Miastenia gravis: por dentro da doença autoimune que afeta os músculos

Saúde
24 de Março, 2023
Miastenia gravis: por dentro da doença autoimune que afeta os músculos

Fraqueza muscular, que costuma piorar com o passar do tempo e atingir qualquer músculo, inclusive os responsáveis pela nossa deglutição e respiração. Essa é a principal característica da miastenia gravis, cujo diagnóstico pode ser complexo e envolver uma série de especialistas.

A seguir, conheça o quadro e as alternativas de tratamento disponíveis para quem convive com a condição.

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O que é e o que causa a miastenia gravis?

Trata-se de uma doença autoimune, que prejudica a capacidade dos músculos responderem de aos impulsos nervosos.

Como toda característica de uma enfermidade autoimune, o organismo considera alguma parte do corpo uma ameaça e a ataca.

No caso da miastenia gravis, o sistema imunológico do corpo danifica os receptores de acetilcolina nas células nervosas. Como resultado, esse “erro da imunidade” impede a comunicação correta entre impulsos nervosos e os músculos.

Sintomas

Como falamos no comecinho deste conteúdo, a miastenia gravis provoca fraqueza muscular progressiva. Nos estágios iniciais, ela se manifesta em músculos menores, como os do rosto, pescoço e garganta.

Com o passar do tempo, as crises atingem grupos musculares maiores, e pode enfraquecê-los por alguns dias ou ser permanente. Já a intensidade da fraqueza pode ser leve ou severa — o cenário irá depender do nível de degradação dos receptores de acetilcolina.

A ineficiência muscular se reflete em alguns sintomas que merecem atenção. Por exemplo:

  • Dificuldade para sentar-se ou levantar-se da cadeira ou da cama.
  • Problemas para engolir, que resulta em mais episódios de engasgo.
  • Falta de ar, como se não faltassem forças para respirar profundamente.
  • Muito esforço para segurar objetos com firmeza.
  • Perda de equilíbrio em atividades simples, como caminhar.
  • Cansaço e indisposição, principalmente depois de um exercício ou ao final do dia.
  • Dificuldade para falar.
  • Alterações na visão, que pode ficar dupla.

Diagnóstico da miastenia gravis

A identificação da miastenia gravis envolve uma avaliação clínica cuidadosa, exames físicos e testes laboratoriais e neurológicos.

Contudo, é importante começar com uma revisão do histórico médico do paciente e seus sintomas, bem como um exame físico completo para avaliar o grau e a distribuição da fraqueza muscular.

Alguns dos exames que podem fazer parte do diagnóstico são:

  • Teste de tensão: exige uma tarefa repetitiva, como apertar a mão do médico, para avaliar a fadiga muscular.
  • Administração de edrofônio: um medicamento chamado edrofônio é injetado no paciente para checar se há uma melhora temporária dos sintomas.
  • Exames de sangue: um teste de anticorpos pode ser útil para detectar a presença de anticorpos contra os receptores de acetilcolina, que são comuns em pacientes com miastenia gravis.
  • Eletromiografia: mede a atividade elétrica dos músculos para avaliar a força e a função muscular.
  • Tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) do tórax: pode ser solicitada para procurar possíveis tumores que possam ter relação com a miastenia gravis.
  • Teste de estimulação repetitiva: avalia a capacidade dos nervos de enviar impulsos aos músculos.
  • Biópsia muscular: é requerida em alguns casos para descartar outras causas de fraqueza muscular.

Com a lista de exames acima, é possível ter uma ideia de como a descoberta da doença pode trilhar uma longa jornada. Além disso, o trabalho multidisciplinar — ou seja, com diversos especialistas — pode ser a chave para o diagnóstico.

Geralmente, os médicos que participam desses cuidados são neurologista, oftalmologista, pneumologista e reumatologista. Contudo, nem todos são essenciais para identificar o quadro, pois dependem dos sintomas de cada indivíduo.

Existe tratamento para a doença?

Embora não haja cura para a miastenia gravis, existem cuidados que permitem a melhora da qualidade de vida para que, assim, a pessoa consiga viver bem.

Por exemplo, os medicamentos imunossupressores, como corticosteroides e imunoglobulina intravenosa (IVIG), são usados para reduzir a atividade do sistema imunológico e minimizar a destruição dos receptores de acetilcolina.

A terapia de plasmaférese, que envolve a remoção do plasma do sangue e o substitui por um plasma de doador saudável, pode ajudar a reduzir os anticorpos nocivos.

No entanto, em casos graves, o médico pode optar pela cirurgia de remoção do timo, um órgão localizado no tórax responsável pela produção de anticorpos.

Por fim, existem hábitos que dependem exclusivamente de quem convive com o problema. Levar uma vida saudável, com alimentação equilibrada, exercícios regulares e controle do estresse são práticas benéficas para controlar os sintomas.

Sobretudo a atividade física, pois estimula o trabalho dos músculos e previne crises intensas de fraqueza.

É importante ressaltar que as medidas são por toda a vida, assim como os exames de rotina. Então, pessoas com miastenia gravis precisam repetir certos testes a cada três meses para observar os níveis de anticorpos e a resposta muscular.

Incidência 

A ocorrência da miastenia gravis no Brasil não possui dados específicos. Todavia estima-se que tenha de três a 30 casos por milhão de habitantes.

Outro dado interessante é que a doença pode surgir em pessoas de todas as idades, incluindo crianças e idosos, sendo mais comum em mulheres do que em homens.

Miastenia gravis em gestantes

De acordo com o Ministério da Saúde, a enfermidade tem mais chances de se manifestar em mulheres na fase fértil da vida. Entre as gestantes, os sintomas podem ser mais severos e comprometer a saúde da futura mãe. Inclusive, o quadro é capaz de descartar a possibilidade de um parto normal.

Portanto, as mulheres com o diagnóstico que pretendem ter filhos precisam comunicar o desejo aos médicos. Dessa forma, o tratamento segue com as devidas adaptações, a fim de evitar o inconveniente das crises exacerbadas.

Referências: Ministério da Saúde; MSD Manuals; Mayo Clinic; e Miasthenya Gravis Foundation of America.

 

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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