Desafios do puerpério: nasce um filho, surge uma mãe

Gravidez e maternidade Saúde
09 de Maio, 2024
Desafios do puerpério: nasce um filho, surge uma mãe

Quando uma mulher dá à luz uma criança (principalmente se for a sua primeira vez), acontecem dois nascimentos: o do bebê, que está vindo ao mundo, e o da mãe, que precisa agora se enxergar como tal. Essa fase, repleta de desafios e novidades, é conhecida como puerpério.

A modelo e apresentadora Júlia Pereira conhece bem a sensação. Mãe de Suzanne e, mais recentemente, de Camille, ela conta que não tinha noção do que é passar pelo puerpério antes de vivenciá-lo.

“Com a Suzanne, minha filha mais velha, foi bem difícil porque era época de pandemia. Então todas aquelas incertezas, unidas ao fato de não podermos sair de casa, dificultaram bastante. Você precisa aprender a se doar 100%, não tem mais tempo para tomar banho, comer e outras coisas básicas da mesma maneira que tinha antes”, lembra Júlia.

Leia também: Maternidade atípica: Quem cuida do cuidador?

Desafios do puerpério

As mudanças não acontecem apenas na rotina. A Dra Ana Carolina Romanini, ginecologista da Clínica Ginelife, explica que no puerpério, o corpo da mulher também passa por diversas transformações fisiológicas na tentativa de voltar ao que era antes da gestação.

“Nesse período, ocorrem inúmeras alterações anatômicas, hormonais, psicológicas e emocionais, sendo comuns sintomas como ansiedade, insônia, cansaço, medo e oscilações de humor”, afirma a especialista.

Há, por exemplo, uma queda abrupta de hormônios como estrogênio e progesterona (que eram produzidos em grande quantidade na gravidez). Eles dão lugar a outras substâncias importantes para a amamentação. Todas essas características podem levar ao chamado baby blues, sentimento de tristeza muito comum no puerpério – e que, se não observado de perto, pode até evoluir para uma depressão pós-parto.

Foto por Aline Vogel

Foto por Aline Vogel

Felizmente, não foi o caso de Júlia Pereira. Mas a modelo relata outras dificuldades que também acometem muitas recém-mamães. “A questão da amamentação é muito difícil e, ao mesmo tempo, uma conexão inexplicável e maravilhosa com o bebê. Foram 20 dias de dor, depois disso começou a melhorar. E com a ajuda de consultores de amamentação, porque sozinha teria sido bem mais difícil. Assim, eu consegui amamentar a minha primeira filha por um ano e oito meses.”

Além disso, Júlia afirma ter sentido falta das noites de descanso ininterrupto. “Para mim, a pior parte do puerpério é a privação de sono, porque se você está descansada, você enfrenta tudo no dia seguinte, mas não estando, todo o funcionamento do corpo muda.”

Leia também: Luto pela vida sem filhos: um olhar de mãe para a mulher

Importância da rede de apoio

Júlia e suas duas filhas

Júlia e suas duas filhas

Por isso, quando engravidou pela segunda vez, a apresentadora decidiu se preparar para deixar a situação mais leve. Sem a pandemia de coronavírus, ela também se sentiu mais confiante.

O seu primeiro passo, então, foi organizar e acionar previamente uma rede de apoio. Afinal, agora ela precisaria dividir seu tempo entre as duas filhas. “A primeira, de três anos e quatro meses, também requer muita atenção e cuidado. Então, nos momentos que eu ia amamentar, ela também queria estar junto. O trabalho passou a ser dobrado, por isso organizei essa rede de apoio fundamental.”

Nem todas as mulheres conseguem contar com a ajuda de amigos, familiares e profissionais durante o puerpério. Contudo, o psicólogo Alexander Bez, especialista em saúde mental, explica que esse tipo de suporte traz mais bem-estar.

“A rede de apoio é fundamental para a mãe. Da mesma forma que quem está em volta precisa saber dar esse apoio”, ressalta. Segundo ele, a pessoa que se dispõe a estar do lado da nova mãe deve:

  • Respeitar o espaço da mulher;
  • Entender que ela precisa desse período de adaptação – que é psicológica, hormonal e física;
  • Oferecer tranquilidade à mãe e ao bebê para que manifestações de ansiedade não sejam recorrentes;
  • Não pressionar a mulher com cobranças e visitas frequentes;
  • Se puder, auxiliar na alimentação e nutrição da mãe;
  • Estar, de fato, presente para escutar possíveis queixas e inseguranças;
  • Evitar críticas, optando por fazer comentários mais construtivos;
  • Tentar proporcionar conforto generalizado.

Leia também: Puerpério: o que é, quais as suas fases e cuidados

Autocuidado

Um hábito que Júlia Pereira não abre mão é a prática de exercícios físicos. Ela tenta encaixar os treinos dentro da agenda apertada de mãe e sente que eles contribuem não apenas para a autoestima, mas também para a sensação de felicidade.

A médica Fernanda Nichelle conta que adicionar “pílulas” de autocuidado na rotina pode fazer toda a diferença para a autoestima e para o autoconhecimento da mulher. Se for possível, investir em cuidados com os cabelos e a pele (que podem sofrer com queda, acne e melasma), pode influenciar positivamente a experiência do puerpério. “Principalmente nesse período, é importante que ela tenha cuidados com a sua pele e com seu cabelo, porque impactam muito a vida da mulher.”

A ginecologista Dra Ana Carolina Romanini concorda. “É importante que a puérpera possa fazer algo que não esteja relacionado à maternidade, como tomar um banho mais demorado ou fazer as unhas. E entenda que é uma fase.”

“Eu não estou produzindo tanto profissionalmente, mas sei que é um período que elas precisam de muita atenção. Todos esses desafios são passageiros, o amor que tenho por minhas filhas supera tudo. O cuidado e união que tenho com elas é muito especial”, complementa a modelo.

Leia também: Parto humanizado ‘fura bolha’ e ganha cada vez mais espaço em maternidades e hospitais

Desafios do puerpério: quando procurar ajuda profissional?

É necessário seguir com as consultas de rotina após o parto. Isso porque o obstetra consegue avaliar tanto o estado físico da puérpera, quanto o emocional. Assim, se ele achar necessário, pode encaminhar a paciente para outro profissional.

A família e os amigos também precisam ficar atentos a alguns sinais. Dra Ana Carolina Romanini explica que à medida que a rotina com o bebê vai se estabelecendo, sensações como angústia e medo tendem a diminuir. “Porém, se elas persistirem por mais tempo ou se a mulher apresentar sentimentos de rejeição do bebê, as pessoas ao redor devem estar atentas para orientá-la a procurar ajuda especializada”, recomenda.

Fontes: Júlia Pereira, apresentadora e modelo; Dra Ana Carolina Romanini, ginecologista da Clínica Ginelife; Alexander Bez, psicólogo especialista em saúde mental; e Fernanda Nichelle, médica especialista em beleza e saúde da pele.

Sobre o autor

Amanda Panteri
Jornalista e repórter da Vitat. Especialista em alimentação saudável.

Leia também:

chás para desintoxicar o fígado
Alimentação Bem-estar Saúde

Como desintoxicar o fígado? Veja 5 melhores opções de chá

Confira as opções de bebidas quentes que trazem benefícios para a saúde hepática

homem sentado na cama, ao lado da cabeceira, com as mãos na cabeça, tendo dificuldade para dormir
Bem-estar Saúde Sono

Problemas para dormir? Estudo relaciona a qualidade do sono com condições crônicas

A irregularidade do sono está diretamente relacionada ao risco aumentado de doenças crônicas, como obesidade.

bruxismo
Saúde

Bruxismo: será que você tem? Veja principais tratamentos

Bruxismo, o ato involuntário de ranger os dentes, pode afetar até quem não imagina conviver com ele. Veja como descobrir se é o seu caso