Amamentação e volta ao trabalho: como conciliar ambos?

Gravidez e maternidade Saúde
02 de Agosto, 2023
Amamentação e volta ao trabalho: como conciliar ambos?

“Até quando esse bebê vai mamar?” e “seu leite não serve mais para nada”. Essas foram algumas das frases que a técnica em ressonância magnética Grasiele Maciel, 36 anos, ouviu com a volta ao trabalho e ao seguir a amamentação da filha Marina, que na época tinha cinco meses de vida.

Como ela ficava por volta de 12 horas fora de casa se dividindo em dois trabalhos, enfrentou muita dificuldade — e preconceitos — para fazer a ordenha do leite para a filha se alimentar em sua ausência.

Ela recorda que não tinha colegas de trabalho nem amigas que amamentavam. Por isso, buscou orientação como uma consultora da amamentação. “Sabia que seria um perrengue, mas eu queria insistir. Decidi procurar ajuda com uma consultora e consegui”, conta Maciel, que amamentou a filha até dois anos e cinco meses.

Assim como ela, muitas mulheres enfrentam dificuldades para continuar com a amamentação com a volta ao trabalho. Enquanto a indicação é iniciar a introdução alimentar apenas após o sexto mês do bebê, as mães precisam retornar às atividades profissionais quando seus filhos ainda estão em aleitamento materno exclusivo.

Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, apenas 271 empresas têm sala de amamentação para que as funcionárias possam fazer a coleta e armazenamento do leite.

“Antes de mim, ninguém tinha feito isso antes, nem no hospital nem na clínica em que trabalhava. Então, não tinha local apropriado para tirar o leite e para guardar. Usava um pequeno espaço no frigobar. Depois de mim, algumas mulheres se engajaram a fazer igual. Fui suporte e apoio para muitas mulheres, e isso me motivava”, conta a mãe de Marina.

Veja também: Alimentação da mãe pode reduzir risco de asma no bebê

Extração do leite no banheiro

Assim como ela, a assistente administrativa Renata, que pediu para não divulgar seu nome completo, teve que improvisar a extração do leite no banheiro ou no corredor do trabalho. Ela conta que voltou a trabalhar quando seu filho tinha cinco meses e só tomava leite materno. “Saio de casa às 6h30 e volto às 18h. Desde a gestação, sabia que queria seguir amamentando e, se não fosse possível fazer a ordenha, eu não continuaria trabalhando”, diz.

Para Renata, informação e persistência foram essenciais durante o processo. “Eu não sabia se meus patrões iriam aceitar minha ausência durante alguns momentos para extrair o leite. Minha rotina era extrair o leite três ou quatro vezes por dia, todos os dias. Se minha chefe estava disponível para me cobrir durante minha ausência, ia ao banheiro e tirava lá o leite. Se eu estivesse sozinha, tirava no corredor, onde ninguém me via”, diz.

Existem riscos de realizar a ordenha no banheiro?

O uso do banheiro não é aconselhável e, por questões de higiene, o leite deveria ser descartado. Deveria ser feita apenas uma extração de alívio para evitar ductos entupidos e mastite (inflamação nas mamas) da lactante.

“A recomendação é desprezar esse leite, mas diante da falta de opções nas empresas, alguns pediatras permitem, desde que a lactante tome alguns cuidados de higiene”, explica Gabriela Bonente, pediatra e intensivista pediátrica do Hospital Israelita Albert Einstein.

Outra dificuldade, conta a assistente administrativa, foi o armazenamento do leite. “A gente não tem geladeira no escritório, tive que improvisar com caixas térmicas. Durante 13 meses, extraí leite para meu filho e carreguei três caixas de isopor. Umas ficavam no escritório e a outra eu trazia uma para casa com o leite”, recorda.

Hoje, com o filho com um ano e oito meses de idade, ela segue amamentando quando está em casa, mas não precisa mais extrair leite. “No começo, ele bebia muito leite. Depois, com o tempo, foi diminuindo a quantidade, porque começou a introdução alimentar. Mas a gente continua a amamentação em livre demanda quando estou em casa. E foi muito gratificante, meu bebê quase não ficou doente. Vamos colher os benefícios desse esforço por muito tempo ainda”, diz.

Como conciliar a amamentação com a volta ao trabalho?

Olga Carpi, enfermeira especializada em lactação, explica que o planejamento é essencial para as mães seguirem amamentando durante o trabalho. Ela informa que é preciso saber por quanto tempo a mãe vai ficar fora de casa, onde a criança vai ficar nesse período, se é possível voltar para amamentar na hora do almoço, etc.

“Uma vez que ela consegue mapear como vai ser esse período, precisa iniciar um processo de superestímulo da sua mama. Quanto mais essa mulher estimular a mama, drenando o leite, mais leite o corpo irá produzir, que vai formar o estoque de leite para a criança consumir na sua ausência. É o que eu chamo de rotina de extração”, diz.

Esse incentivo para produção extra de leite pode ser possível enquanto a criança está mamando. Ou seja, enquanto a criança mama em um dos seios, a bomba de leite extrai leite do outro, ou a mãe pode fazer a ordenha após a mamada.

Quando a criança termina de mamar, a bomba segue com a extração. “Recomendo para as mulheres, desde que não tenham nenhuma condição fisiológica de baixa produção de leite, que entre 30 e 40 dias antes de voltarem ao trabalho, escolham alguns horários para fazer esse estímulo”, orienta Carpi.

Como armazenar o leite materno

O leite deve ser guardado em recipientes com boa vedação, como potes de vidro e tampas de plástico. A enfermeira explica que existem sacos plásticos próprios para armazenamento de leite materno. Entretanto, não são reutilizáveis como os potes de vidro, além de serem mais caros e nocivos ao meio ambiente.

De acordo com o Ministério da Saúde, o leite humano pode permanecer na geladeira por até doze horas — no congelador, dura até 15 dias.

Para ser ofertado à criança, o leite deve ser descongelado em ambiente de geladeira e não no micro-ondas. Para aquecê-lo, a melhor técnica é a do banho-maria. “O micro-ondas pode alterar estruturas importantes do leite materno, como propriedades imunológicas”, explica a pediatra do Einstein.

Formas seguras de servir o leite materno

Preferencialmente, o leite materno deve ser servido em copos abertos, xícaras ou colheres. “Vemos muita gente utilizando copo de shot (doses) porque tem a boca pequena e é mais fácil encostar no lábio do bebê. Contudo, pode ser feito com qualquer xícara ou copo aberto”, explica Carpi. Em alguns casos, o bebê vai se adaptar melhor com copos do tipo 360.

As especialistas em lactação recomendam evitar o uso de mamadeiras. Afinal, por possuírem bicos que invadem a gengiva do bebê, podem modificar o padrão de sucção na mama, Como resultado, o bebê desaprende a mamar no seio.

Carpi explica que nem sempre o bebê vai se adaptar rapidamente às novas formas de oferta do leite materno e, por isso, é preciso ‘treinar’ o bebê para receber o leite materno de outras formas. “Ofereça no mesmo dispositivo duas ou três vezes por dia, quando o bebê não estiver com muita fome nem muito cansado”, recomenda Carpi.

 

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