Impactos da covid longa: OMS estima que a doença já afetou 17 milhões de pessoas na Europa

Saúde
07 de Março, 2023
Impactos da covid longa: OMS estima que a doença já afetou 17 milhões de pessoas na Europa

Fadiga, falta de concentração e tosse persistente são os principais sintomas da síndrome que já afetou 17 milhões de pessoas na Europa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os impactos da covid longa afetam os pacientes mais de três meses depois da infecção pelo coronavírus. 

A própria OMS já lançou um alerta: até 20% da população que teve Covid-19 pode desenvolver essa condição. Mas, apesar deste número ser alto, a organização avalia que os governos não estão se esforçando o bastante para tratar esses pacientes e para financiar estudos científicos sobre o tema.

Em um comunicado divulgado no final de 2022, o escritório europeu da OMS cobrou os países do continente a desenvolver políticas e protocolos para acompanhar as quase 17 milhões de pessoas que convivem com sintomas pós-Covid na Europa, segundo estimativas da entidade.

Veja também: Quarta dose da vacina é o que protege contra a Covid longa, diz estudo

Covid longa em crianças

No último dia 17 de fevereiro, a organização também publicou uma nova definição de caso clínico para os impactos da covid longa em crianças e adolescentes. A OMS destacou que a síndrome afeta menos as crianças do que os adultos. Porém, pode ter sintomas diferentes no público mais jovem: fadiga, olfato alterado e ansiedade são as manifestações mais comuns.

No Brasil, um protocolo para lidar com os impactos da covid longa já existe desde fevereiro deste ano. Publicado pelo Ministério da Saúde, o Manual para Avaliação e Manejo de Condições Pós-Covid na Atenção Primária à Saúde busca orientar os profissionais de saúde no atendimento de pacientes com Covid longa no Sistema Único de Saúde (SUS).

No entanto, ainda é difícil colocar em prática tudo o que o manual recomenda em um contexto de sobrecarga dos serviços de saúde. É o que explica o infectologista do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, Moacyr Silva Junior.

“O protocolo brasileiro é muito semelhante ao protocolo do Reino Unido, que é tido como exemplo. Mas ainda é uma coisa que, na prática, não está bem estruturada. Não tem propaganda, não tem divulgação alguma”, avalia Silva Junior.

Impactos da covid longa: Alta demanda

O infectologista explica que, embora alguns hospitais particulares tenham desenvolvido protocolos específicos para encaminhar pacientes com Covid longa, a maior parte da população depende do SUS, onde o tempo de espera para serviços de reabilitação é grande.

“Antes da pandemia já era difícil para referenciar um paciente para lidar com sequelas e reabilitação no SUS. Agora, com a Covid longa, é um público muito maior que precisa de assistência. Se a gente já tinha carência antes, imagina agora”, completa o especialista.

Em entrevista à Agência Einstein, a diretora de Políticas e Sistemas Nacionais de Saúde da OMS Europa, Natasha Azzopardi Muscat, reconheceu o desafio que os governos pelo mundo terão para lidar com um volume tão grande de pacientes.

“Estamos vendo mais países agora incluindo serviços multidisciplinares, com saúde mental combinada à fisioterapia, por exemplo, e com atenção especial aos sintomas prolongados relacionados à Covid longa. Mas precisamos fazer mais para atender esses pacientes e aumentar a conscientização sobre sua condição e seu tratamento”, diz Muscat.

Impactos da covid longa no cenário europeu

Na Europa, alguns governos já desenvolveram políticas específicas para tratar a população com Covid longa.  Um caso de sucesso apontado pela OMS é o Reino Unido, que investiu nos serviços de reabilitação – justamente os que estão mais sobrecarregados no Brasil. “Um exemplo encorajador é o que estamos vendo no Reino Unido, onde os profissionais de reabilitação são uma parte fundamental das equipes dos serviços especializados em Covid longa. Esses profissionais ajudam os pacientes a entender qual é a melhor maneira de retomar suas rotinas, de acordo com suas necessidades”, explica a diretora da OMS.

O governo de Montenegro, na Europa, também criou um programa focado nos profissionais de saúde com o intuito de “treinar os treinadores”. A ideia é evitar uma situação que ainda é bastante comum em muitos países: médicos e enfermeiros que não sabem diagnosticar a Covid longa.

Para a OMS, além da preocupação com a saúde dos pacientes, é preciso levar em conta também os impactos econômicos da Covid longa, já que a síndrome pode afetar a capacidade de parte da população realizar atividades diárias.

Por conta disso, a representante da organização defende que os governos devem agir rápido não apenas em benefício da saúde da população, mas também para garantir a sustentabilidade “de seus sistemas de saúde, de suas economias e de suas sociedades em geral”.

“Realmente precisamos de mais pesquisas para entender melhor o que está causando essa doença e por que ela afeta pessoas de maneiras tão diferentes”, afirma Muscat, diretora da OMS Europa.

O que é a Covid longa?

A definição oficial de Covid longa adotada pela OMS considera que a doença se caracteriza por atingir indivíduos com histórico de Covid-19 três meses após a infecção. Os sintomas duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo.

“As manifestações mais comuns incluem fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva, entre outras, e geralmente têm um impacto no dia a dia [do paciente]. Os sintomas podem ser novos, após a recuperação inicial de um episódio agudo de Covid-19, ou persistir desde a doença inicial. Eles também podem flutuar ou diminuir ao longo do tempo”, determina a definição oficial da OMS, publicada em outubro de 2021.

Já a classificação do Ministério da Saúde não determina uma duração mínima dos sintomas para caracterizar a doença. A pasta leva em consideração o aparecimento de “manifestações clínicas novas, recorrentes ou persistentes presentes após a infecção aguda por Sars-Cov-2” que não podem ser atribuídas a outros diagnósticos.

Principais causas

Embora a ciência já tenha uma classificação oficial para a Covid longa, as causas dessa condição ainda não estão claras para os pesquisadores. Ainda não se sabe exatamente o que faz com que alguns indivíduos desenvolvam sintomas de longo prazo, enquanto outros se recuperam completamente rapidamente.

Mesmo que não se saiba o que provoca a Covid longa, já é possível afirmar que alguns pacientes são mais suscetíveis a desenvolver essa condição. Entre elas, pessoas com comorbidades ou que, durante a infecção pela Covid-19, precisaram de internação, especialmente em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Segundo dados do Ministério da Saúde brasileiro, mais de 80% dos pacientes que ficaram internados em UTI reportaram a continuidade de sintomas após 60 dias.

Além disso, pessoas que não se vacinaram contra a Covid-19 também têm maior risco de desenvolver sintomas após a infecção. Por isso, a vacinação é uma boa maneira de prevenir a Covid longa, de acordo com a diretora da OMS Europa.

“Ainda sabemos muito pouco sobre essa condição pós-Covid, mas o que estamos começando a entender é que as vacinas podem mitigar seus efeitos debilitantes, então, esse é mais um motivo para se vacinar e receber todas as doses de reforço disponíveis”, afirma Muscat.

Protocolos em desenvolvimento

A falta de respostas impacta o acolhimento dos pacientes, porque não se sabe ainda como agir na raiz do problema. Hoje em dia, o tratamento da Covid longa é focado em combater sintomas específicos. Mas é importante manter um olhar multidisciplinar para avaliar a combinação de diversas condições.

“Como tratar a Covid longa? Isso a gente não sabe ainda. Então o que se faz atualmente é tratar os sintomas específicos. Os tratamentos são sintomáticos, porque ninguém sabe ao certo o que motiva a doença”, explica Silva Junior, do Einstein.

Dessa forma, em hospitais particulares, o acompanhamento geralmente é feito por equipes multidisciplinares. Uma das queixas mais comuns dos pacientes é a dificuldade para respirar. Essa condição costuma ser tratada com reabilitação pulmonar, segundo o infectologista.

Para o Brasil, um dos principais desafios é garantir que o acesso a serviços preparados para atender pacientes com Covid-19 seja bem distribuído.

Impactos da covid longa: Investimento em pesquisa

Além das dificuldades no tratamento, as incertezas que ainda permanecem nos estudos científicos sobre a Covid longa dificultam a identificação dos mecanismos por trás da doença.

“A gente não sabe ao certo o que motiva a Covid longa. Mas uma das hipóteses é que ela seja uma espécie de inflamação do corpo que persiste. O fato é que ela é uma consequência do vírus, mas não é provocada pela continuidade da ação do vírus em si”, explica o infectologista.

Ainda é preciso entender, por exemplo, o que faz com que as manifestações da Covid longa sejam tão diversas. Assim, para os cientistas, essa variedade pode estar relacionada com os órgãos mais afetados durante a infecção pelo coronavírus: pacientes que tiveram comprometimento do pulmão, por exemplo, seriam mais suscetíveis a apresentar falta de ar como sintoma pós-Covid.

Ausência de conclusões científicas

Pacientes se unem para tentar buscar alternativas nas redes sociais ao notar a falta de pesquisas científicas sobre o tema. No Brasil e no exterior, pipocam fóruns para discutir os sintomas da Covid longa, como o grupo “Covid 19 – Sintomas Persistentes Brasil”, que reúne mais de 4 mil pessoas no Facebook. Outros grupos, em inglês, somam mais de 90 mil participantes.

Nesses fóruns, são comuns os relatos de pessoas que não conseguiram tratamentos bem-sucedidos para apaziguar seus sintomas. “Estou desesperada, já não consigo fazer mais nada, tá difícil viver, trabalhar, sair”, relata uma usuária em um dos grupos.

“Tive Covid-19 há dois anos e tenho sintomas até hoje. Lapso de memória, falta de ar e dor no corpo, e isso depois de uma série de exames e vitaminas”, diz outra participante do grupo.

Portanto, a melhor forma de evitar os impactos da covid longa é investir em pesquisas científicas que ajudem a explicar a síndrome. “Eu realmente acho que o financiamento e o investimento em pesquisa, vigilância e tratamento agora podem evitar custos muito maiores no futuro”, avalia a diretora da OMS.

“A triste realidade é que o que não se mede é invisível, e a última coisa que queremos é ter milhares ou milhões de pessoas doentes em nossa sociedade e não saber nada sobre elas”, completa Muscat.

Fonte: Agência Einstein.

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