Jogo RPG é usado para trabalhar habilidades socioemocionais em crianças e jovens

Saúde
11 de Dezembro, 2023
Jogo RPG é usado para trabalhar habilidades socioemocionais em crianças e jovens

Theo, de 10 anos, foi diagnosticado aos sete com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) misto, que envolve desatenção e hiperatividade. Além das sessões individuais de terapia, ele participa de um grupo mediado por psicólogos, no qual elementos do RPG (Role-playing game), um tipo de jogo em que os jogadores assumem papéis de personagens e criam narrativas colaborativamente, são utilizados para desenvolver habilidades socioemocionais em crianças e adolescentes.

De acordo com o psicólogo Germano Henning, mestre em Psicologia Clínica pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), o uso do jogo pode ajudar a desenvolver outras habilidades, como, por exemplo, melhorar as funções executivas, o que é um déficit presente no TDAH, ou melhorar a adesão às práticas esportivas, que é um importante passo para tratamento da ansiedade, entre outros. “Porém, sempre deixamos claro que o RPG serve para o treino das habilidades sociais, podendo auxiliar no tratamento de outros quadros clínicos”, destacou Henning.

Como o jogo RPG pode contribuir com as habilidades socioemocionais?

As sessões contam com três ou, no máximo, seis participantes. “Os grupos são formados a partir de perfil psicológico, como diagnóstico, idade e interesses em comum. Contudo, sempre respeitamos as dificuldades e a individualidade de cada participante. Utilizamos o jogo RPG para motivar os pacientes no desenvolvimento das suas habilidades sociais”, complementou o psicólogo. 

As sessões de jogo RPG, planejadas previamente, têm com o objetivo de intervir individualmente nas habilidades sociais de cada um. Desta forma, os comportamentos-alvo podem ser os não-verbais, como o contato visual, ou verbais, como ser empático com o colega de jogo, por exemplo. Ele explica que o setting tradicional é uma mesa, onde os participantes se sentam em volta, sendo que uma dessas pessoas tem a função de mestre (narrador da história) e os outros, como jogadores.

Cada jogador cria um personagem único e a evolução do personagem acontece de acordo com o decorrer das aventuras, dependendo das ações do personagem. Geralmente, as jornadas duram meses ou anos. O que torna aquela vivência imersiva e intensa”, explicou o psicólogo, um dos sócios do Grupo D20 – Desenvolvimento em Habilidade Social, que Theo participa.

Gamificação na terapia

Para a psicoterapia, ocorrem algumas importantes adaptações no jogo: em todos os grupos, há dois terapeutas – um terapeuta-mestre, responsável pela narrativa, e o coterapeuta, responsável em dar atenção geral aos participantes durante a sessão. 

Dessa forma, para o médico psiquiatra e psicoterapeuta Gabriel Okuda, que atua nos hospitais Israelita Albert Einstein, no Alemão Oswaldo Cruz e no São Camilo, o crescimento do uso da gamificação nas terapias, como o RPG, ao longo dos últimos anos tende a ser um fator positivo dentro das terapias em grupo. Contudo, dado o ainda limitado número de estudos sobre o tema, vivências como essa podem não ser ideais para determinados grupos. Pacientes psicóticos, por exemplo, costumam apresentar alucinações e já vivem entre a realidade e a fantasia.

“Dessa forma, o uso desse recurso deve ser sempre bem avaliado e direcionado, dependendo de cada transtorno. Portanto, acredito que com uma mediação adequada de psicólogos treinados, essa experiência tende a ser positiva, com melhores resultados para a grande maioria dos pacientes com dificuldades em habilidades socioemocionais. Isso porque ela favorece algumas perspectivas de relações em grupo, como o desenvolvimento da empatia, da criatividade, da liderança e da socialização”, ressaltou Okuda.

Veja também: Excesso de tela na infância prejudica saúde na vida adulta

Benefícios adicionais do jogo RPG

Outro ponto importante, segundo o especialista, é que a gamificação através do jogo RPG pode capacitar o indivíduo com dificuldades no enfrentamento em certos tipos de problemas, como frustrações.  “Assim, pessoas com temperamentos mais ansiosos ou depressivos podem aprender a ser os personagens mais ativos da sua própria história após essa experiência”, concluiu o psiquiatra. 

O pai de Theo, Adriano Rodrigues dos Santos, 47 anos, já observa mudanças no comportamento do filho. Assim, ele relata que, dentro da programação da terapia em grupo, há uma atividade chamada “rolê PG”. “Os terapeutas levam as crianças, com a autorização dos pais, para algumas atividades externas e observam o comportamento delas. Portanto, ao final da atividade, eles enviam um relatório descrevendo como foi a participação de cada um de forma individualizada”, diz o pai.

A gamificação no processo de criação de vínculos é muito fascinante. As habilidades sociais têm sido um tema cada vez mais abordado na psicologia. Principalmente, por conta do excesso de celular desta geração, problemas de autoestima e de relacionamento”, complementa Santos. 

Fonte: Agência Einstein.

 

Leia também:

Bem-estar Saúde

Como ter mais saúde com a Vitat?

Cuidar mais da saúde é uma das principais metas que as pessoas definem para o próximo ano. Para isso, diversas ferramentas podem ajudar, como o aplicativo

foto de Anderson Leonardo, do Molejo
Saúde

Câncer inguinal: entenda a doença que matou Anderson Leonardo, cantor do Molejo

O cantor Anderson, vocalista do grupo Molejo, morreu nesta sexta-feira, aos 51. Ele estava internado desde o dia 24/03 e tratava um câncer inguinal.

Tipos de gordura
Alimentação Bem-estar Saúde

Tipos de gordura: quais você deve evitar e consumir?

A OMS recomenda que a alimentação diária contenha 30% de gorduras. Veja quais priorizar!