Você já ouviu falar em insulina alta? Muitas vezes confundida com a taxa de açúcar no sangue – a glicemia- a insulina alta nem sempre significa diabetes, mas pode ser um sinal de alerta para o risco de desenvolver a condição, como também revelar outros problemas de saúde. Conversamos com a endocrinologista Marília Espíndola para entender mais sobre o assunto. Confira!
Antes de tudo, precisamos entender o que é insulina. É um hormônio produzido pelo pâncreas que tem como objetivo controlar o nível de glicose (açúcar) no sangue e fornecer energia ao organismo. “A insulina alta é quando o órgão produz mais hormônio do que devia”, explica Marília. E isso acontece por diversos motivos, entre eles a resistência insulínica.
A resistência insulínica é quando há uma dificuldade de ação do hormônio no organismo. Consequentemente, o pâncreas passa a produzir mais quantidades de insulina para conseguir levar glicose para as células. Este quadro pode evoluir para o desenvolvimento do pré-diabetes e, consequentemente, do diabetes tipo 2.
Entretanto, nem sempre a insulina alta pode significar a presença de resistência insulínica. “A gente avalia o parâmetro de sangue junto com as características do paciente para definir se ele tem resistência insulínica ou não”, explica Marília.
De acordo com a médica, quando relacionado ao quadro de resistência à insulina, as principais causas são a predisposição genética, a obesidade, a Síndrome dos Ovários Policísticos e a esteatose hepática, que é o acúmulo de gordura no fígado. Além disso, outros fatores podem contribuir para o aumento do hormônio, tais como:
A especialista destaca que os sintomas, geralmente, são inespecíficos, mas alguns pacientes podem apresentar fraqueza, indisposição, fadiga, alteração de memória, dificuldade de concentração, má digestão, constipação ou diarreia, ganho de peso com mais facilidade e dificuldade de perder peso.
Além disso, se o paciente, além da insulina alta, também apresentar obesidade ou outras comorbidades (doenças associadas), outros sintomas podem surgir. Por isso, é importante ficar atento: qualquer suspeita desses sintomas é bom procurar o médico para investigar se há resistência insulínica.
Nos casos de insulinoma, que é um tumor neuroendócrino do pâncreas, o paciente pode apresentar hipoglicemias, que é quando o açúcar está baixo no sangue. “Geralmente, vemos pacientes com hipoglicemias abaixo de 54 mg/dL em jejum, mas que melhoram rapidamente quando comem”, explica Marília. Nesses casos, o médico pode solicitar outros exames de investigação para realizar o diagnóstico.
O diagnóstico é feito por exame de sangue. Os valores de referência do hormônio podem variar de acordo com o laboratório de análises clínicas, mas em média a faixa de normalidade é de 3 a 25 µU/mL em jejum. Contudo, a médica comenta que níveis acima de 10 já chamam a atenção do médico. “Mesmo que o paciente esteja com a glicemia normal, já ficamos atentos a possibilidade de resistência à ação da insulina”.
Além disso, outro exame que pode ser solicitado pelo especialista é o Teste de Tolerância Oral à Glicose, que avalia a curva de glicemia e insulina ao longo de 2 horas, após ingestão de 75g de glicose. Neste teste, é possível identificar se há resistência insulínica, pré-diabetes ou até mesmo o quadro de diabetes.
Sim e depende. Nos casos mais comuns, onde a insulina alta é causada por uma resistência insulínica, pode ser revertido o quadro. “Com a adesão a hábitos de vida mais saudáveis, temos altas chances de cura”, conta a endocrinologista. Mas para isso é importante que o paciente reduza o consumo de carboidratos refinados brancos e açúcares e aumente o consumo de fibras e proteínas magras para promover uma maior saciedade e uma melhora na sensibilidade à insulina.
Além disso, é importantíssima a prática de atividade física, seja aeróbica, como caminhadas e corridas, como anaeróbicas, que são os exercícios de força, incluindo a musculação. “Essas atividades melhoram a ação da insulina no músculo.”
Já em pessoas que apresentem sobrepeso ou obesidade, a perda de peso melhora também a sensibilidade à insulina no organismo. Mas não se apavore: a boa notícia é que perdendo poucos quilos já ajuda no tratamento. “Estudos apontam que apenas a redução de 10 a 15% do peso corporal inicial já seria o suficiente para curar a resistência insulínica”, conta a médica.
Sim! A endocrinologista destaca que, em muitos casos, podem ser utilizados medicamentos que ajudam a melhorar o mecanismo de ação da insulina no músculo, na gordura ou no fígado. Mas somente podem ser utilizados com a orientação e prescrição de um médico.
Em casos de resistência à insulina, como o pâncreas precisa produzir muito mais hormônio para manter os níveis de glicose normais, ao longo do tempo ele pode se “cansar” e levar a outro problema de saúde. “Isso pode levar à falência da produção de insulina. É neste momento que o diabetes é instalado.” Além disso, há o risco de desenvolver outras doenças e complicações de saúde associadas ao quadro de diabetes. Já em mulheres com SOP e resistência insulínica aumenta o risco de complicações cardiovasculares, infertilidade e até mesmo alguns tipos de câncer.
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Sim! Inclusive podem também apresentar resistência insulínica e isso tem a ver com o grau de adiposidade, ou seja, acúmulo de gordura no corpo. “Temos pessoas que chamamos de falsas magras, que são aquelas com IMC normal, mas com alto percentual de gordura”, explica a endocrinologista.
Principalmente, o excesso de gordura visceral, aquela próxima aos órgãos, é extremamente prejudicial para a ação da insulina no corpo. “Por isso, fica o alerta: pessoas magras podem ser metabolicamente obesas por conta disso.”