Dúvidas sobre epilepsia: especialista responde as principais

Saúde
25 de Março, 2022
Dúvidas sobre epilepsia: especialista responde as principais

A epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro que são recorrentes e geram as crises epilépticas. Em cerca de 70% existe um controle da doença. No entanto, ainda existem muitas dúvidas sobre a epilepsia.

De acordo com o Dr. Ricardo Santos de Oliveira, neurocirurgião pediátrico, a principal característica de quem tem epilepsia é a presença de crises epilépticas repetidas. Porém, a pessoa pode ter uma crise epiléptica (convulsiva ou não) e não ter o diagnóstico de epilepsia. Assim, confira agora as respostas do especialista sobre as dúvidas em relação ao tema.

Leia mais: Epilepsia: conheça os sintomas e tratamentos da doença neurológica

Mitos e dúvidas sobre epilepsia

A epilepsia é uma doença mental?

Não! A epilepsia é uma doença neurológica. Em casos graves, e principalmente quando a epilepsia ocorre na população pediátrica, antes dos dois anos de idade, o risco de atraso mental é maior. Além disso, toda convulsão é uma crise epiléptica, mas além da convulsão existem várias formas de crises epilépticas. Assim, na convulsão, o paciente apresenta movimentos grosseiros de membros, desvio dos olhos, liberação de esfíncteres e perda de consciência. Um exemplo comum de crise epiléptica não convulsiva é a crise de ausência.

A epilepsia é uma doença contagiosa?

A epilepsia é uma doença neurológica não contagiosa. Portanto, qualquer contato com alguém que tenha epilepsia não transmite a doença.

Uma crise convulsiva define a epilepsia?

A epilepsia é uma doença frequente que acomete cerca de 1 a 2% da população geral. Já a convulsão, por sua vez, é um tipo de crise epiléptica que acontece quando um agrupamento de células cerebrais se comporta de maneira anormal. Dessa forma, um único episódio não indica que a pessoa tenha epilepsia – muito embora a consulta com um especialista seja necessária – e a doença não implica obrigatoriamente em ter distúrbios de comportamento.

Porém, algumas situações podem predispor o aparecimento de uma crise convulsiva, tais como febre, estresse, drogas ou distúrbios metabólicos, privação de sono, estímulos visuais excessivos, entre outros. Existem várias formas de epilepsia em crianças e nas emergências pediátricas é comum observar a convulsão febril, que costuma ter evolução benigna. Essa chamada epilepsia benigna da infância pode acontecer desde a idade pré-escolar até a adolescência. As crises com breves paradas comportamentais sem evento motor nítido, exemplificam formas comuns de epilepsia na infância

“O paciente pode dirigir?” é uma das principais dúvidas sobre epilepsia

De acordo com a Associação Brasileira de Educação de Trânsito, o paciente com epilepsia que se encontra em uso de medicação antiepiléptica poderá dirigir se estiver há um ano sem crise epiléptica – dado que deve ser apresentado através de um laudo médico. Além disso, caso o paciente esteja em retirada da medicação antiepiléptica, ele poderá dirigir se estiver há, no mínimo, dois anos sem crises epilépticas e ficar por mais seis meses sem medicação e sem crise. Entretanto, a direção de motocicletas é proibida.

A epilepsia tem cura?

Sim! Existem várias medicações que são indicadas de acordo com o histórico de cada paciente, mas nos casos de epilepsia grave e que não responde ao tratamento clínico, o paciente pode precisar da cirurgia. A boa notícia é que a tecnologia avançada tem permitido um melhor diagnóstico, por isso, o tratamento medicamentoso e cirúrgico têm sido cada vez mais seguros e com melhores resultados.

No entanto, existem situações em que a crise convulsiva ocorre de forma inédita num paciente adulto ou pediátrico, podendo estar associada a um tumor cerebral. O uso de tecnologias avançadas como a neuronavegação e a monitorização intraoperatória, por exemplo, permitem cirurgias mais seguras.

Em outros casos, chamados de epilepsia refratária, observamos uma continuidade das crises convulsivas apesar da medicação. Estes pacientes devem ser avaliados numa unidade especializada em cirurgia de epilepsia na tentativa de correlacionar uma região do cérebro (foco) com a origem da epilepsia.

Dúvidas sobre epilepsia

  • Como usar a medicação?

Os remédios para epilepsia são controlados e o paciente deve sempre fazer acompanhamento médico para avaliar possíveis efeitos colaterais erroneamente atribuídos ao tratamento. A dose da medicação nunca deve ser alterada por conta própria.

  • Tenho epilepsia. Meu filho também vai ter?

Essa é uma das principais dúvidas sobre epilepsia. Vale lembrar que cerca de 4% das pessoas já apresentaram pelo menos uma crise convulsiva na vida, mas isso não significa que tenham epilepsia. Pai ou mãe que tem epilepsia não significa que o filho também terá, pois a maioria das doenças que cursam com epilepsia não são hereditárias.

  • Como ajudar alguém que esteja em crise epiléptica?

É importante tentar proteger a cabeça da pessoa para evitar um traumatismo, e virar o rosto dela de lado para eliminar o acúmulo de saliva e impedir a asfixia com o próprio vômito. Não se deve segurar a língua do paciente, sob o risco de tomar uma mordida, ou colocar objetos na boca, como uma colher. Se a crise estiver durando mais de 5 minutos, é indicado chamar uma ambulância, o mesmo deve ser feito se a pessoa demorar a recobrar a consciência.

“O paciente com epilepsia pode ter uma vida normal. Além disso, desde que controlados, podem e devem ser inseridos completamente na sociedade, ou seja, devem trabalhar, estudar, praticar esportes, se divertir”, finaliza Dr. Ricardo Oliveira.

Leia mais: Doença de Parkinson: tudo sobre a condição e seus cuidados

Fonte: Dr. Ricardo de Oliveira, médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Também é docente credenciado do Departamento de Cirurgia e Anatomia da pós-graduação e tem experiência com ênfase em Neurocirurgia Pediátrica e em Neuro-oncologia.

Sobre o autor

Fernanda Lima
Jornalista e Subeditora da Vitat. Especialista em saúde

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