Mortes por AVC podem ser associadas às temperaturas extremas

Saúde
14 de Maio, 2024
Mortes por AVC podem ser associadas às temperaturas extremas

Um estudo publicado na revista científica Neurology aponta que só em 2019 o mundo registrou mais de meio milhão de mortes por AVC (Acidente Vascular Cerebral) associadas às temperaturas extremas – muito calor ou muito frio, sendo o excesso de calor o principal responsável. Os resultados são mais um alerta sobre os perigos das mudanças climáticas na saúde da população e reforçam a necessidade de ações para mitigar os riscos. 

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Detalhes sobre o estudo sobre mortes por AVC

Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram temperaturas e casos de AVC em 204 países entre 1990 e 2019. Eles observaram que o número de pessoas que sofreram um AVC nos 30 anos analisados aumentou à medida que a população envelheceu. Inclusive, o envelhecimento foi um fator-chave para o problema. No entanto, eles ressaltaram que o envelhecimento populacional não explica todo o aumento de casos: as “temperaturas não ideais”, muito quentes ou muito frias, fizeram a diferença. O estudo aponta que, em 2019, ocorreram 6,55 milhões de mortes por AVC, segundo dados do Global Burden of Disease (GBD). Desse total, 521 mil mortes e 9,4 milhões de anos de vida ajustados por incapacidade são atribuíveis ao AVC devido à temperatura não ideal. 

É importante destacar que as temperaturas mais altas já estão acontecendo e sendo percebidas dia após dia. O ano passado foi considerado o mais quente da história. Além disso, espera-se que as temperaturas continuem alcançando níveis cada vez mais altos. Neste ano, por exemplo, o observatório europeu Copernicus anunciou que o mês de março foi o mais quente já registrado na Terra. Nesse período, a temperatura chegou a 1,58 oC acima da média da era pré-industrial, no século 19.  

“Os resultados desse estudo são extremamente importantes. Isso porque destacam a relação entre as condições climáticas extremas e a incidência de AVC, uma conexão não tão enfatizada na prática clínica. Isso traz uma nova perspectiva, que pode influenciar a prevenção e a preparação para períodos de temperaturas extremas, visando reduzir o risco desses eventos. Tais informações podem surpreender alguns profissionais, especialmente aqueles em regiões onde as mudanças climáticas têm sido menos perceptíveis”, avalia a neurologista Gisele Sampaio, do Hospital Israelita Albert Einstein.  

Consequências das altas temperaturas

De acordo com a médica, as altas temperaturas podem dificultar a capacidade do corpo de regular a sua temperatura interna (que é em torno de 36 oC). Assim, leva à desidratação e ao aumento na viscosidade do sangue, o que pode aumentar o risco de formação de coágulos. Além disso, explica a neurologista, o estresse térmico pode ocasionar alterações hemodinâmicas e inflamatórias. Desse modo, aumenta ainda mais o risco de AVC. “Há ainda algumas pesquisas que apontam os efeitos diretos das altas temperaturas sobre a pressão arterial e a função cardiovascular, ambos fatores de risco de AVC”, diz.  

O estudo atesta ainda que, nesse momento, as mortes por AVC associadas a temperaturas extremas estão desproporcionalmente concentradas em partes do mundo com níveis mais elevados de pessoas que vivem na pobreza. Além disso, em locais onde os sistemas de saúde são frágeis, como na África. O AVC é uma das principais causas de morte e de incapacidade no mundo. Desse modo, tem um impacto importante em países de baixa e média renda, onde os sistemas de saúde muitas vezes não estão equipados para prevenir, diagnosticar ou tratar eficazmente essa condição.  

“As regiões com maior pobreza e sistemas de saúde frágeis sofrem particularmente com as consequências de temperaturas extremas. Assim, pode exacerbar ainda mais a incidência e a gravidade dos casos de AVC”, diz.

Como prevenir?

O trabalho aponta ainda que não é só o calor extremo que pode levar ao AVC. O frio extremo também, pois leva ao aumento da pressão arterial e ao estreitamento dos vasos sanguíneos. Além disso, induz respostas inflamatórias que podem predispor a eventos cerebrovasculares. O frio também pode agravar condições cardíacas existentes, aumentando o risco de eventos cardíacos e vasculares cerebrais. 

Esse não é o primeiro trabalho a apontar o impacto das temperaturas extremas na saúde cardiovascular. Outro estudo, publicado em 2022 na revista Nature, concluiu que as temperaturas extremas (frio e calor) foram responsáveis por quase 6% das mortes em cidades da América Latina. O estudo analisou mais de 15 milhões de óbitos e comparou-os com as temperaturas ambientais diárias nas cidades pesquisadas. 

Uma das conclusões é de que as temperaturas extremas estavam relacionadas com a mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias, especialmente entre idosos e crianças, que são o grupo mais vulnerável. Segundo a pesquisa, em dias muito quentes, o aumento de 1 oC esteve relacionado ao aumento de 5,7% nas mortes. Ao mesmo tempo, cerca de 10% das mortes por infecções respiratórias foram atribuídas ao frio intenso. 

Diante das evidências de que as mudanças climáticas estão afetando a saúde, as políticas de saúde pública devem incluir ações preventivas para o AVC. 

“Isso inclui melhorar a infraestrutura de saúde, aumentar a conscientização sobre os riscos associados às temperaturas extremas e desenvolver estratégias específicas para ajudar as populações vulneráveis a se adaptarem e responderem a essas condições”, completa. Além disso, é crucial promover estilos de vida saudáveis e o controle rigoroso de fatores de risco modificáveis, como hipertensão e diabetes. Por fim,  implementar programas de educação sobre os sinais de alerta e a importância da resposta rápida ao AVC. 

Fonte: Agência Einstein.

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