Jogos de aposta on-line e os riscos para a saúde mental
Basta uma rápida navegada nas redes sociais para nos depararmos com alguma publicidade do chamado “Jogo do Tigrinho”. Trata-se de uma espécie de cassino no celular que funciona de maneira semelhante a um caça-níquel convencional, só que na internet. O problema é que a falta de transparência com relação aos algoritmos usados pela plataforma geram suspeitas, e relatos de pessoas que gastaram milhares de reais e até perderam bens de valor em jogos de aposta on-line crescem, levantando preocupações com relação à saúde mental.
O psicólogo Alexander Bez explica que, quando se fala em jogos, não é possível afirmar que existe um vício. Isso porque não há uma substância química externa envolvida – o caso do álcool, por exemplo. “Porém, o funcionamento patológico do apego mental é muito similar, com uma ação padronizada repetida, muitas vezes difícil de controlar”, diz.
De acordo com o profissional, esse tipo de comportamento é regido pelo Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). A boa notícia é que a remissão (tratamento) tende a ser menos complicada por não haver componentes lícitos ou ilícitos envolvidos.
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Jogos de aposta on-line podem trazer prejuízos à saúde mental
Os jogos de aposta on-line podem atingir o cérebro de maneira mais intensa – até 10 vezes mais – do que os jogos tradicionais, afirma o psicólogo. “A rápida resposta dos jogos on-line também é outro fator que afeta a compulsão, pois diferentemente dos jogos de loteria, que têm um tempo até que o resultado seja conhecido, esses instigam a próxima rodada com a apresentação do resultado instantâneo.”
Além dessa condição mental, há também outro agravante: a presença de influenciadores e da publicidade, o que pode piorar consideravelmente a ação da patologia.
Como identificar problemas com relação aos jogos de aposta on-line?
Para Alexander Bez, é importante distinguir o jogo ocasional (quando a pessoa joga em uma viagem, por exemplo, ou aposta duas ou três vezes por mês na loteria física), do jogo patológico, que faz parte do espectro do Transtorno do Impulso.
Segundo o especialista, o Transtorno Obsessivo Compulsivo desencadeado pelos jogos de aposta on-line pode não ser tão aparente em um primeiro momento, uma vez que depende de vários fatores – como condição mental da pessoa, questões genéticas e até influências externas.
Contudo, é possível identificar o jogo patológico por meio da observação de alguns sinais e sintomas. Apostar obsessivamente em grandes quantidades e com um intervalo de tempo reduzido, além de priorizar a aposta em detrimento das tarefas e obrigações do dia a dia, são alguns exemplos.
“As pessoas portadoras de TOC têm uma atividade mais aguçada no córtex orbitofrontal – o que explica a invasão de pensamentos intrusos que levam a pessoa a ter ações decorrentes repetitivas”, complementa Alexander Bez.
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Possíveis tratamentos
Vale ressaltar, no entanto, que o diagnóstico de transtornos como o TOC só deve ser feito por um profissional capacitado – como psicólogo ou psiquiatra. Após identificada a condição, o especialista pode indicar o tratamento mais adequado, como:
- Psicoterapia de apoio;
- Psicoterapia de dessensibilização sistemática;
- Psicoterapia relacionada à compulsão e a obsessão;
- Psicoterapia voltada à compreensão do perigo e da ilusão que é o jogo patológico;
- Medicação ansiolítica;
- Medicamentos antidepressivos.
Fonte: Alexander Bez, psicólogo.