Vacina da covid pode causar miocardite em crianças? Saiba mais
Desde que a vacinação infantil contra a covid-19 começou, o que não faltam são polêmicas sobre as possíveis reações da vacina em crianças, mesmo após autoridades médicas e pesquisadores afirmarem que elas são seguras. O surgimento de miocardite – inflamação do músculo cardíaco – após a imunização é um exemplo. No entanto, pesquisas reforçam que a reação está longe de ser um impeditivo para vacinar as crianças.
A probabilidade de incidência da condição é baixa. De acordo com um parecer técnico do programa de imunização de Portugal, por exemplo, a chance de uma criança desenvolver miocardite pós-vacina é cerca de 60 vezes menor do que desenvolvê-la por outras causas.
“A miocardite em idade pediátrica após a vacinação é muito rara, apresenta-se com sintomas ligeiros, evolução rápida e não aparenta ter complicações ou sequelas a longo prazo”, dizem os autores do parecer.
O que é miocardite em crianças
A condição tem como principal característica a inflamação no músculo cardíaco. Entre uma e duas crianças americanas a cada 100 mil são diagnosticadas por ano nos Estados Unidos. “Na infância, os sintomas não são tão exuberantes quanto em adultos”, explica Bruno Valdigem, eletrofisiologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Assim, os sinais mais comuns nessa população incluem:
- Fadiga;
- Falta de ar;
- Dor abdominal;
- Febre.
Essas manifestações podem sugerir diferentes problemas de saúde. Além disso, o desconforto no peito pode ocorrer, mas é mais frequente em adultos.
Afinal, crianças podem desenvolver miocardite após tomarem a vacina?
A vacina de Covid-19 para crianças é segura. Inclusive, as crianças têm muito mais chances de apresentarem inflamação do músculo cardíaco caso sejam infectadas pelo coronavírus do que ao serem vacinadas. Além disso, elas têm menos risco de desenvolver miocardite – seja por covid ou após a vacina – do que adultos.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 75% dos casos de miocardite associados à vacina da covid ocorrem em homens, principalmente na faixa etária dos 30 anos, após a primeira dose da vacina, e 24 anos, após a segunda dose. Além disso, os casos de miocardite em crianças decorrentes de vacinação, além de muito raros, foram, em sua grande maioria, leves.
Leia mais: Vírus aumentam risco de miocardite em crianças
Qual a relação com a Covid?
A miocardite pode aparecer depois de uma infecção, qualquer que seja ela, ou devido a uma falha do nosso sistema imune, afirmam especialistas. Estudos indicam, por exemplo, que a incidência da miocardite é de mais de 100 por 100.000 casos em pessoas com covid, enquanto a incidência antes da covid existir era de 1 a 10 casos por 100.000 habitantes. Em outras palavras, a infecção por coronavírus pode aumentar o risco de desenvolver miocardite em mais de 10 vezes. A boa notícia é que as inflamações associadas à vacina são raras e tendem a ser leves.
Nesse sentido, ao contrário do que muitas pessoas imaginam, a vacina contra a covid reduz o risco de incidência de miocardite, ao invés de aumentá-lo, já que protege a população contra a infecção. Por outro lado, quem não se vacina e se infecta com a covid, tem maior risco de desenvolver miocardite, sendo que sua gravidade é imprevisível.
Isso porque quando o vírus chega ao corpo, o organismo estabelece uma série de barreiras coordenadas para combatê-lo. No entanto, quando a pessoa não está vacinada e é infectada, o sistema imune pode atuar de maneira desesperada e, neste caso, produzir uma miocardite.
Adultos têm maior chance de desenvolver a condição
Em resumo, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) afirmou que existem poucos relatos de miocardite pós-vacina até o momento, sendo que a maioria é leve e tratável. Dessa forma, é mais comum ocorrer:
- predominantemente em adolescentes e adultos jovens,
- mais frequentemente em homens do que mulheres,
- mais frequentemente após a dose 2 do que após dose 1, e
- normalmente dentro de 4 dias após a vacinação.
Ainda segundo o órgão, o risco de crianças desenvolverem miocardite após a vacinação existe, mas é raro. Por isso, agências regulatórias de vários países continuam a recomendar a vacinação para todos os indivíduos a partir dos 5 anos de idade.