.

Com esse distanciamento, pode ser menos desafiador entender que a mãe narcisista também é resultado dos seus próprios traumas infantis. E, assim, está tudo bem o filho sentir empatia pela sua história, embora queira se blindar para que seja possível ter uma vida menos desafiadora.

*A.N. é a sigla do nome da personagem que concordou em dividir sua vivência com o narcisismo materno, mas pediu para que sua identidade fosse resguardada

Fontes:

  • Ediane Ribeiro, psicóloga, especialista em trauma
  • Dra. Lívia Castelo Branco, psiquiatra da Holiste Psiquiatria

Referências:

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