Gonorreia: tudo sobre a infecção sexualmente transmissível
A gonorreia é um infecção sexualmente transmissível (IST) que possui diversos nomes: pingadeira, blenorragia, uretrite gonocócica, esquentamento etc. Apesar das diversas nomenclaturas, trata-se do mesmo problema, cuja transmissão ocorre pela bactéria Neisseria gonorrheae (conhecida por gonococo) e causa uma série de inflamações e desconfortos em diversas áreas, inclusive nas genitais.
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O que é a gonorreia?
Ao contrário do que se pensa, a gonorreia não atinge apenas os órgãos sexuais, mas outras regiões do corpo. “Geralmente é possível ter manifestações da doença na garganta e nos olhos, que pode levar à faringite e conjuntivite, respectivamente”, explica Ingrid Cotta. Inclusive, há riscos da mãe contaminar o bebê durante o parto, e causar o potencial comprometimento da visão infantil. Mas a princípio, a gonorreia desencadeia inflamações na uretra masculina e feminina, no colo do útero e no ânus.
Formas de transmissão
Por se tratar de uma IST, a gonorreia é transmitida por meio da relação sexual desprotegida com uma pessoa portadora da bactéria gonococo. Homens e mulheres podem ser vítimas, e o risco de infecção é de 50% por ato sexual, alega Ingrid Cotta, infectologista da BP – a Beneficência Portuguesa de São Paulo. Portanto, todo tipo de sexo — anal, oral e vaginal — é porta de entrada para a bactéria, se não houver uso de preservativo.
Sintomas da gonorreia
De acordo com a infectologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, os sinais são determinados pelos locais primários da infecção. Por exemplo, se a infecção for na uretra, a pessoa terá uma uretrite, que tem como sintomas dor ao urinar, sensação de pesar sobre a pelve e de bexiga cheia, corrimento excessivo de coloração amarelada ou esverdeada e dor ao ter relações sexuais.
Também pode atingir o colo do útero feminino e provocar os mesmos desconfortos, além de sangramento fora do ciclo menstrual feminino. Caso seja no ânus, pode causar coceira e irritação, além de dor ao evacuar e sangramentos; se a infecção atingir o ânus masculino, existe o risco da inflamação alcançar a próstata. “Por isso que a pessoa precisa buscar ajuda médica para evitar a ascensão da bactéria”, alerta Ingrid.
Ao atingir a garganta, o indivíduo sente dor, dificuldade para engolir, inchaço e febre, que são sintomas típicos da faringite; se a bactéria afetar os olhos, há coceira incômoda, inchaço ocular, vermelhidão e secreção na região.
Diferenças entre gonorreia feminina e masculina
Às vezes a gonorreia entre mulheres é mais discreta, com sintomas menos evidentes — e muitas sequer desconfiam que estão infectadas e só descobrem o diagnóstico durante uma consulta de rotina com o ginecologista. Já os homens sofrem um pouco mais com os sintomas. “Há a possibilidade da inflamação causar estreitamento no canal da uretra e dificultar a saída de urina. Como resultado, ocorrem as infecções urinárias que são igualmente desconfortáveis e perigosas”, explica a infectologista.
O que acontece se a gonorreia não for tratada?
Como toda infecção, há muita chances da bactéria se espalhar para outros órgãos. Tanto homens quanto mulheres podem se tornar inférteis, pois a doença atinge testículos e epidídimo (homens); e útero e ovários (mulheres), causando inflamação severa. Além disso, as mulheres ficam mais suscetíveis a uma infecção generalizada na pélvis chamada peritonite, que pode levar à morte. Em outras regiões, como nos olhos, é capaz de causar cegueira, sobretudo em bebês recém-nascidos; e complicações na saúde vocal e bucal, em caso de faringite.
Como descobrir se tenho gonorreia?
À primeira vista, existem diversas formas de identificar o quadro de gonorreia, mas você precisa ir ao ginecologista ou urologista para relatar os sintomas. Se estiver sentindo muito desconforto, inclusive nos olhos e na garganta, o ideal é procurar um hospital com pronto atendimento. Para a detecção da bactéria podem ser solicitados:
- Coloração de Gram: coleta de fluidos em geral.
- Exames de cultura de bactérias: retirada de amostras de secreção dos órgãos sexuais ou da garganta. Demora entre 24h e 72h para ficar pronto.
- PCR: comumente utilizado em indivíduos assintomáticos e são mais práticos. Para a análise, basta uma amostra de urina.
- Papanicolau: exame de rotina aplicado em mulheres.
- Exames para outras ISTs: são indicados para checar a presença de uma ou mais infecções. As coletas podem ser de sangue ou urina.
Tratamento
A prescrição geral é o uso de antibióticos de acordo com a região acometida e gravidade do quadro. Para tal, é preciso avaliar todos os sintomas e exames para checar outros possíveis focos de infecção. Atualmente, os antibióticos mais utilizados são ceftriaxona e azitromicina em dose única aplicada pelo médico. “Além do tratamento individual, é essencial que o parceiro sexual seja avisado, mesmo que seja mais de uma pessoa, para que todos possam evitar relações sexuais até que sejam tratados”, avisa Ingrid. Em contrapartida, a boa notícia é que o tratamento contra a gonorreia e outras ISTs estão disponíveis de forma gratuita, via Sistema Único de Saúde (SUS).
Perguntas frequentes
Quanto tempo demora para aparecerem os sintomas da gonorreia?
O período de incubação da bactéria gonococo é de aproximadamente 7 dias. Logo depois os sintomas podem se manifestar, sobretudo entre homens — as mulheres precisam ficar mais atentas, pois os sinais são mais silenciosos.
Afinal, posso ter relações sexuais com proteção durante o tratamento?
Só após 7 a 10 dias a partir do término do tratamento, mesmo se não houver sintomas. Afinal, esse é o tempo que os medicamentos precisam para agir no combate à proliferação das bactérias. Ainda que os sintomas desapareçam após 3 ou 5 dias de tratamento, é importante seguir a recomendação dada pelo seu médico.
Crianças podem ter gonorreia?
Sim, por meio da contaminação durante o parto. Logo após o nascimento, faz parte da rotina médica instilar um colírio que previne a proliferação de bactérias, mas pode acontecer de o bebê apresentar os sintomas da conjuntivite gonorreica, que deixa os olhos vermelhos, inchados e com secreção. Assim, é importante que a mãe ou responsável perceba esses sinais, pois o bebê necessita de tratamento médico urgente para conter possíveis complicações.
Grávidas correm riscos se contraírem gonorreia?
Qualquer tipo de infecção durante a gravidez pode apresentar um risco, pois existe a probabilidade de aborto espontâneo, parto prematuro e complicações de saúde para o bebê (como a conjuntivite gonorreica). Portanto, é fundamental comparecer em todas as consultas pré-natal e buscar auxílio médico se existir qualquer desconforto.
Gonorreia tem cura?
Se o tratamento for seguido rigorosamente, os sintomas irão desaparecer e a infecção desaparecerá. Contudo, infecções que avançam para outros órgãos são mais difíceis de serem tratadas e podem haver sequelas.
Tenho apenas uma companhia para relações sexuais. Corro o risco de contrair gonorreia?
Antes de mais nada, não importa a quantidade de pessoas parceiras sexuais, pois basta uma relação sexual sem proteção com um único indivíduo para a infecção pela bactéria da gonorreia. Dessa forma, sempre faça sexo com preservativo para evitar o problema e outros tipos de ISTs ainda mais graves, como a AIDS.
Links úteis
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia – Febrasgo
Ministério da Saúde – panorama de ISTs
Fonte: Ingrid Cotta, infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.