Febre reumática pode ser fatal e é causada por condição inusitada; entenda

Saúde
12 de Abril, 2022
Febre reumática pode ser fatal e é causada por condição inusitada; entenda

Embora muitas pessoas desconheçam seus riscos, a febre reumática é uma condição inflamatória capaz de atingir pessoas de todas as idades, mas que tem crianças e jovens como principais alvos. Tudo pode começar por uma infecção na garganta sem tratamento adequado, normalmente provocada pela bactéria Streptococus Beta Hemolítico (estreptococo). Como resultado, o indivíduo pode ter complicações nas articulações, sistema cardiovascular e cérebro.

Leia também: Doenças respiratórias aumentam riscos de problemas no coração

Sintomas da febre reumática

Ao contrário do que o nome sugere, a febre reumática não necessariamente tem a febre como sinal da doença. A enfermidade possui os mesmos sintomas de uma infecção bacteriana na garganta, como dor, dificuldade para engolir, vermelhidão intensa e placas de pus na mucosa. Outra evidência são os gânglios aumentados e a persistência dos sintomas, que é determinante para a evolução da febre reumática. Caso a infecção bacteriana pelo estreptococo se estenda por mais de uma semana sem o devido tratamento, há chances de contrair a febre reumática, que desencadeia outros tipos de doença.

Doenças causadas pela febre reumática

Antes de mais nada, é importante destacar que a febre reumática não é comum a qualquer indivíduo com uma infecção bacteriana mal tratada. Apesar de ser um requisito importante para a doença, há outros fatores que importam no desenvolvimento da doença, sobretudo a predisposição genética.

Ou seja, a tendência a contrair a febre reumática é herdada dos pais, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia. Por isso, muitas crianças enfrentam diversos episódios de infecção de garganta, mas sequer correm o risco de adquirir as complicações pela febre reumática. Porém, caso haja predisposição, a febre reumática é potencialmente perigosa, pois acarreta em algumas doenças. Por exemplo:

Valvopatias

São o desgaste das válvulas cardíacas, que normalmente é um processo natural de envelhecimento. No entanto, a febre reumática acelera esse desgaste. Os mais comuns são a estenose aórtica e a insuficiência mitral. Os principais sintomas para essas doenças nos idosos são a falta de ar (dispneia) e cansaço.

Nos casos de estenose aórtica, há também a dor no peito e a síncope (desmaios). “É preciso ter muita atenção porque os sintomas das doenças cardíacas em idosos podem se confundir com o envelhecimento natural. As pessoas acreditam que o cansaço e a falta de ar são indícios da idade e acabam não procurando atendimento médico. Nesses casos, é fundamental o diagnóstico precoce, para evitar o agravamento da valvopatia”, destaca a presidente do LAL – Instituto Lado a Lado pela Vida.

Cardite

É o comprometimento do coração, que fica com as três camadas inflamadas — membrana de revestimento do órgão, músculos e tecido que recobre as válvulas. Os principais sinais dessa inflamação são identificados por meio do aumento da frequência cardíaca, que acelera com o mínimo esforço, além de cansaço e presença de sopro cardíaco (detectado por meio de exames).

Artrite

A inflamação das articulações causa dor intensa, dificuldade ao caminhar e inchaço. Normalmente as articulações mais prejudicadas são as dos joelhos e tornozelos, que podem se “revezar” nas crises de dor.

Coreia reumática de Sydenham

Afeta o sistema neurológico e a coordenação motora. Atinge mais crianças e tem como sintomas fraqueza nos membros superiores e inferiores, alterações no humor (a criança fica mais sensível) e instabilidade nos movimentos.

Diagnóstico da febre reumática

A princípio, a identificação da doença pode ser feita por um médico clínico geral, pediatra (se a vítima for uma criança), reumatologista, cardiologista ou neurologista. Para diagnosticar a enfermidade, são analisados os sintomas, histórico do problema (há quanto tempo a infecção da garganta e os desconfortos persistem) e os resultados dos exames solicitados, que podem ser:

  • VHS: velocidade de hemossedimentação.
  • Proteína C reativa.
  • Alfa glicoproteína.
  • Antiestreptolisina (ASLO).
  • Testes cardíacos, como ecocardiograma e eletrocardiograma.

Tratamento

Logo após o diagnóstico, o médico recomendará anti-inflamatórios e injeção de penicilina benzatina em intervalos de até 21 dias. Em contrapartida, a duração do tratamento dependerá da gravidade das complicações, principalmente se atingiram o coração. É importantíssimo que o tratamento não sofra interrupções ou atrasos, pois qualquer tipo de negligência poderá provocar sequelas cardíacas irreversíveis.

Infelizmente se a lesão for gravíssima, pode exigir cirurgias e tratamentos contínuos que irão comprometer a qualidade de vida do indivíduo. Dessa forma, é essencial buscar ajuda médica logo nos primeiros sinais de infecção bacteriana. Assim, evita-se a progressão da inflamação e da febre reumática.

Como se prevenir

Não há como controlar o surgimento da complicação, pois qualquer infecção bacteriana pode evoluir para a febre reumática se o indivíduo tiver predisposição genética. Por outro lado, é possível reduzir as chances de infecção com o sistema imunológico fortalecido por meio de alimentação e estilo de vida saudáveis. Como as crianças são mais propensas ao quadro, é importante cuidar da rotina fora de casa. Ou seja, evitar que as crianças compartilhem alimentos e talheres com outras na escolinha e isolar o contato de crianças possivelmente infectadas são algumas ações que podem minimizar a infecção bacteriana.

Febre reumática no Brasil e no mundo

  • A doença afeta mais de 40 milhões de pessoas no mundo, e causa mais de 300 mil mortes ao ano.
  • A incidência no Brasil é de cerca de 30 mil casos de febre reumática por ano, e afeta principalmente crianças e jovens que vivem em regiões de baixa renda e dependem do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Marlene Oliveira, presidente do LAL,a falta de informação e de tratamento continuado são os principais motivos para o desenvolvimento da enfermidade.
  • De acordo com o SUS, de 2008 a 2015, foi registrado um total de 26.054 hospitalizações, devido a casos agudos de febre reumática e 54% dessas, com comprometimento cardíaco. Quase metade das cirurgias cardíacas abertas no país, feitas pelo sistema público, está relacionada à doença.

Instituto Lado a Lado pela Vida

Biblioteca de saúde do Ministério da Saúde

Sociedade Brasileira de Pediatria

Sociedade Brasileira de Reumatologia

Sobre o autor

Amanda Preto
Jornalista especializada em saúde, bem-estar, movimento e professora de yoga há 10 anos.

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