Qual a relação entre dermatite herpetiforme e doença celíaca? Dermatologista explica
A presença de coceira persistente, vesículas e bolhas com áreas avermelhadas na pele pode sugerir um quadro de dermatite herpetiforme, uma condição autoimune frequentemente associada à doença celíaca. Mas afinal, qual é a relação?
De acordo com o médico dermatologista José Roberto Fraga Filho, ambas as doenças compartilham da mesma causa: reação autoimune ao glúten.
No entanto, enquanto a doença celíaca manifesta sintomas intestinais, a dermatite herpetiforme gera erupções cutâneas na pele. “O glúten é uma proteína encontrada no trigo centeio e cevada. Esse grupo de pacientes apresenta uma condição genética semelhante”, complementa o especialista.
Entenda a seguir o que acontece, como identificar as doenças e o tipo de tratamento da dermatite herpetiforme e doença celíaca.
Dermatite herpetiforme e a doença celíaca: o que acontece?
Quando o paciente com sensibilidade consome o glúten, o mesmo é decomposto em uma série de substâncias. Uma delas é a gliadina, que desencadeia uma produção de anticorpos (principalmente da classe IgA) direcionadas contra o organismo.
Em pessoas com doença celíaca, o sistema imunológico direciona essa resposta anormal ao intestino delgado — o que inflama e danifica as vilosidades intestinais, dificultando a absorção de nutrientes.
Já na dermatite herpetiforme, a reação autoimune gera erupções cutâneas com bolhas avermelhadas e coceira intensa, normalmente em áreas como cotovelos, joelhos, nádegas e costas.
É importante destacar que nem todas as pessoas com doença celíaca desenvolvem hepatite herpetiforme. Em alguns casos, dermatite herpetiforme pode ser observada como o primeiro indicativo de problemas no intestino delgado ou até mesmo como o único sintoma visível da condição.
Ou seja, algumas pessoas podem não apresentar outros sintomas típicos da doença celíaca, como desconfortos abdominais, diarreia ou perda de peso.
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Afinal, como identificar?
Antes de mais nada, a dermatite herpetiforme e a doença celíaca podem apresentar sintomas menos específicos ou semelhantes com outras condições. Dessa forma, são necessários testes específicos para confirmação do quadro.
No caso de dermatite, por exemplo, o dermatologista José Roberto explica que é indicado uma biópsia cutânea com imunofluorescência direta, em cujas amostras os médicos encontram tipos e padrões específicos de anticorpos. Ademais, o médico pode solicitar uma pesquisa de anticorpos no sangue.
Por outro lado, em quadros de doença celíaca, além dos sintomas apresentados, uma colonoscopia com biópsia da região afetada ajuda a confirmar o diagnóstico. Além disso, a medição do número de anticorpos específicos produzidos quando uma pessoa com doença celíaca consome glúten é um exame útil.
Dermatite herpetiforme e doença celíaca: como é feito o tratamento?
A principal abordagem de tratamento da dermatite herpetiforme e da doença celíaca é a mesma, e consiste em evitar por toda a vida alimentos que contenham glúten. Por exemplo, pães, cereais, bolos, pizzas e outros produtos alimentícios, ou aditivos que contenham trigo, centeio, aveia e cevada.
Na maioria dos casos, a erupção cutânea da dermatite desaparece em poucas semanas após a adoção da dieta. Mas, nesse período, o especialista pode prescrever algum medicamento para controlar a coceira e a inflamação.
Fontes
- Dr. José Roberto Fraga Filho, médico dermatologista, membro Titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e fundador e Diretor Clínico do Instituto Fraga de Dermatologia.
Referências
- Sofa Farinha, Fátima Jordão, Elza Tomaz, Filipe Inácio. Serviço de Imunoalergologia, Hospital de S. Bernardo, Centro Hospitalar de Setúbal, EPE. Dermatite herpetiforme. Caso clínico. REVISTA PORTUGUESA DE IMUNOALERGOLOGIA. 2018. Disponível em: https://www.spaic.pt/client_files/rpia_artigos/dermatite-herpetiforme-caso-clinico.pdf
- Manual MSD | Versão Saúde para Família
- Ministério da Saúde