HTLV: vírus da mesma família do HIV pode causar diversas complicações
Muito se fala sobre o HIV, mas poucas pessoas conhecem o HTLV, um vírus que pertence à mesma família do causador da AIDS. De acordo com o Instituto Aggeu Magalhães da Fiocruz, estima-se que há entre 800 mil e 2,5 milhões de pessoas infectadas no Brasil. No entanto, a entidade alerta que esses números podem ser mais altos, pois uma parcela da população desconhece o diagnóstico. A Vitat consultou João Prat, infectologista da da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo para esclarecer todas as dúvidas sobre o vírus. Confira!
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O que é o HTLV?
O HTLV é a sigla para Human T Lymphotropic Virus. Na prática, esse micro-organismo é um retrovírus que infecta as células T do organismo (linfócitos), responsáveis pela defesa do sistema imunológico.
Qual a diferença entre os vírus HTLV e HIV?
Prat explica que ambos são da família retroviridae e afetam as células de defesa do nosso corpo. No entanto, a forma de atuação desses vírus é diferente. “Enquanto o HIV destrói o sistema imunológico que leva à imunodeficiência, o HTLV se integra ao gene das células e pode ficar ‘dormindo’ por anos no organismo”, esclarece. Dessa forma, cada vírus gera um efeito no organismo. Na infecção pelo HIV, que causa a AIDS, a imunidade fica enfraquecida, e a pessoa pode falecer por diversos motivos — inclusive por uma gripe. Afinal, o corpo torna-se incapaz de combater qualquer ameaça. Por sua vez, o HTLV age de forma mais imprevisível: ou ele permanece inativo sem manifestar sintoma algum; ou pode provocar enfermidades graves que falaremos no próximo tópico.
Sintomas e complicações
O HTLV possui os tipos 1 e 2, cada qual responsável por uma complicação no organismo, que são:
Leucemia ou linfoma: causada pelo HTLV-II, a doença é um câncer extremamente maligno, que ataca os glóbulos brancos (leucócitos) do sangue. Os sintomas iniciais podem ser perda súbita de peso, fadiga, dores musculares, manchas avermelhadas na pele e inchaço dos gânglios.
Paraparesia espástica tropical: consequência do tipo 1, o vírus faz com que os linfócitos ataquem o sistema neurológico. Como resultado, a pessoa fica paraplégica. A princípio, o indivíduo pode sentir formigamento e fraqueza nas pernas, dores na panturrilha e na lombar, além de incontinência urinária. Estes sinais podem evoluir lentamente ou de forma súbita, causando a perda dos movimentos dos membros inferiores.
Vírus misterioso
Segundo João Prat, não dá para saber se os vírus ficarão em silêncio ou se irão se manifestar na forma dessas doenças. “A pessoa adoece por uma das enfermidades, nunca ambas. No entanto, o grande problema é que é difícil prever quem vai ter o que. Você pode carregar o vírus pela vida toda e não ter nada, ou só descobrir quando apresentar algum sintoma”, explica. Embora as duas condições sejam agressivas, a incidência delas é baixa: de 5 a 10% das pessoas com HTLV desenvolvem uma delas. O restante convive com o vírus adormecido por toda a vida.
Formas de transmissão do HTLV
De forma geral, uma pessoa se contamina por meio das relações sexuais, ou via vertical — quando a mãe transmite para o bebê durante a amamentação. Na avaliação do especialista, estas são as duas principais maneiras de transmissão do HTLV. “Há uma outra mais incomum, que é por meio da transfusão de sangue que possui o vírus”, acrescenta Prat.
Diagnóstico
A maneira de descobrir o vírus é a mesma do HIV: sorologia e dosagem da carga viral. Além disso, se houver algum sintoma relacionado à infecção, o médico solicitará outros tipos de exame laboratoriais e de imagem.
Tratamento do HTLV
As linhas de cuidado dependem da doença. “Para leucemia, a quimioterapia é o tratamento convencional para enfrentá-la. Além disso, pode envolver algumas terapias virais em estágios específicos. Já no caso da paraparesia espástica tropical, existem remédios imunossupressores e a administração de corticoides para melhorar os movimentos. Portanto, se o diagnóstico for precoce, há menos chances de sequelas”, comenta Prat.
Como se prevenir
O Ministério da Saúde recomenda o uso de preservativo durante o sexo, seja com penetração ou oral, e não dividir seringas, agulhas ou objetos de uso pessoal, como o alicate de cutícula. Além disso, é importante fazer check-ups gerais periódicos para monitorar a saúde e identificar a presença do HTLV e outros tipos de vírus. Principalmente as futuras mamães, que devem ir a todas as consultas pré-natal e fazer os exames indicados pelo médico.
Fonte: João Prats, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; Referências: Fiocruz; e Ministério da Saúde.