Atividade física pode intensificar resposta de vacinas contra covid
Um estudo conduzido pela USP mostrou que a prática de atividade física regularmente está associada ao aumento da resposta imunológica à vacina contra covid-19. O achado é fundamental, já que as vacinas tendem a diminuir a eficácia com o passar do tempo.
A pesquisa investigou a associação entre a prática e anticorpos anti-Sars-CoV-2 persistentes, seis meses após esquema de duas doses de Coronavac em pacientes com doenças reumáticas autoimunes (artrite reumatoide, lúpus, esclerose sistêmica, miopatias inflamatórias, entre outras).
Assim, os dados foram divulgados na plataforma Research Square, ainda sem revisão por cientistas externos. Os resultados mostraram que pacientes com doenças reumáticas autoimunes que praticavam exercícios regularmente tinham maior persistência de anticorpos por 6 meses após a segunda dose de Coronavac.
Em entrevista ao Jornal da USP, o primeiro autor do artigo, Bruno Gualano, professor do Departamento de Clínica Médica da FMUSP e especialista em fisiologia do exercício, explica que a imunogenicidade persistente (capacidade da vacina provocar resposta imune a longo prazo) dos pacientes foi avaliada seis meses após ter acontecido a vacinação completa. “Aqueles que eram fisicamente ativos exibiram taxas de soropositividade (presença de anticorpos contra o coronavírus) mais elevadas do que os inativos”, explica.
Dessa forma, na opinião do pesquisador, é fundamental reunir conhecimento sobre os fatores de risco potenciais associados à baixa persistência da imunidade. “A proposta é desenvolver estratégias para aumentar a durabilidade da imunogenicidade. Bem como priorizar os indivíduos para receber uma dose de reforço. As evidências que sugerem que a atividade física pode atuar como uma espécie de adjuvante das vacinas são de extrema importância”, reforça.
Redução de anticorpos com as vacinas
Segundo o artigo, alguns estudos têm demonstrado que os anticorpos induzidos pela vacina contra o coronavírus diminuem com o tempo. Os anticorpos neutralizantes (NAb) contra a variante Beta, por exemplo, foram reduzidos consideravelmente seis meses após o recebimento da segunda dose de vacinas como a Moderna e a Janssen, da Johnson & Johnson. Além disso, a resposta de anticorpos da população em geral diminuiu substancialmente seis meses após o recebimento da Pfizer Biontech. Isso principalmente entre homens, pessoas maiores de 65 anos e pacientes com imunossupressão.
A Coronavac demonstrou eficácia na prevenção de casos graves de covid-19. Entretanto, indivíduos que receberam esse esquema vacinal de duas doses também tiveram declínio em sua resposta imunológica após seis meses o ciclo completo de vacinação. No caso de pacientes com doenças reumáticas autoimunes, dados da pesquisa, mostraram o mesmo padrão de diminuição da imunidade.
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Análises de produção de anticorpos
Para avaliar a quantidade de proteção da vacina aos pacientes após seis meses de ter completado o esquema vacinal, foram feitos exames sorológicos para verificar as taxas de soropositividade – anticorpos IgG e a presença de anticorpos neutralizantes (NAb). Ou seja, indicativos de resposta humoral à vacina. Para a designação se o paciente era ativo ou inativo fisicamente foi utilizado o parâmetro da OMS. Portanto, pessoas ativas realizam alguma atividade física moderada ou vigorosa por pelo menos 150 minutos por semana.
Maior produção de anticorpos em pessoas ativas
Foram feitos ajustes para idade, sexo, uso de medicamentos e obesidade, dos 748 pacientes analisados (421 ativos e 327 inativos), seis meses após completado o esquema vacinal. Ambas as taxas de positividade de anticorpos – IgG anti-SARS-CoV-2 e neutralizantes – foram significativamente maiores para os ativos do que para os inativos. “Para cada 10 pacientes inativos que apresentaram soropositividade , 15 ativos tiveram o mesmo resultado”, aponta Gualano.
“A atividade física parece não somente montar uma resposta de anticorpos à vacina mais robusta, como também parece aumentar a durabilidade do efeito protetor do imunizante. Se isso se confirmar, teríamos uma ferramenta barata e potencialmente capaz de reduzir a baixa resposta vacinal de grupos de risco, como pessoas com sistema imune disfuncional”, diz Gualano.
Por fim, os autores recomendam a promoção clínica de atividade física. “Um estilo de vida ativo pode exercer papel crucial no combate da covid-19”, conclui o pesquisador.
Fonte: Jornal da USP